15 maio 2020

Dados Epidemiológicos - Agente Infeccioso - HTLV III - LAV - Síndrome da Imunodeficiência Adquirida – SIDA - UDI - -einiger - Mecanismos de Contaminação - sexo promíscuo - Períodos de Incubação e de Transmissibilidade - Suscetibilidade e Resistência


3. Dados Epidemiológicos


a) Agente Infeccioso

O agente infeccioso é um retrovírus, atualmente denominado Vírus da Imunodeficiência Humana – HIV ou VIH (nomenclatura brasileira).

A atual denominação foi recomendada, em 1986, pelo Comitê Executivo Internacional sobre Taxonomia de Vírus e foi adotado e recomendado pela Organização Mundial de Saúde – OMS.


Anteriormente, o HIV recebia as seguintes denominações:

- Vírus Linfotrópico de Células T Humanas, de tipo III- HTLV III, nos países anglo-saxões;

- Vírus Associado a uma Linfoadenite – LAV, na França e em outros países latinos.


b) Distribuição

A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida – SIDA – foi notificada pela primeira vez, nos Estados Unidos da América, no ano de 1981, mas estudos retroativos comprovaram que casos clínicos desta patologia vinham ocorrendo, naquele país, desde 1978.

No Brasil, o primeiro caso foi notificado em 1981; em 1982 foram notificados 7 (sete) casos e, em 1983, 17 (dezessete) casos, dos quais um aconteceu em mulher.

No momento atual, a SIDA/AIDS atua como uma grande pandemia, que atinge todos os países do mundo e, até o momento, foram notificados aproximadamente 36 milhões de casos, dos quais dois terços ocorreram na África. 

No Sudeste da Ásia, ocorreram 470.000 mortes até o ano de 2000 e, na Rússia, o número de soropositivos dobrou em um ano.

Apenas no Brasil e nos países mais desenvolvidos, há indícios de que a velocidade de progressão desta pandemia está sendo reduzida.

A evolução epidemiológica foi bastante típica. Inicialmente, nos Estados Unidos da América, a quase totalidade dos pacientes, cujos casos foram notificados, pertencia a um dos seguintes estratos populacionais que, naquela época, eram chamados grupos de risco:

- Homens homossexuais e bissexuais;

- Usuários de Drogas Injetáveis – UDI – de ambos os sexos;

- Imigrantes do Haiti;

- Pacientes hemofílicos;

- Pessoas contaminadas, em conseqüência de transfusão de sangue;

- Parceiros sexuais de homens e mulheres contaminados pelo vírus;

- Filhos nascidos de mães contaminadas pelo HIV.


No Brasil, os primeiros casos ocorreram entre homens homossexuais, de classe média alta, que tinham adquirido a doença durante viagens aos Estados Unidos, ou em contágio com pessoas infectadas que vieram fazer turismo no Brasil.


O impacto do uso de drogas injetáveis, na transmissão heterossexual do HIV, foi demonstrado por -einiger e colaboradores, ao analisarem a evolução da pandemia na Tailândia, que se desenvolveu em cinco ondas sucessivas:

- A primeira onda foi caracterizada pela rápida disseminação do HIV entre usuários de drogas injetáveis – UDI.

- A segunda onda foi caracterizada pelo rápido incremento da prevalência entre prostitutas.

- A terceira onda foi caracterizada pelo incremento da transmissão para os homens que freqüentavam prostíbulos, mesmo que não fossem UDI (usuários de drogas injetáveis).

- A quarta onda foi caracterizada pelo incremento da transmissão heterossexual, para as esposas e parceiras regulares dos homens contaminados.

- A quinta onda foi caracterizada pelo incremento da transmissão perinatal, com reflexos importantes sobre morbimortalidade infantil.

Segundo estatísticas mundiais, no ano de 2000, aproximadamente, 1 milhão de crianças eram portadoras de HIV e, aproximadamente, 400 mil morreram antes de completar um ano de vida. 

Estima-se também que, nos próximos 10 anos, 40 milhões de crianças perderão um ou ambos os pais, em conseqüência da SIDA.

No Brasil, até junho do ano de 2000, o total de casos notificados, ao longo de 20 anos, correspondia a 190.946, dos quais 95.721 já haviam morrido, caracterizando um elevado nível de mortalidade de 50,13%.


No momento atual:

- A doença que era nitidamente de grandes cidades, cidades portuárias e áreas de atração de turistas está se interiorizando e a grande maioria dos municípios brasileiros, com menos de 50.000 habitantes, já notificou casos.

- A transmissão estabilizou-se entre homossexuais masculinos, provavelmente em função do trabalho de numerosas ONGs, que se empenharam na conscientização deste grupo, com relação aos riscos de contaminação e aos mecanismos de prevenção.

- A transmissão entre os usuários de drogas injetáveis – UDI – apresenta tendência de queda, em função dos trabalhos de conscientização, de educação sanitária e da distribuição gratuita de seringas e de agulhas descartáveis pelo SUS.

- No entanto, a transmissão está crescendo entre heterossexuais e, em especial, entre mulheres casadas. Há que enfrentar este grave problema.


c) Mecanismos de Contaminação
Em condições naturais, o ser humano é o único reservatório e foco de transmissão do HIV.


Embora já se tenha comprovado a presença do HIV, em todas as secreções e excreções orgânicas, só são consideradas como contaminantes:

- o sangue;

- o sêmen, constituído pelo líquido seminal e pelos espermatozóides;

- as secreções vaginais das mulheres.


Nestas condições, está comprovado que a transmissão do HIV ocorre por intermédio:

- de transfusão de sangue contaminado, dos produtos resultantes do funcionamento do sangue e dos hemoderivados, especialmente dos fatores de coagulação;

- do uso compartilhado de seringas e agulhas contaminadas por usuários de drogas injetáveis;

- de contaminação acidental do pessoal médico-hospitalar e de laboratório de análises clínicas com material infectado por pacientes com SIDA;

- de relações sexuais anais, vaginais e, possivelmente, orais;

- da gravidez, parto e aleitamento, a partir de mães infectadas, para seus filhos recém-nascidos.

O contágio por intermédio de transfusões de sangue, de produtos resultantes do fracionamento e de hemoderivados persistiu, além do tempo necessário, em função da demora da padronização dos testes sorológicos para exclusão de doadores contaminados. 

Nos dias atuais, este mecanismo de transmissão está perdendo importância.

O risco operacional entre o pessoal médico-hospitalar e de laboratórios de análises clínicas foi substancialmente minimizado, em função da padronização de procedimentos de segurança.

É importante registrar que o incremento da contaminação dos jovens e das mulheres e da transmissão heterossexual está intimamente relacionado com o uso compartilhado de seringas e agulhas, por parte dos usuários de drogas injetáveis.

A ejaculação na área anorretal funciona como se fosse uma injeção na veia, em função da intensa irrigação da região pelo plexo hemorroidário.

Nas mulheres, as lesões das paredes da vulva, da vagina e do colo do útero contribuem para aumentar as probabilidades de contaminação nos dois sentidos.

O contato do sêmen com uma mucosa oral ulcerada pode facilitar a contaminação por via oral.


No que diz respeito ao sexo promíscuo, há que considerar longos períodos em que os parceiros infectantes atuam como portadores assintomáticos e aceitar como comprovada a seguinte máxima:

- “Todas as vezes que você tiver uma relação sexual, com uma pessoa promíscua, você estará se relacionando com aquele parceiro e com todas as pessoas que tiveram relações sexuais com o mesmo, nos últimos 5 (cinco) anos”.

Está comprovado que mulheres soropositivas, que são submetidas ao tratamento com o coquetel bloqueador da multiplicação de vírus, durante o pré-natal, têm grandes possibilidades de conceberem filhos sadios. 

É desejável que o exame sorológico para diagnosticar infecções pelo HIV passe a ser uma rotina, por ocasião do início da assistência pré-natal.


d) Períodos de Incubação e de Transmissibilidade

O período de incubação, considerada a fase de portador assintomático, costuma ser de vários anos, mas é substancialmente reduzido nas crianças concebidas por mães aidéticas.

Este período pode ser encurtado em pessoas sujeitas a reinfecções por outras cepas de HIV e por outros microorganismos causadores de outras doenças sexualmente transmissíveis.

A desnutrição e a intercorrência de outras doenças consuptivas também contribuem para reduzir o período de incubação.

O período de transmissão, no entanto, se inicia poucas semanas após a inoculação e se mantém durante toda a vida.


e) Suscetibilidade e Resistência

A suscetibilidade é universal e a infecção pelo HIV ocorre em todas as raças, todas as faixas etárias e em todos os estratos sociais. Na medida em que se aprofundam os estudos

epidemiológicos, fica mais caracterizado que não existem grupos de riscos, mas condutas de riscos.

No entanto, estão surgindo evidências que, por razões até agora desconhecidas, algumas pessoas são menos susceptíveis e mais resistentes às infecções provocadas pelo HIV e, possíveis fatores genéticos que possam inferir nesta condição merecem ser investigados.

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