Anexos
Entrevista
Jorge Ribera para a Revista Emergência (Fev 2016)
Criado
há 25 anos com o objetivo de fornecer serviços médicos para auxílio às ações do
Corpo de Bombeiros, o GRAU (Grupo de Resgate e Atendimento a Urgências)
tornou-se referência em atividades de resgate e trauma no Estado de São Paulo.
Ligado à Secretaria de Estado da Saúde, o órgão possui características
diferenciadas, provenientes do contato com serviços militares, uma vez que
integra um sistema híbrido acionado por meio do número 193, composto ainda pelo
CBPMESP (Corpo de Bombeiros Militar do Estado de São Paulo) e o Grupamento de
Radiopatrulha Aérea da Polícia Militar.
Preservando
uma cultura que envolve disciplina e sinergia, o médico Jorge Ribera, diretor
do GRAU, celebra a parceria com os demais serviços. “Participamos do sistema
com a fração médica, inclusive busca e resgate em estruturas colapsadas. Nosso
médico/enfermeiro é capaz de realizar atividades de bombeiros, quebrar parede,
fazer escoramento. Temos que saber fazer de tudo, porque atuamos em cenas
extremamente difíceis”, relata. Na entrevista a seguir, ele comenta
experiências, capacitação e o papel do órgão em grandes eventos, como a Copa do
Mundo de 2014.
O QUE REPRESENTA O
TRABALHO DO GRAU HOJE PARA O ATENDIMENTO DE URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS?
Nossas
atividades são voltadas para o trauma, embora atendamos casos clínicos também.
Nossa principal filosofia de trabalho é baseada num sistema híbrido, em
conjunto com o Grupamento Águia da Polícia Militar, Bombeiros; também
trabalhamos com o GATE (Grupo de Ações Táticas Especiais da PM), em situações
como sequestros. Assim, acabamos criando uma condição muito similar a do
Sistema de Segurança Pública. Nosso comportamento na cena, bem como no quartel,
é praticamente paramilitar.
O
treinamento também é ostensivo na questão de segurança, seguimos as regras do
Bombeiro e do Grupamento Aéreo (Águia).
Isto
criou uma doutrina que não é comum para o mundo civil. Um médico que atua em
ambiente hospitalar – nossa essência de formação -, não tem a mesma disciplina
necessária no ambiente militar. Isto é lógico e compreensível. Porém, durante
atendimentos que são rotina para o GRAU, o risco é muito alto. Portanto,
trabalhamos num nível de segurança muito elevado, com uma disciplina muito mais
próxima do militar que do civil.
O
fato de os profissionais do GRAU participarem de um regime com ambiente 90%
militar faz com que assimilem este comportamento.
Isto
é um diferencial, sem dúvida. Apesar de sermos um grupo pequeno, estamos em
expansão, o que é fruto da qualidade de nosso trabalho. Procuramos fazer tudo
com muita disciplina, ética e vontade de trabalhar. Se pegássemos o mesmo
grupo, mas atuando sem a parceria militar, talvez não tivesse a mesma
resolutividade.
QUAL
A ESTRUTURA DO GRAU ATUALMENTE?
Estamos
melhorando nossos recursos humanos operacionais, apesar de ainda estarmos
defasados. Não conseguimos completar a escala por enquanto, mas haverá um
concurso em breve.
Também
vimos a necessidade, devido à carência de médicos de forma geral no sistema de
emergência, de desenvolver a Unidade de Suporte Intermediário dentro do GRAU.
Esta ambulância sai com dois enfermeiros e um bombeiro; está num projeto
piloto, sendo testada. Para tanto, fazemos alguns cursos de adaptação para os
enfermeiros deste projeto. Eles, no geral, são excelentes, muito experientes e
já atuam no GRAU há anos. Nas situações de desastres ou múltiplas vítimas, o
enfermeiro tem um papel muito importante na triagem e na intervenção das
vítimas que necessitam de suporte ventilatório invasivo, pois são treinados
para a aplicação de máscara laríngea ou tubo laríngeo, ou seja, dispositivos
supraglóticos que podem ser aplicados enquanto ou quando o médico não está
presente na cena.
O ÓRGÃO ESTAVA TRABALHANDO
PARA FINALIZAR, EM 2014, O PROCESSO DE AMPLIAÇÃO DO SERVIÇO NO INTERIOR. ESTE
TRABALHO FOI CONCLUÍDO?
Contando
com São Paulo, Campinas e São José dos Campos, estamos trabalhando para que o
GRAU esteja presente em um total de 11 cidades, algumas com bases aeromédicas e
terrestres.
As
próximas cidades a receber o GRAU serão Presidente Prudente, Ribeirão Preto e
São José do Rio Preto. A maioria contará com o modelo híbrido, no qual um
helicóptero da PM ficará disponível para policiamento ou resgate. Recentemente,
realizamos concurso para contratar profissionais. Eles estão aguardando somente
nomeação para iniciar o treinamento. Assim que estiverem treinados, serão
abertas novas bases. O treinamento ostensivo para atendimento terrestre costuma
durar dois meses e meio; estamos trabalhando para reduzir este tempo para um
mês.
COMO É REALIZADO ESTE
TREINAMENTO?
De
forma prática, mais do que tudo. Porque, no ambiente pré-hospitalar, você pode
ter três condutas diferentes para uma cena muito parecida. No APH, a cena nem
sempre é tão segura quanto gostaríamos. A distância entre o local da ocorrência
e o hospital faz você mudar a tática, então você acaba modificando sua conduta
diante do tempo até o hospital, do horário, trânsito, se há helicóptero
disponível, agressor ou até tiros na cena. São variáveis que só visualizamos no
local. Por isto, gostamos que colegas de outras cidades venham treinar na
capital paulista. Aqui, nos deparamos com várias situações inusitadas. Não que
elas sejam inexistentes em municípios do interior, mas são mais esparsas. A
ideia é que o colega do interior vivencie o maior número de situações possível
durante o treinamento, para que vá assumir seu posto pelo menos com os
conceitos principais, e possa desempenhar suas tarefas com mais segurança.
DE QUE FORMA SE DÁ A
CAPACITAÇÃO GERAL DOS PROFISSIONAIS DO GRAU, VISTO QUE SUA ATUAÇÃO É AMPLA?
Antes
de entrar no GRAU, este profissional já passou por um concurso, comprovando
seus conhecimentos em APH e trauma.
Então,
damos um curso de adaptação ao serviço, com aulas teóricas sobre os principais
desafios enfrentados em nosso dia a dia: desastres, trauma em crianças, presos
em ferragem, suicidas, sequestros, etc. Também há capacitação em imobilizações,
amarração em maca cesto e transporte, por exemplo – mas isto o bombeiro domina
mais, então é ele quem ensina. A parte mais importante é o estágio, no qual
todos estes conhecimentos serão aplicados sob a supervisão de um membro mais
antigo do GRAU.
Ali,
também verificamos se a pessoa conseguirá se adaptar ao ambiente e rotina de
trabalho. É muito diferente, pois profissionais da saúde são criados no
ambiente controlado. Não é fácil atender uma parada cardiorrespiratória na rua,
com várias pessoas olhando, cobrando o médico ou enfermeiro, com familiares
chorando, pessoas desesperadas, acidentadas, múltiplas vítimas… A equipe médica
tem de conseguir abolir todo este contexto do entorno, o que é muito difícil.
Existem excelentes profissionais oriundos do hospital que não conseguem atuar
no pré-hospitalar com a mesma excelência. Isto não é nenhum demérito, é
simplesmente uma característica que nos diferencia.
DIVERSAS ENTIDADES
TRABALHAM EM PARCERIA COM O GRAU, SEJA NO RESGATE TERRESTRE OU AÉREO. COMO SE
DÁ A RELAÇÃO DE INTEGRAÇÃO DO ÓRGÃO COM ESTAS ENTIDADES?
A
integração é muito boa, porque nosso médico e enfermeiro já entram cientes que
vão trabalhar com militares e terão que se adequar à disciplina militar local.
Fazemos treinamento junto ao anexosbombeiro, na Escola Superior de Bombeiros em
Franco da Rocha/SP. Este período de aprendizado fortalece a relação entre GRAU,
Bombeiros e Polícia. É aplicado treinamento físico, em que lidamos com altura,
transporte em área hostil, enfim, uma série de eventos realizados em conjunto,
que acabam trazendo para os membros do GRAU a segurança de trabalhar com o
bombeiro. Eu diria que a relação com o policial militar e o bombeiro é
excelente, de todos os lados; eles confiam em nós, e nós confiamos neles.
QUAL A IMPORTÂNCIA DESTA
INTEGRAÇÃO PARA O SUCESSO DO SOCORRO EM SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA?
É
difícil falar em um responsável pelo sucesso, porque, quando falamos em trauma,
o sucesso é a prevenção. Embora as pessoas busquem um autor, um herói, isto não
existe. É o sistema resgate.
O
bom atendimento começa com o pessoal do COBOM (Centro de Operações do Corpo de
Bombeiros SP), que faz o diagnóstico mais preciso possível da gravidade e do
que é necessário para o socorro, de como está a situação no local e decide que
viaturas e recursos enviar. Muitas vezes, os mé- ritos vão para um ou outro,
mas o sucesso é o resultado da corrente da vida, e esta corrente não tem um
herói, é um sistema que tem que se relacionar. Hoje, o GRAU tem uma relação boa
com alguns hospitais. Nosso maior valor são as pessoas, os atores de toda esta
cadeia, e a sinergia entre eles, cada um cumprindo o seu papel como a mesma
vontade e empenho. Aí alcançamos o bom resultado.
COMO O SENHOR AVALIA A
CONTRIBUIÇÃO DE NOVAS TECNOLOGIAS, COMO A INTERNET E APLICATIVOS, PARA O
TRABALHO DAS EQUIPES DE EMERGÊNCIA?
A
minha filosofia de trabalho é sair do lugar comum, aprimorar. Temos sempre que
melhorar o atendimento. Eu já não quero só um médico, quero um intensivista na
cena. Em São Paulo, por exemplo, há casos em que chegamos a demorar 30 minutos
para chegar ao hospital e outros tantos minutos para chegar à cena, na luta
contra o trânsito. Esta não é a proposta ideal do pré-hospitalar, devemos
respeitar a golden hour, o paciente tem que estar dentro do hospital na
primeira hora. Para agilizar o atendimento, estamos agregando algumas
sofisticações. Uma delas é o diagnóstico de imagem com ultrassom portátil, e
também um laboratório portátil.
Ali, os profissionais podem antecipar algum procedimento que julguem necessário, até para um diagnóstico/tratamento. Porque, muitas vezes, o diagnóstico do pré-hospitalar é baseado pura e simplesmente na propedêutica, porém há dúvidas que podem ser sanadas, pela propedêutica armada ou exames que teríamos de aguardar chegar ao hospital para realizar. Até durante uma parada cardiorrespiratória, convém uma avaliação laboratorial para ajudar a reanimação, com algumas correções. Existe também o método de diagnóstico por imagem, aplicando o EFAST, que é um ultrassom rápido do tórax e do abdômen que permite a visualização de um agravo, uma hemorragia abdominal, pneumotórax, tamponamento, etc. Enfim, são circunstâncias em que o médico do APH pode ser mais precocemente diagnóstico e terapêutico. São condições que até então eram deduzidas pela cinemática e pelo diagnóstico clínico, porém, com o ruído no local e, às vezes, a precocidade da nossa chegada, alguns sinais podem não estar tão evidentes. Agora, poderemos ser mais precoces e firmes em algumas condutas, se estivermos amparados por um método diagnóstico mais preciso.
EM 2014, UM DOS GRANDES
EVENTOS DESAFIADORES PARA OS SERVIÇOS DE EMERGÊNCIA FOI A COPA DO MUNDO. COMO
FOI A ATUAÇÃO DO GRAU NA COPA?
Na
Copa, nos preparamos para enfrentar várias situações. Ninguém sabia, mas
tínhamos uma equipe tática dentro do estádio, junto com os bombeiros, equipe de
BREC (Busca e Resgate em Estruturas Colapsadas). Médicos do GRAU integravam
esta equipe. Assim, fizemos um trabalho de prevenção muito interessante. Em dia
de jogo da Copa, na Arena Corinthians, montávamos no pátio de manobras Itaquera
do Metrô, uma área para concentração de vítimas, para o caso de um desastre com
mais de centenas de vítimas. Porque, na capital paulista, a evacuação de
vítimas numa ocorrência deste porte seria muito lenta, tanto pela quantidade
quanto pela morosidade do trânsito e acesso das ambulâncias.
Se
houvesse, por exemplo, uma queda de arquibancada, 5.000 pessoas sairiam
feridas. Pensando nisto, montamos um plano de contingência com a preciosa
colaboração do Metrô, que disponibilizou para nós três composições de seis
vagões cada uma.
Montávamos
diariamente uma composição para transporte de 60 vítimas graves, que já ficava
pronta para sair da estação em direção ao centro. O trem pararia em uma estação
prédefinida, que seria fechada para receber as vítimas, e ambulâncias se
deslocariam até esta estação fora do tumulto, já na região central, próxima à
nossa maior concentração hospitalar de unidades públicas e privadas.
Foi
um esquema muito bem elaborado e que não divulgamos na mídia. Diariamente,
bombeiros, médicos, enfermeiros do GRAU e metroviários montavam o trem com
balas de oxigênio, pranchas e caixas de material e equipamentos. O trem ficava
estacionado próximo à Área de Concentração de Vítimas.
Também
anexosestabelecemos uma área de descontaminação em uma das saídas do estádio,
junto ao Exército Brasileiro e o Bombeiro de São Paulo.
Esta
zona de descontaminação ficava ao lado do pátio do metrô, assim, após a
descontaminação, as vítimas seriam conduzidas para a área de concentração de
vítimas.
O EBOLA É UM VÍRUS QUE
CAUSA PÂNICO MUNDIAL
ASSIM COMO ELE, EXISTEM
OUTROS TIPOS DE VÍRUS QUE SÃO TÃO OU MAIS PERIGOSOS E ESTÃO PRESENTES DESDE
SEMPRE NO PAÍS. COMO FOI A PREPARAÇÃO DO GRAU PARA ESTA AMEAÇA DE EPIDEMIA E
QUAL A PREOCUPAÇÃO PARA OUTROS TIPOS DE RISCOS BIOLÓGICOS?
O
bombeiro desenvolve atividades voltadas para produtos perigosos ou QBRN
(Químico, Biológico, Radiológico, Nuclear), e nós fazemos cursos, treinamentos
disto também, pois atendemos nestes cenários. No caso do ebola, tínhamos material,
Equipamento de Proteção Individual e macas especiais, vindas de nossa
preparação para alguma ameaça deste tipo durante a Copa do Mundo. O primeiro
estado a ter o kit para o ebola foi SP, devido a um esforço da Secretaria da
Saúde. Chegamos a lidar com alguns casos suspeitos, fizemos o transporte destes
pacientes, mas eles não tinham ebola. Acho que uma das maiores dificuldades
para este atendimento é o uso do EPI, do ponto de vista ergonômico.
O
macacão esquenta demais, é claustrofóbico, sem ventilação; estamos estudando
melhorias para o EPI. Outro problema é o risco de se contaminar com ebola ou
outro agente durante a retirada do macacão. Nesta hora, o profissional está
cansado, suando e quer se livrar deste EPI. Por isto, fizemos até um treinamento
no qual pintamos as roupas de proteção e alguns colegas tiveram de retirá-las
sem entrar em contato com a tinta, com muito cuidado. Também temos participado
de simulados, em portos e outros locais, junto aos bombeiros.
O GRAU TEM PARTICIPADO NO
AUXÍLIO A TRAGÉDIAS? QUAIS FORAM ELAS E COMO SE DÁ ESTE TRABALHO DE AUXÍLIO EM
OUTROS LUGARES?
Participamos
de apoio a desastres fora de São Paulo desde 2008, quando o Estado enviou
Bombeiros e o Águia para o desastre de Santa Catarina. A partir de então, demos
apoio aos desastres de São Luiz do Paraitinga/SP, Branquinha/AL, no desastre da
região serrana do RJ (cenário de um dos piores deslizamentos do mundo, em
janeiro de 2011, com mais de 300 óbitos), e o último em Itaoca (afetada por uma
enxurrada, em janeiro de 2014, que deixou mais de 20 mortos e 100
desabrigados). Quando ocorre desastre de grandes proporções, dificilmente a
cidade ou estado tem capacidade e recurso para resolver tudo, e outros estados
ajudam.
Mas
tudo segue um trâmite político e não só a nossa vontade. Nestes casos, só vamos
com autorização, representando o Estado. Quando somos enviados para auxiliar em
um desastre, levamos nossos próprios insumos, pois a região já está carente;
logo, o Bombeiro de São Paulo provisiona combustível, alimentação, água,
colchões, etc. Porque não teria sentido ir ajudar alguém e tirar suprimento
dele, que precisa de ajuda. Nossa maior dificuldade é a disponibilidade dos
membros, que fazem de tudo para ajudar, mas têm vários empregos e fica difícil
conciliar. Desta forma, aplicamos revezamento. Porém, não tenho do que
reclamar, pois todos se esforçam muito para responder ao desastre. Dá orgulho
perceber que os membros do GRAU fazem o máximo para sair, e os que não
conseguem, ajudam a cobrir a escala de São Paulo. Geralmente, o GRAU atua em
conjunto com os Bombeiros do Estado de São Paulo, o Grupamento Aéreo e com a
Defesa Civil Estadual, que costuma deslocar agentes até estas localidades.
CONTE UMA EXPERIÊNCIA
MARCANTE DURANTE SUA ATUAÇÃO NO GRAU.
Acho
que todas acabam nos marcando, de forma boa ou ruim.
Nunca
vou me esquecer de um resgate que precisamos realizar algum tempo atrás. Uma
criança de três anos caiu num buraco, em Hortolândia/SP, e o local não era
acessível. A criança havia tido uma convulsão pela manhã e foi ficando difícil
para ela respirar. Fui socorrê-la junto ao tenente Teixeira, do Corpo de
Bombeiros.
Teríamos
que cavar, criar um túnel, e isto iria demorar – fora o risco de o piso ficar
comprometido durante a escavação, o medo que desmoronasse. Ficamos pensando,
até que surgiu a ideia de usarmos outra criança para o resgate, já que caberia
no buraco.
Encontramos
um menino magrinho, e o amarramos de forma segura, para não arriscar perdê-lo.
Conseguimos colocá-lo dentro do buraco, ele amarrou e trouxe a outra criança.
Demoramos cerca de dez minutos para este resgate. Uma das pessoas que assistiu
toda a ação filmou, aquilo foi parar na mídia. O menino que nos ajudou disse
que quer ser bombeiro. Esta é uma circunstância que não me marcou por um ato
médico. O interessante foi o sucesso seguindo uma ideia compartilhada entre
médico e bombeiro. Não havia certo e errado naquela situação, fizemos o que foi
mais adequado e mais rápido, sem risco durante a tentativa. Tivemos medo de que
a criança presa começasse a convulsionar; eu não conseguiria fazer nada, e o
tenente Teixeira também não. Havia o desespero e a comunidade em volta. Foi
possível ver a virtude deste sistema híbrido, no qual temos procedimentos
operacionais padrão, mas existe um diálogo muito bom entre as partes, um
respeito muito grande. O mais importante é desenvolver uma sinergia entre os
profissionais. Muitas vezes, um mais um não dá nem dois, quando existe briga,
vaidade; porém, quando há união, um mais um significa mais que dois, pois existe
harmonia. Assim, o melhor será feito. Às vezes com sucesso, às vezes nem tanto;
mas, com certeza, vai ser feito o melhor.
PERFIL: JORGE RIBEIRA
Formado
em Medicina, em 1987, pela Faculdade de Medicina de Jundiaí/SP, Jorge Ribera
cursou especialização em Cirurgia Geral, no Hospital Ipiranga, e Vascular –
parte no Hospital Ipiranga e parte no Hospital Bellvitge, em Barcelona,
Espanha. Seu primeiro contato com o GRAU ocorreu em 1992, quando o órgão ainda
era chamado Serviço de Atendimento Médico de Urgência (SAMU 193).Chegou a atuar
no Grupo na época. Em seguida, foi a Barcelona para completar sua formação em
Cirurgia Vascular. De volta ao Brasil, trabalhou numa empresa privada de
ambulâncias, APH e transporte aeromédico (1994 a 2000), onde gerenciava os
atendimentos. Regressou ao GRAU em 1998. Atualmente, é diretor do Grupo e autor
do livro “Pré-hospitalar”, escrito em conjunto com outros especialistas
médicos, enfermeiros, bombeiros e policiais.
Fonte:
Revista Emergência
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