25 maio 2021

Mordidas de cobras - Guia de Cobras da Região de Manaus - Amazônia Central

Mordidas de cobras


As cobras possuem os dentes organizados em diferentes arranjos, que resultam em uma classificação em quatro categorias (Figura 31): áglifas, opistóglifas, solenóglifas (ou quinetóglifas) e proteróglifas. As cobras áglifas, como Cobras-cipó (por exemplo, gêneros Chironius, Dendrophidion e Pseustes), Jiboias (Boa constrictor) e Sucuris (gênero Eunectes) não possuem presas inoculadoras de veneno. Uma mordida pode até machucar, mas sem risco de envenenamento.

As cobras opistóglifas, como a Cobra-papagaio (Oxybelis fulgidus), Falsas-corais (gênero Oxyrhopus, Erythrolamprus

aesculapii e outras) possuem um par de presas na região posterior da boca, com sulcos por onde escorre o veneno.

A mordida pode ter consequências leves a moderadas, como febre e inchaço local, ou graves, como morte em crianças. Este é o caso das cobras do gênero Philodryas.


Figura 31 - As cobras possuem quatro configurações de dentição: A) Áglifa, sem presas inoculadoras de veneno (Chironius carinatus), B) Opistóglifa, com presas de veneno na região posterior da boca (Xenodon merremi), C) Proteróglifa, com presas fixas de veneno na região anterior da boca (Micrurus spixii) e D) Solenóglifa, com presas móveis de veneno na região anterior da boca (Crotalus durissus).


As cobras proteróglifas possuem duas presas pequenas na região anterior da boca, sulcadas e imóveis.

No Brasil, esse é um tipo de dentição exclusivo das Cobras-corais dos gêneros Micrurus e Leptomicrurus, que produzem veneno neurotóxico capaz de causar morte em humanos.

As cobras solenóglifas possuem presas grandes, localizadas na região anterior da boca, que se deslocam pela movimentação do osso maxilar durante um bote.

Com a boca fechada as presas ficam retraídas. No interior dessas presas existe um canal, como uma agulha de injeção, por onde o veneno é escoado.

Essas presas são encontradas em cobras da família Viperidae, representada na região de Manaus pela Jararaca

Bothrops atrox, e pela Surucucu-pico-de-jaca Lachesis muta.


Mordidas e picadas por cobras peçonhentas ocorrem regularmente com seres humanos, especialmente em zonas rurais.


Mas, certamente morrem mais pessoas por acidentes de trânsito do que por picadas de cobra, mesmo em zonas rurais.


Em regiões mais remotas da Amazônia, o acesso a centros de tratamento de saúde que disponibilizam soro antiofídico (medicamento que combate a ação do veneno de cobras) ainda é bastante difícil.


Nesses locais, acidentes ofídicos com consequências graves que possam ocasionar morte são mais frequentes.


Contudo, esse quadro poderia ser revertido se a população recebesse orientação adequada sobre medidas preventivas (Figura 32).


A melhor forma de combater picadas de cobras é evitá-las.


O uso de equipamentos de proteção individual, como botas de borracha e luvas de couro é uma medida barata e simples, que diminui consideravelmente o risco de picada de cobras.


Para moradores da zona rural é importante manter limpa a área em volta das casas ou da comunidade, sem acúmulo de entulhos.


Cobras podem utilizar entulhos para se abrigar ou caçar animais abrigados, como ratos e sapos.


As trilhas mais utilizadas também devem ser mantidas limpas, porque se houver uma cobra por perto, ela será mais facilmente avistada.


Avistar uma cobra antes de passar próximo a ela praticamente anula a chance de uma picada ocorrer.


Figure 32 - Algumas cobras podem causar ferimentos graves ou mesmo morte em pessoas, como essa Jararaca Bothrops atrox.


Mas algumas medidas simples e baratas podem reduzir o risco de picadas, como o uso de botas e luvas de couro, e a limpeza de trilhas e áreas comunitárias.


A melhor coisa a se fazer no caso de picada de cobra é levá-la juntamente com a vítima ao posto de saúde mais próximo, para identificação.


Isso é importante, porque o soro que combate a ação do veneno (antiofídico) é específico para cada grupo de cobras:

- soro antibotrópico – para picadas porJararacas (gênero Bothrops);

- soro antielapídico -para picadas por Cobras-corais (família Elapidae);

- soro antilaquético -para picadas por Surucucu-pico-de-jaca (Lachesis muta);

- soro anticrotálico - para picadas por Cascavéis (gênero Crotalus).


O soro polivalente pode ser administrado quando não se sabe o tipo de cobra envolvida no acidente, mas geralmente ele é menos eficiente.


Torniquetes e remédios caseiros podem piorar o ferimento, por isso devem ser evitados.


Pessoas que vivem em áreas de difícil acesso devem procurar orientações sobre os cuidados em caso de picadas de cobras, e planejar com antecedência a remoção de vítimas para um local onde poderá ser aplicado o soro antiofídico e outros procedimentos médicos.

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