TÍTULO
IV
DIARRÉIA
CAUSADA POR ESCHERICHIA COLI CID – 008.0
CODAR
– HB. ADA/CODAR 23.204
1.
Caracterização
Numerosas cepas de
Escherichia coli são encontradas como comensais, nos intestinos de pessoas
sadias, e não provocam doenças.
No
entanto, existem três tipos sorológicos de Escherichia coli, causadores de
doenças:
1) As cepas invasivas
provocam doença localizada primariamente nos cólons (intestino grosso), que se
manifesta sob a forma de diarréia com muito muco (catarro intestinal) e
ocasionalmente sangue e acompanhada normalmente de febre, definindo uma
diarréia mucosanguinolenta semelhante às provocadas pelas shiguelas.
2) As cepas
enterotoxígenas, que provocam uma diarréia aquosa e profusa, sem sangue e sem
muco, mas acompanhada de cólicas intestinais, vômitos, desidratação, e podendo,
ou não, ser acompanhada de febre, definindo uma diarréia semelhante às
provocadas pelo vibrião colérico, a qual persiste por menos de 48 horas e cura
espontaneamente.
3) As cepas
enteropatogênicas, que têm sido associadas a surtos de doença diarréica aguda
que evoluem em berçários e cujos mecanismos patogênicos ainda não foram
completamente esclarecidos.
O diagnóstico é suspeitado
em função do quadro clínico e dos dados epidemiológicos e confirmado pelo
isolamento de cepas de E. coli, que reagem positivamente aos testes sorológicos
que tipificam as cepas patogênicas.
2.
Dados Epidemiológicos
a)
Agentes Infecciosos
Cepas de Escherichia coli
enterotoxígenas, enteropatogênicas e invasivas, que são distinguíveis das cepas
de E. coli comensais, por intermédio de testes sorológicos específicos.
b)
Reservatórios
Pessoas infectadas com
cepas patogênicas de E. coli, na grande maioria das vezes, assintomáticas.
c)
Mecanismos de Transmissão
Pela contaminação fecal da
água, de alimentos e de fômites, como toalhas, lençóis, fronhas e outros
equipamentos. As pessoas com diarréias agudas constituem-se em maior perigo,
por estarem excretando grande número de microorganismos infectantes.
Os recém-nascidos podem
ser contaminados na hora do parto, por suas próprias mães, por intermédio de
contacto fecal-oral direto.
Nos berçários, o próprio
pessoal de enfermagem pode contribuir para a disseminação da doença, em
decorrência de rotinas de higienização mal implantadas e inadequada lavagem das
mãos, antes e após o atendimento de cada bebê.
d)
Incubação e Transmissibilidade
O período de incubação
varia entre 12 e 72 horas, após o contágio, e a transmissibilidade permanece
enquanto as pessoas estiverem eliminando germes viáveis.
e)
Suscetibilidade e Resistência
As crianças, nos primeiros
meses de vida, sobretudo os prematuros, são mais susceptíveis as cepas
enteropatogênicas. O aleitamento materno, durante os primeiros meses, contribui
para aumentar o nível de resistência. Durante o surto, os níveis de anticorpos
contra os antígenos de superfície começam a se elevar, a partir das primeiras
horas, e normalmente a infecção é controlada nas primeiras 48 horas. A duração
da imunidade é desconhecida.
f)
Medidas Preventivas
As medidas para os surtos
comunitários são fortemente dependentes da Vigilância Sanitária e semelhantes
às já estudadas a propósito da cólera.
A prevenção dos surtos nos
berçários depende primordialmente do desenvolvimento de rotinas adequadas de
anti-sepsia e de isolamento dos pacientes com diarréias e do treinamento
permanente do pessoal de berçário, para cumpri-las rigorosamente.
1) A lavagem escrupulosa e
a desinfecção das mãos, antes e depois de cuidar de cada bebê é, sem nenhuma
dúvida, a rotina mais importante.
2) Uma assistência
pré-natal consistente permite a identificação e o tratamento de diarréias nas
futuras mães e reduz os riscos de transmissão na hora do parto.
3) A rotina de manter os
recém-nascidos nos quartos com as mães, desde que nascidos normais e sem
problemas patológicos, desde o primeiro dia, contribui poderosamente para
melhorar o nível de saúde dos bebês e para reduzir os índices de infecção
hospitalar.
4) A amamentação, durante
os 6 (seis) primeiros meses de vida, contribui para aumentar os níveis de
imunidade dos bebês e para reduzir a mortalidade infantil.
5) Os berçários de
prematuros devem ser separados dos demais berçários e cada paciente deve ter
equipamento (berço, banheira, trocador de fraudas, roupas-decama, termômetros e
pacotes de fraldas descartáveis) absolutamente individualizado.
6) O pessoal de enfermagem
deve ser muito bem adestrado em técnicas de antisepsia e de assepsia. A lavagem
das mãos é fundamental e o controle da eliminação de fraldas descartáveis, da
lavanderia e da central de esterilização é de importância capital.
7) Qualquer paciente com
diarréia deve ser imediatamente isolado e tratado, e suas fezes devem ser
obrigatoriamente encaminhadas ao laboratório de análises clínicas. O pessoal de
enfermagem que trabalha nas áreas de isolamento é proibido de freqüentar as
demais áreas do berçário.
8) É imperativo que se
registre o número diário de deposições e a consistência das fezes de cada
criança.
9) As áreas de berçário
devem ser mantidas absolutamente limpas, desinfetadas e isentas de moscas e de
outros insetos. As fraldas com fezes e demais fômites devem ser transportadas
em recipientes estanques e impermeáveis.
10) Placas de Petri, com
meios de cultura adequados, devem ser distribuídas nos berçários e levadas
periodicamente ao laboratório de microbiologia, com o objetivo de detectar e
identificar a presença de germes patogênicos no ambiente.
11) Crianças que, por
orientação médica, são alimentadas artificialmente, são muito mais vulneráveis
às infecções do que as que são amamentadas pelas mães.
Nestas condições, os
cuidados de assepsia devem ser redobrados durante a preparação, guarda e
distribuição das mamadeiras, que devem ser protegidas com invólucros plásticos
e guardadas em refrigerador, até o momento do uso, quando são amornadas e
servidas.
3. Controle dos Pacientes,
dos Contatos e dos Berçários
A ocorrência simultânea de dois ou mais casos de
diarréias, em uma determinada maternidade ou entre crianças com altas recentes,
deve ser interpretada como um surto epidêmico e investigada.
A notificação de casos
isolados ocorridos em berçários é obrigatória para a Comissão de Controle das
Infecções Hospitalares e, no caso de surtos, à autoridade sanitária local.
- A terapia
hidroeletrolítica oral ou venosa e o tratamento específico da infecção, em
ambiente isolado, têm por objetivo salvar a vida dos pequenos pacientes e
bloquear a transmissão.
- A desinfecção
concorrente e terminal do ambiente, das excreções e secreções e dos fômites
(objetos contaminados) é de capital importância para bloquear a infecção.
- A comissão de Controle
das Infecções Hospitalares, uma vez notificada, deve investigar exaustivamente
o caso e esclarecer os mecanismos de transmissão, rever e reforçar todas as
rotinas e procedimentos padronizados do berçário.
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