3.
Dados Epidemiológicos
a)
Agente Infeccioso
O agente infeccioso é um
retrovírus, atualmente denominado Vírus da Imunodeficiência Humana – HIV ou VIH
(nomenclatura brasileira).
A atual denominação foi
recomendada, em 1986, pelo Comitê Executivo Internacional sobre Taxonomia de
Vírus e foi adotado e recomendado pela Organização Mundial de Saúde – OMS.
Anteriormente,
o HIV recebia as seguintes denominações:
- Vírus Linfotrópico de
Células T Humanas, de tipo III- HTLV III, nos países anglo-saxões;
- Vírus Associado a uma
Linfoadenite – LAV, na França e em outros países latinos.
b)
Distribuição
A Síndrome da
Imunodeficiência Adquirida – SIDA – foi notificada pela primeira vez, nos
Estados Unidos da América, no ano de 1981, mas estudos retroativos comprovaram
que casos clínicos desta patologia vinham ocorrendo, naquele país, desde 1978.
No Brasil, o primeiro caso
foi notificado em 1981; em 1982 foram notificados 7 (sete) casos e, em 1983, 17
(dezessete) casos, dos quais um aconteceu em mulher.
No momento atual, a
SIDA/AIDS atua como uma grande pandemia, que atinge todos os países do mundo e,
até o momento, foram notificados aproximadamente 36 milhões de casos, dos quais
dois terços ocorreram na África.
No Sudeste da Ásia, ocorreram 470.000 mortes
até o ano de 2000 e, na Rússia, o número de soropositivos dobrou em um ano.
Apenas no Brasil e nos
países mais desenvolvidos, há indícios de que a velocidade de progressão desta
pandemia está sendo reduzida.
A
evolução epidemiológica foi bastante típica. Inicialmente, nos Estados Unidos
da América, a quase totalidade dos pacientes, cujos casos foram notificados,
pertencia a um dos seguintes estratos populacionais que, naquela época, eram
chamados grupos de risco:
- Homens homossexuais e
bissexuais;
- Usuários de Drogas
Injetáveis – UDI – de ambos os sexos;
- Imigrantes do Haiti;
- Pacientes hemofílicos;
- Pessoas contaminadas, em
conseqüência de transfusão de sangue;
- Parceiros sexuais de
homens e mulheres contaminados pelo vírus;
- Filhos nascidos de mães
contaminadas pelo HIV.
No Brasil, os primeiros
casos ocorreram entre homens homossexuais, de classe média alta, que tinham
adquirido a doença durante viagens aos Estados Unidos, ou em contágio com
pessoas infectadas que vieram fazer turismo no Brasil.
O
impacto do uso de drogas injetáveis, na transmissão heterossexual do HIV, foi
demonstrado por -einiger e colaboradores, ao analisarem a evolução da pandemia
na Tailândia, que se desenvolveu em cinco ondas sucessivas:
- A primeira onda foi
caracterizada pela rápida disseminação do HIV entre usuários de drogas
injetáveis – UDI.
- A segunda onda foi
caracterizada pelo rápido incremento da prevalência entre prostitutas.
- A terceira onda foi
caracterizada pelo incremento da transmissão para os homens que freqüentavam
prostíbulos, mesmo que não fossem UDI (usuários de drogas injetáveis).
- A quarta onda foi
caracterizada pelo incremento da transmissão heterossexual, para as esposas e
parceiras regulares dos homens contaminados.
- A quinta onda foi
caracterizada pelo incremento da transmissão perinatal, com reflexos
importantes sobre morbimortalidade infantil.
Segundo estatísticas
mundiais, no ano de 2000, aproximadamente, 1 milhão de crianças eram portadoras
de HIV e, aproximadamente, 400 mil morreram antes de completar um ano de vida.
Estima-se também que, nos próximos 10 anos, 40 milhões de crianças perderão um
ou ambos os pais, em conseqüência da SIDA.
No Brasil, até junho do
ano de 2000, o total de casos notificados, ao longo de 20 anos, correspondia a
190.946, dos quais 95.721 já haviam morrido, caracterizando um elevado nível de
mortalidade de 50,13%.
No
momento atual:
- A doença que era
nitidamente de grandes cidades, cidades portuárias e áreas de atração de
turistas está se interiorizando e a grande maioria dos municípios brasileiros,
com menos de 50.000 habitantes, já notificou casos.
- A transmissão
estabilizou-se entre homossexuais masculinos, provavelmente em função do
trabalho de numerosas ONGs, que se empenharam na conscientização deste grupo,
com relação aos riscos de contaminação e aos mecanismos de prevenção.
- A transmissão entre os
usuários de drogas injetáveis – UDI – apresenta tendência de queda, em função
dos trabalhos de conscientização, de educação sanitária e da distribuição
gratuita de seringas e de agulhas descartáveis pelo SUS.
- No entanto, a
transmissão está crescendo entre heterossexuais e, em especial, entre mulheres
casadas. Há que enfrentar este grave problema.
c)
Mecanismos de Contaminação
Em condições naturais, o
ser humano é o único reservatório e foco de transmissão do HIV.
Embora
já se tenha comprovado a presença do HIV, em todas as secreções e excreções
orgânicas, só são consideradas como contaminantes:
- o sangue;
- o sêmen, constituído
pelo líquido seminal e pelos espermatozóides;
- as secreções vaginais
das mulheres.
Nestas
condições, está comprovado que a transmissão do HIV ocorre por intermédio:
- de transfusão de sangue
contaminado, dos produtos resultantes do funcionamento do sangue e dos
hemoderivados, especialmente dos fatores de coagulação;
- do uso compartilhado de
seringas e agulhas contaminadas por usuários de drogas injetáveis;
- de contaminação
acidental do pessoal médico-hospitalar e de laboratório de análises clínicas
com material infectado por pacientes com SIDA;
- de relações sexuais
anais, vaginais e, possivelmente, orais;
- da gravidez, parto e
aleitamento, a partir de mães infectadas, para seus filhos recém-nascidos.
O contágio por intermédio
de transfusões de sangue, de produtos resultantes do fracionamento e de
hemoderivados persistiu, além do tempo necessário, em função da demora da
padronização dos testes sorológicos para exclusão de doadores contaminados.
Nos
dias atuais, este mecanismo de transmissão está perdendo importância.
O risco operacional entre
o pessoal médico-hospitalar e de laboratórios de análises clínicas foi
substancialmente minimizado, em função da padronização de procedimentos de
segurança.
É importante registrar que
o incremento da contaminação dos jovens e das mulheres e da transmissão
heterossexual está intimamente relacionado com o uso compartilhado de seringas
e agulhas, por parte dos usuários de drogas injetáveis.
A ejaculação na área
anorretal funciona como se fosse uma injeção na veia, em função da intensa
irrigação da região pelo plexo hemorroidário.
Nas mulheres, as lesões
das paredes da vulva, da vagina e do colo do útero contribuem para aumentar as
probabilidades de contaminação nos dois sentidos.
O contato do sêmen com uma
mucosa oral ulcerada pode facilitar a contaminação por via oral.
No
que diz respeito ao sexo promíscuo, há que considerar longos períodos em que os
parceiros infectantes atuam como portadores assintomáticos e aceitar como
comprovada a seguinte máxima:
- “Todas as vezes que você
tiver uma relação sexual, com uma pessoa promíscua, você estará se relacionando
com aquele parceiro e com todas as pessoas que tiveram relações sexuais com o
mesmo, nos últimos 5 (cinco) anos”.
Está comprovado que
mulheres soropositivas, que são submetidas ao tratamento com o coquetel
bloqueador da multiplicação de vírus, durante o pré-natal, têm grandes
possibilidades de conceberem filhos sadios.
É desejável que o exame sorológico
para diagnosticar infecções pelo HIV passe a ser uma rotina, por ocasião do
início da assistência pré-natal.
d)
Períodos de Incubação e de Transmissibilidade
O período de incubação,
considerada a fase de portador assintomático, costuma ser de vários anos, mas é
substancialmente reduzido nas crianças concebidas por mães aidéticas.
Este período pode ser
encurtado em pessoas sujeitas a reinfecções por outras cepas de HIV e por
outros microorganismos causadores de outras doenças sexualmente transmissíveis.
A desnutrição e a
intercorrência de outras doenças consuptivas também contribuem para reduzir o
período de incubação.
O período de transmissão,
no entanto, se inicia poucas semanas após a inoculação e se mantém durante toda
a vida.
e)
Suscetibilidade e Resistência
A suscetibilidade é
universal e a infecção pelo HIV ocorre em todas as raças, todas as faixas
etárias e em todos os estratos sociais. Na medida em que se aprofundam os
estudos
epidemiológicos, fica mais
caracterizado que não existem grupos de riscos, mas condutas de riscos.
No entanto, estão surgindo
evidências que, por razões até agora desconhecidas, algumas pessoas são menos
susceptíveis e mais resistentes às infecções provocadas pelo HIV e, possíveis
fatores genéticos que possam inferir nesta condição merecem ser investigados.
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