TÁTICAS
E TÉCNICAS DE SALVAMENTO E DE COMBATE A INCÊNDIOS EM AERONAVES
Este capítulo é dedicado aos diversos
tipos de incidentes ou acidentes aeronáuticos, com os quais os bombeiros se
depararão, e as táticas e técnicas que eles deverão adotar para melhor
solucionar os problemas deles resultantes.
De acordo com pesquisas feitas pela
Organização Internacional de Aviação Civil, uma parte significativa dos
acidentes ou incidentes aeronáuticos ocorre, normalmente, nas áreas próximas às
pistas de pousos e decolagens.
A Figura 24, representa os locais de
maior índice de acidentes durante as operações de pousos e decolagens
Os Postos de Bombeiros localizados em
aeroportos deverão estar preparados para atuarem em uma área, até uma distância
de oito quilômetros em torno do centro geométrico do aeródromo. Essa área, em
princípio, dependendo das condições locais, deverá ser do conhecimento dos
bombeiros do aeródromo, e nela deverão ser previstos os itinerários de acessos
mais adequados aos carros contra-incêndio.
Da mesma forma, os Postos de Bombeiros
localizados nas proximidades de um aeroporto ou em locais que sejam rota de vôo
de aeronaves, e seus efetivos deverão ser treinados na atividade de salvamento
e combate a incêndios em aeronaves.
Locais
onde ocorreram acidentes
Características
Comuns a Todos os Casos de Emergência
Tão logo o Corpo de Bombeiros seja
acionado, anunciado um caso de emergência envolvendo uma aeronave, os
equipamentos necessários deverão ser deslocados até o local onde tenha ocorrido
o acidente ou aos pontos de reunião previamente determinados, correspondentes à
pista que está sendo utilizada, no caso de um acidente ou incidente em um
aeródromo.
Uma vez recebida a chamada, o Comandante
do Posto ou o Comandante da Prontidão que está de serviço assumirá a
responsabilidade por todas as medidas de salvamento e combate a incêndios
subseqüentes.
No caso de as viaturas e equipes do Corpo
de Bombeiros terem sido despachados para o local de um acidente próximo a um
aeródromo, o controle de tráfego aéreo deve ser imediatamente notificado, para
que este informe a todos os vôos que chegam ou saem do aeródromo, sobre o
estado de disponibilidade dos serviços de salvamento e contra-incêndio.
Planos detalhados para cada aeroporto
devem ser preparados com a devida antecedência, para os casos previsíveis de
emergência, tendo em vista as circunstâncias locais.
A cooperação do policiamento também é
muito importante na preservação do local do sinistro e isolamento da área
abrangida pelo acidente, já que medidas posteriores serão tomadas pelo pessoal
responsável pela investigação das prováveis causas do acidente aeronáutico
(CIAA).
Como os acidentes aeronáuticos geralmente
se constituem em grandes emergências, a adoção do SICOE (Sistema de Comando e
Operações em Emergências) nesses casos, facilita a coordenação das ações entre
os órgãos envolvidos no atendimento da ocorrência.
Os veículos para transporte de água
(viaturas auto-tanque, reboques, etc.), se disponíveis, serão despachados
sempre que houver indícios de sua possível utilização, especialmente quando se
saiba que o local do sinistro está fora das zonas normalmente protegidas contra
incêndios de um aeródromo, onde a probabilidade de existir hidrantes é maior,
facilitando assim o suprimento de água.
Igual cuidado deve-se ter no tocante ao
fornecimento de quantidades adequadas de agentes extintores no local do
acidente. Especial atenção deve ser dada por ocasião do emprego desses agentes
extintores quando a ação ocorrer em locais fora do aeroporto, pois a sua
reposição é sempre mais difícil. A seleção criteriosa da melhor técnica de
utilização é fundamental para que se possa utilizá-los de maneira mais
proveitosa.
É aconselhável que se faça um
reconhecimento topográfico prévio de todo o terreno, dentro e fora do
aeroporto, bem como das condições de trânsito, a fim de evitar-se a demora no
atendimento de uma emergência. Nos mapas quadriculados do aeroporto, levados
pelas viaturas, devem estar representados os dados mais relevantes da área.
As mangueiras de incêndio que serão
empregadas no combate às chamas deverão ser pressurizadas depois que a viatura
estiver devidamente estacionada, independentemente da grandeza do incêndio e da
hora da chegada no local. Assim procedendo, garantir-se-á uma capacidade de
descarga imediata dos agentes extintores no caso de uma rápida combustão nos
líquidos inflamáveis presentes no local do acidente, o que indubitavelmente
poria em risco os bombeiros e os ocupantes da aeronave.
No atendimento de uma emergência
aeronáutica, todos os bombeiros devem utilizar o seu equipamento de proteção
individual e respiratória, a fim de reduzir a possibilidade de lesões provocadas
por um incêndio repentino, bem como se ganhar um tempo valioso, que seria
despendido, caso deixasse para colocá-lo no local da ocorrência.
No caso de ocorrer um grande derramamento
de combustível sem que se produza um incêndio, é importante eliminar-se o maior
número possível de focos de ignição ou cobrir-se com espuma o combustível
derramado. As fontes de ignição existentes no motor devem ser resfriadas ou
deixadas inativas. É bom lembrar que as turbinas das aeronaves podem conservar
calor residual capaz de provocar um incêndio em vapores de combustível até
trinta minutos depois de desligadas, ou dez minutos nos motores convencionais.
Quando se pretende utilizar a espuma para
cobrir um derramamento de combustível, é preciso levar-se em conta a quantidade
de EFE disponível e o volume de água necessária para formá-la. Como é essencial
que haja um suprimento de água contínuo nesse processo e normalmente ela não é
encontrada em todos os pontos de um aeroporto, torna-se necessário alertar, no
momento do alarme, as viaturas responsáveis por manter esse abastecimento de
água no local da ocorrência, bem como se levarem também quantidades adicionais
de extratos formadores, para que não haja uma solução de continuidade no processo
constitutivo da espuma.
O salvamento dos ocupantes de uma aeronave acidentada deve ser feito com a maior rapidez possível, levando-se em conta que a remoção de pessoas feridas deve ser analisada de forma cautelosa, de maneira à não provocar o agravamento das lesões pré existentes.
Geralmente, podem-se utilizar as janelas
da aeronave para o salvamento ou a ventilação. Algumas delas foram projetadas
para servirem como saída de emergência e, nesse caso, estão identificadas e
providas de dispositivos para abertura dos trincos, tanto pelo lado de fora,
como por dentro da cabina. A maioria dessas saídas abre-se para dentro.
Deve-se ter muito cuidado ao fazer
aberturas na aeronave para os processos de ventilação e salvamento,
principalmente nos locais próximos aos tanques de combustível. O uso inadequado
de ferramentas nesses processos pode dar lugar a vazamentos desnecessários de
combustível, aumentando o perigo de uma explosão.
É terminantemente proibido fumar nos
locais de acidentes que envolvam aeronaves e nas suas imediações, devido à
possibilidade de vazamentos de combustível.
Extinção
de Incêndios em Aeronaves
A missão principal de um serviço de
salvamento e combate a incêndios de um aeroporto, após a ocorrência de um
acidente aeronáutico onde haja fogo, consiste em dominar o incêndio na área
crítica, com o objetivo de poder fazer a evacuação de todos os ocupantes da
aeronave para um local seguro.
Incêndios
de classe A
Estão dentro desta categoria as
mercadorias transportadas pela aeronave, os materiais de tapeçaria e todos os
combustíveis sólidos similares que requerem resfriamento para a sua completa
extinção. Não se tratando de líquidos inflamáveis, o pessoal encarregado de dar
combate às chamas pode considerar o emprego de água como o agente extintor
ideal para essa classe de incêndio.
Deve-se tomar cuidado na abertura dos compartimentos de carga, verificando-se a temperatura das portas de acesso antes de abri-las.
O aquecimento das rodas e pneus de uma
aeronave, embora seja normal nos processos de pouso e decolagem, pode
constituir-se em um perigo de explosão quando ultrapassar os limites
aceitáveis, acentuando-se muito mais quando ocorre um incêndio.
A fim de não pôr em perigo desnecessário
os bombeiros que atenderão a essas emergências, é importante não confundir os
freios aquecidos com um incêndio nos freios.
Os freios aquecidos esfriam normalmente
por si mesmos, sem que haja a necessidade de empregar-se qualquer agente
extintor. A maioria dos manuais de operação das aeronaves convencionais
recomenda que as hélices sejam mantidas girando em frente à roda, até que os
freios se esfriem.
A grande maioria das aeronaves movidas a
jato possui em suas rodas fusíveis que se fundem a uma temperatura aproximada
de 177 °C, permitindo o esvaziamento dos pneus, afastando assim o perigo de uma
explosão.
Caso a roda afetada já esteja com o pneu
vazio, qualquer agente extintor pode ser utilizado com segurança, mas, se o
pneu ainda estiver cheio, os cuidados deverão ser redobrados, aplicando-se
espuma, neblina de água ou pó químico, que são ideais nesses casos. Não é
recomendável utilizar-se água na forma de jato sólido ou gás carbônico, pois produzirão
um choque térmico que irá causar a falência do material constitutivo da roda, gerando
uma explosão.
Nesse caso, o principal objetivo é evitar
que o incêndio se propague para cima, alcançando o alojamento do trem de pouso
e posteriormente a fuselagem.
Ao combater-se um incêndio que se
originou em uma roda, os bombeiros devem tomar certas precauções ao
aproximarem-se do trem de pouso, fazendo-o pela frente ou por trás, nunca
lateralmente, em uma posição axial ao eixo, pois, no caso de uma explosão dos
pneus, eles estarão expostos ao impacto direto de partes dos pneus e rodas.
Ao combater-se um incêndio no trem de
pouso traseiro, atentar para a distanciamento das turbinas e suas respectivas
áreas de perigo.
Incêndios
em motores a pistão
Quando o incêndio estiver confinado no
interior da nacele, eles poderão ser extintos por meio dos sistemas fixos da
própria aeronave. Nesse caso, é aconselhável a utilização de pó químico seco,
halon ou dióxido de carbono, que são mais eficazes do que a água ou a espuma,
dentro daquele compartimento. Externamente, deve ser aplicada a espuma ou um
jato de água, na forma de neblina, para manterem resfriadas as estruturas adjacentes
da aeronave.
Nas aeronaves de motores a pistão, os
agentes extintores são aplicados através das aberturas de refrigeração do
motor, pelas janelas de inspeção, tomadas de ar ou até pelos tubos de
escapamento.
Deve-se ter o cuidado de não tocar nas
hélices, mesmo que elas estejam paradas.
Incêndios
em motores a reação
Os incêndios localizados nas câmaras de
combustão dos motores a reação são mais bem combatidos quando a tripulação está
em condições de manter os motores em funcionamento. Esse procedimento está
relacionado à retirada dos ocupantes da aeronave, bem como a outras
considerações de segurança.
As modernas aeronaves possuem um sistema
fixo de extinção de incêndios constituído por garrafas cilíndricas de um
determinado gás extintor, normalmente o halon.
Esse sistema é muito eficiente nos casos
de incêndios na nacele.
Caso o incêndio persista, mesmo após se
terem esgotado os agentes extintores da própria aeronave, poderão ser
utilizados os agentes extintores do tipo pó BC, ABC, halon ou dióxido de
carbono, através das aberturas e acessos de manutenção ou até mesmo pela tomada
de ar do reator.
A fim de que as estruturas adjacentes da
aeronave sejam mantidas frias, pode-se utilizar externamente a espuma ou um
jato de água na forma de neblina. Não se deve, no entanto, utilizar água ou
espuma nas tomadas de ar ou nas bocas de escape dos motores a reação, a não ser
que o incêndio fuja do controle e não seja possível combatê-lo com os demais
agentes extintores e haja o perigo de uma propagação.
Alguns motores, tanto os a pistão quanto
os a jato, possuem componentes fabricados em magnésio ou titânio, que ao se
inflamarem não poderão ser extintos com agentes convencionais. Dessa forma, se
o incêndio estiver adstrito à nacele, poder-se-á deixá-los queimar, até que se
extingam por si mesmos, caso não ameace a própria aeronave e sempre que não
existam vapores inflamáveis nas cercanias, que possam entrar em combustão ao
manterem contato com as superfícies quentes dos motores.
Incêndios nos motores de aeronaves
montados na parte traseira Os motores instalados na parte posterior da
fuselagem ou acoplados ao estabilizador vertical acrescentam problemas
especiais por ocasião do combate a um eventual incêndio.
A altura de instalação desses motores se
apresenta como um outro problema ainda mais crítico no caso dos aviões
equipados com motores, cujas tomadas de ar estão acopladas ao estabilizador
vertical. Assim, os motores podem encontrar-se a alturas de até 10,5 metros do
solo, o que exigirá, para facilitar o acesso, escadas ou plataformas elevadas nos
veículos de combate a incêndio, para que a aplicação dos agentes extintores
seja eficiente.
Como os motores das aeronaves modernas
possuem volume interno considerável, o regime de descarga dos agentes
extintores também deve ser elevado. Há regimes de descarga muito elevados, não
se podem manejar mangueiras de grosso diâmetro devido à reação do jato, quando
o agente extintor sai do orifício do esguicho. Esse fator deve ser levado em
conta quando se pretende combater os incêndios nos motores das aeronaves
montados em lugares altos.
Outro aspecto a ser considerado nas
operações de combate a incêndios em aeronaves, cujos motores estejam instalados
em locais altos, é o que se refere aos bombeiros e às viaturas, que não se
devem posicionar imediatamente abaixo desses motores, pois ficariam expostos ao
risco de um derramamento de combustível, metal fundido e ao fogo no solo.
Posicionando-se de um lado ou de outro, à
frente ou à retaguarda dos motores, os bombeiros poderão lançar o agente
extintor, com um dispositivo de aplicação adequado, para que o alcance e o modo
de descarga permitam aplicar o agente escolhido e este possa produzir o
resultado esperado.
O comandante das operações no local do
sinistro decidirá qual o melhor agente extintor que deverá ser utilizado. Não
obstante a grande semelhança com todos os outros casos de combate a incêndios,
o objetivo maior que deve ser alcançado é o domínio rápido do incêndio e a
redução dos danos resultantes das atividades de extinção das chamas.
Alguns agentes, especialmente os
compostos halogenados, o pó químico seco e, em menor grau, o dióxido de carbono
permitem controlar as chamas nas partes protegidas do motor, sem que os
diversos componentes sejam afetados. Esses agentes são eficazes quando utilizados
na extinção de incêndios em combustíveis líquidos e em circuitos elétricos energizados,
bem como nos casos de derramamento de combustível no solo que possam desencadear
um incêndio. Portanto, sempre que o regime de descarga do agente extintor esteja
adequado e o seu modo de difusão e de projeção, esteja adaptado à situação,
esses agentes são os mais apropriados para a extinção de incêndios em motores
de aeronaves.
Quando houver um incêndio em um motor que
ponha em perigo os componentes próximos e a estrutura da própria aeronave,
recomenda-se a utilização de outros agentes extintores, pois a necessidade de
evitar a propagação do incêndio para todo o aparelho deve prevalecer sobre o
desejo de conter os danos adicionais nos motores, pelo emprego desse ou daquele
agente extintor.
Nesses casos, pode-se utilizar qualquer
agente, inclusive a própria água na forma de chuveiro, para reduzir os riscos
de exposição às chamas dos tanques de combustível e da fuselagem da aeronave.
Após as operações de combate a incêndios, é importante alertar os responsáveis pela recuperação da aeronave, sobre a natureza do agente extintor utilizado, a fim de que possam tomar todas as medidas preventivas contra a corrosão ou outros efeitos possíveis resultantes da intervenção.
Zonas
de perigo na aproximação de aeronaves.
O pessoal dos serviços de salvamento e
combate a incêndios, quando nas operações de extinção de incêndios em uma
aeronave a jato, deve observar as zonas de perigo quando se aproximarem do
aparelho. Essa distância é de oito metros do tubo de admissão da turbina, para
evitar serem tragados, e de no mínimo quarenta e cinco metros do tubo de
escape, para que não sofram queimaduras produzidas pelo jato.
ÁREA
CRÍTICA
CONCEITO NO QUAL SE TEM COMO META O
SALVAMENTO DOS OCUPANTES DE UMA AERONAVE, BEM COMO O CONTROLE DA ÁREA DE
INCÊNDIO ADJACENTE À FUSELAGEM PARA QUE SEPOSSA MANTER AS CONDIÇÕES TOLERÁVEIS PARA
SEUS OCUPANTES.
ÁREA
CRÍTICA TEÓRICA
É a área dentro da qual pode ser necessário
controlar o incêndio. Serve tão somente como meio para dividir as aeronaves em
categorias. Em função da extensão do risco potencial a que podem ser expostas.
ÁREA
CRÍTICA PRÁTICA
É uma área que abrange todo o contorno da
fuselagem e que representa as condições reais de acidente. Podendo variar em
função da direção e intensidade do vento
OBS: O ESTUDO DAS ÁREAS CRÍTICAS NÃO PRETENDEM
DEMOSTRAR AS PROPORÇÕES MÁXIMAS OU MÍNIMAS DE UM ACIDENTE DE AERONAVE COM
COMBUSTÍVEL DERRAMADO (F34).

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