20 maio 2020

TÍTULO VI - TUBERCULOSE - CODAR – HB.ITU/CODAR 23.306 - Primo-infecção ou Complexo Primário - exames auxiliares de diagnóstico - Infecção Secundária ou Reinfecção - reinfecção ocorre com maior freqüência - Diagnóstico


2. Quadro Clínico e Fisiopatologia


a) Generalidades

Embora as manifestações clínicas de origem pulmonar da tuberculose, na sua forma crônica, sejam as mais freqüentes, a tuberculose deve ser percebida como uma doença polimorfa, que se exterioriza de muitas formas e que afeta todos os órgãos e tecidos do organismo humano.


No que diz respeito ao padrão evolutivo, a tuberculose pode apresentar-se sob a forma de uma:

·  Infecção inicial, de caráter benigno, que pode evoluir de forma assintomática ou com sinais e sintomas mínimos e que podem passar despercebidos. Esta primeira infecção normalmente cura-se espontaneamente, deixando seqüelas mínimas, como gânglios linfáticos calcificados.

·  Infecção localizada mínima, que pode permanecer circunscrita, com um foco latente que pode recrudescer, após alguns anos, dando origem a um quadro de tuberculose ativa.

·  Infecção crônica, que tende a evoluir com surtos de agravamento gradual e progressivo.

·  Infecção aguda que, em casos excepcionais, pode agravar-se de forma brusca e violenta, caracterizando um quadro fatal.


No que diz respeito ao padrão imunológico, a tuberculose desenvolve-se em duas fases distintas:

·  A fase inicial desenvolve-se em pessoas que ainda não foram sensibilizadas pelo bacilo da tuberculose e que é conhecida como primo-infecção ou complexo primário da tuberculose;

·  A fase secundária ou de reinfecção, quando se desenvolve normalmente sob a forma crônica, em organismos previamente sensibilizados pelo bacilo da tuberculose, por intermédio de um antígeno protéico denominado tuberculina;

A tuberculose que, na imensa maioria dos casos, inicia-se sob a forma de tuberculose pulmonar, pode disseminar-se por via linfática, ou mesmo, por via hematogênica e, com maior freqüência, assumir formas extrapulmonarres da doença;

A disseminação hematogênica aguda pode provocar a formação de numerosos pequenos focos de tuberculose miliar, no pulmão e em outros órgãos;

Nestes casos, a radiografia do pulmão apresenta aspectos morfológicos muito característicos, com numerosos pontos exudativos disseminados no parênquima pulmonar.


Como já foi explicitado, a tuberculose extrapulmonar ocorre de forma menos freqüente que a tuberculose pulmonar e pode apresentar-se de forma localizada ou disseminada, afetando:

·  laringe e orofaringe;

·  gânglios linfáticos;

·  ossos e articulações;

·  rins e pélvis renal;

·  intestinos e gânglios linfáticos mesentéricos;

·  cavidade pleural, peritonial e pericárdica;

·  meninges;

·  pele e tecido celular subcutâneo;

·  olhos e conjuntivas oculares;

·  órgãos genitais, como os testículos e as trompas de Eustáquio.



b) Primo-infecção ou Complexo Primário

A infecção inicial normalmente ocorre no parênquima pulmonar e se caracteriza como uma reação inflamatória local, de caráter exudativo, seguida de infiltração celular, formação de um tubérculo e cicatrização fibrosa, caracterizando uma reação de defesa do organismo, que tem por objetivo isolar e encapsular o foco da infecção.

Inicia-se uma disseminação linfática que é detida no gânglio satélite, onde os processos de reação inflamatória e de cicatrização se repetem, e prossegue com a calcificação do nódulo linfático.

De um modo geral, a infecção inicial passa clinicamente despercebida. A reação inflamatória se circunscreve à área contagiada pelo bacilo e a sensibilidade à tuberculina ocorre em poucas semanas. E, na imensa maioria dos casos, as lesões são inativadas, sem deixar seqüelas residuais, exceto a calcificação de um ou mais gânglios linfáticos pulmonares ou traqueobrônquicos.


Os exames auxiliares de diagnóstico na fase de complexo primário podem apresentar os seguintes resultados:

·  reação à tuberculina positiva, a partir da segunda ou terceira semana;

·  muito raramente, a radiografia demonstra um foco exudativo que se estende, desde o local infiltrado até o gânglio linfático satélite;
·  o exame de escarro só se torna positivo, se ocorrer uma ulceração do brônquio.

Normalmente, o complexo primário ocorre em crianças, a não ser em comunidades fechadas sem contato com o mundo exterior. Nestes casos, a doença pode ocorrer em adultos que entram em contato acidental com pessoas infectadas.


c) Infecção Secundária ou Reinfecção

Normalmente, a primeira infecção ou complexo primário, ao aumentar o nível de imunidade específica do organismo contra a tuberculose, reduz o risco de que novas inoculações de bacilos da tuberculose produzam surtos renovados da enfermidade. Nesta condição, as defesas orgânicas tornam -se capazes de controlar contágios isolados com o bacilo da doença.


No entanto, a infecção secundária pode ocorrer, como conseqüência de:

·  freqüentes inoculações com doses elevadas de bacilos, em função da convivência íntima com pacientes tuberculosos eliminadores de bacilos viáveis, provocando exposições repetidas aos contágios;

·  quedas da resistência imunitária do organismo, que podem ser provocadas por hiponutrição, doenças infecciosas agudas, como o sarampo, doenças degenerativas, como a diabete, e doenças consumptivas, como o câncer;

·  tratamentos com imunosupressores e infecção com o HIV.

O alcoolismo e a dependência de drogas, ao debilitarem o organismo, reduzem as resistências orgânicas e facilitam a propagação da tuberculose.

A disseminação da SIDA/AIDS está provocando um recrudescimento da tuberculose, sob a forma de enfermidade aguda, de evolução rápida e fulminante e de tratamento extremamente difícil.


A reinfecção ocorre com maior freqüência entre:

·  adolescentes, adultos jovens e idosos;

·  estratos populacionais pouco desenvolvidos social e economicamente;

·  alcoólatras e dependentes de drogas;

·  pessoas infectadas pela SIDA/AIDS;

·  pessoas sexualmente promíscuas, como as prostitutas, os prostitutos e os homossexuais masculinos;

·  pacientes com doenças consumptivas, como o câncer, e degenerativas como a diabete.


A reinfecção caracteriza-se por apresentar duas classes distintas de reações fisiopatológicas, que se relacionam com a:
·  Hipersensibilidade orgânica, como as reações inflamatórias de caráter exudativo, caracterizando quadros de pneumonia exudativa e derrames pleurais ou pericárdicos; reações hiperplásicas, com formação de células gigantes e reações necróticas, com destruição de tecidos e formação de cavernas;

·  Imunidade orgânica, que tipificam os processos curativos, como a formação de nódulos de tecido fibroso (reação fibrótica) e, numa segunda fase, a calcificação dos nódulos fibrosados.

A combinação das reações de hipersensibilidade e imunitária faz com que a tuberculose assuma o seu caráter polimorfo e que a grande maioria dos quadros fisiopatológicos apresentem combinações de exudações, desenvolvimento de células gigantes, necrose com liquefação dos tecidos, eliminação por via brônquica e formação de cavernas, necrose de arteríolas, com hemoptises e processos de cicatrização e de fibrose, com formação de nódulos e tubérculos, seguida da calcificação dos mesmos.

Por razões pouco definidas, na grande maioria das vezes, a reinfecção ocorre, com mais freqüência, nos lóbulos superiores dos pulmões. 

Nos casos de reativação de focos latentes, a lesão se desenvolve inicialmente no foco da lesão primária, podendo se disseminar, através dos brônquios, por via linfática e por via hematogênica, podendo inclusive propagar-se para o pulmão contralateral, por aspiração do catarro infectado.

Na área onde o gado está infectado com Micobacterium tuberculosis bovis, a transmissão pode ocorrer por intermédio do leite infectado, não fervido ou pasteurizado, e iniciarse no tubo digestivo (intestino grosso e reto). Este mecanismo de infecção está se tornando cada vez mais raro.



d) Diagnóstico

Os sinais e sintomas mais freqüentes, nos quadros de tuberculose pulmonar, são:

fadiga, febre com suores noturnos abundantes, perda do apetite com emagrecimento progressivo, tosse persistente, dores torácicas, escarros sanguinolentos e, algumas vezes, hemoptise franca, com abundante eliminação de sangue “espumoso” e avermelhado.

Podem ocorrer complicações como formação de cavernas, derrames pleurais, espessamentos pleurais, pneumotórax espontâneo, consolidações pneumônicas e fibroses pulmonares, deslocamentos da traquéia e dos órgãos do mediastino.

As lesões anatômicas são facilmente comprovadas pelos exames radiológicos, e o diagnóstico causal é caracterizado pelo isolamento de bacilos ácido-álcool-resistentes no catarro, no lavado brônquio ou no lavado gástrico.

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