O evento ocorre em
Manaus (AM) até hoje (29 de novembro), no Auditório da Ciência do Instituto. O
objetivo é divulgar e discutir novas técnicas aplicadas para doenças e controle
biológico, principalmente malária e dengue, e apresentar tópicos que envolvem
biologia molecular e interação parasita.
Pesquisadores e agentes públicos participaram da mesa de
abertura, como o diretor da Fundação de Vigilância Sanitária (FVS-AM),
Bernardino Albuquerque; o diretor de endemias da Secretaria de Saúde do Pará,
Bernardo Cardoso; a representante da Fundação Medicina Tropical, Graça Barbosa;
o pesquisador da Fiocruz (MG), Paulo Pimenta; e um dos coordenadores do
Seminário, o pesquisador do Inpa na área, Wanderli Tadei.
"Buscamos no Seminário colocar pesquisadores e
estudantes junto com o pessoal do serviço de saúde para tentar fazer a
interação e para que a maior parte dos dados possíveis da pesquisa seja
transferida para o serviço e de forma correta", disse Tadei.
O Inpa desenvolve uma série de pesquisas para o combate a
malária e dengue, dentre elas a técnica do cal e cloro que evita proliferação
dos mosquitos da dengue em construções e o uso do cravinho da índia para inibir
que as larvas de mosquito da dengue cheguem à fase adulta. O Instituto faz
parte da Rede Malária com pesquisadores de várias instituições brasileiras e
estrangeiras que tem o objetivo de promover estudos para o combate o vetor da
doença.
De acordo com o mapa da dengue apresentado pelo Ministério
da Saúde, em 19 de novembro último, em 2013, foram registrados 573 óbitos por
dengue no País. No Amazonas, já foram notificados aproximadamente 23 mil casos
de dengue, sendo que nove pessoas morreram pela dengue.
Para o pesquisador associado da Universidade da
Califórnia, o brasileiro Osvaldo Marinotti, apesar de a ciência ter vários
mecanismos para controlar mosquitos vetores, ainda não conseguiu eliminar a
transmissão de malária, dengue, filariose (elefantíase) ou a leishmaniose.
Alternativas são estudadas com esse fim, como o
desenvolvimento de vacinas, novos inseticidas químicos, inseticidas biológicos,
manejo de ambiente de criadouros e a engenharia genética de mosquitos vetores.
Atualmente, duas técnicas principais na engenharia
genética de vetores são desenvolvidas não só na Califórnia, mas em vários
laboratórios do mundo. "Uma é modificar os mosquitos para que eles que não
consigam transmitir doenças e outra é usar mosquitos que têm gene letal
funcionando como sistema de redução de população", disse Marinotti.
Hoje se tem mosquitos em laboratório que são incapazes de
transmitir malária e outros que são incapazes de transmitir dengue. E as
perguntas que os pesquisadores se fazem são: como podemos usar os mosquitos que
temos no laboratório para repor os mosquitos que estão na natureza ou como
poderemos fazer para que o gene do mosquito que está no laboratório vá para os
mosquitos da natureza.
Para isso, a Universidade da Califórnia está desenvolvendo
um sistema chamado de transposon sintético, que talvez venha a resolver esse
problema. "Os dados são preliminares, bastante interessantes e indicam que
se nos colocarmos um gene de resistência no mosquito e nós liberarmos esse
mosquito na natureza, ele cruzando com outros mosquitos vai conseguir fazer com
que esse gene se estabeleça nessa população", explicou Marinotti.
Apesar dos avanços com esse tipo de pesquisa, ela ainda
está restrita aos laboratórios e na opinião de Marinotti talvez demore mais
tempo para chegar a campo, por conta das questões legais e de autorizações em
virtude das discussões sobre os possíveis impactos ambientais.
Já no sistema de redução da população de mosquito vetor,
com a inserção de um gene letal nos mosquitos machos que, liberados em grande
quantidade no meio ambiente, cruzam com as fêmeas selvagens e geram uma cria
estéril, já é usada inclusive na cidade de Juazeiro, na Bahia. A utilização de
Aedes egyptitransgênicos para combater a dengue foi desenvolvida aqui pela
empresa britânica de biotecnologia Oxitec.
"Com uma grande quantidade de machos, podemos
soltá-los na natureza e eles vão lá e cruzam com as fêmeas, mas as fêmeas não
produzem descendência. Então, temos a redução de população. E o enfoque é o
mesmo do inseticida químico ou do biológico: reduzir a quantidade de
mosquitos", contou Marinotti.
Além de Marinotti, também participaram das conferências no
primeiro dia do evento o pesquisador Marcelo Jacobs-Lorena e Sebastian
Hakansson. À tarde houve ainda mesa redonda sobre vetores da malária e do dengue:
estrutura populacional. No dias seguintes, as discussões seguem com mais
conferências, mesas redondas, mini-cursos e aulas práticas. Veja a programação
aqui.
Desenvolvido em Belo Horizonte pela Fundação Osvaldo Cruz
(Fiocruz/MG), o projeto de predição de epidemia da dengue está ajudando a
Secretaria Municipal de saúde da capital mineira a predizer aonde irá acontecer
a dengue, a partir do monitoramento de mosquitos infectados. De acordo com o
pesquisador da Fiocruz-MG, Paulo Pimenta, têm trabalhos que demonstraram que se
pode monitorar a infecção em humanos, conhecendo onde estão os mosquitos
infectados.
"Este trabalho é feito em Minas e estamos iniciando a
colaboração de predição de dengue aqui em Manaus", contou Pimenta, que há
15 anos tem atividades colaborativas com o Inpa e mais recentemente com
a Fundação de Medicina Tropical (FMT-AM).
Segundo Pimenta, diariamente carros distribuem armadilhas
em três das nove regionais da cidade, conhecidas como BG Sentinela. Essas
armadilhas capturam os mosquitos, que depois são identificados (regiões) e
levados para o laboratório onde passarão por um diagnóstico para saber se estão
infectados ou não, assim como acontece com os humanos. "Quando os
mosquitos estão infectados, avisamos a Secretaria Municipal onde ela tem de
atuar para ir combater os focos do mosquito antes que eles infectem os
humanos", disse o pesquisador.
Financiado pela Fundação Bill & Melinda Gates no valor
de US$ 3 milhões, o projeto tem duração de quatro anos e encerra em 2014. No
próximo ano, o projeto espera montar um modelo matemático associando os dados
de campos com outros dados, como condições geográficas, populacionais/
demográficas e números de pacientes, para tentar ter um diagnóstico de onde
ocorrerão os casos de dengue.
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