25 maio 2021

Anatomia e locomoção das cobras - Guia de Cobras da Região de Manaus - Amazônia Central

Anatomia e locomoção das cobras

 

Os órgãos internos das cobras são muito parecidos com os de outros vertebrados, mas sofreram modificações anatômicas para se ajustarem ao formato cilíndrico e alongado de seu corpo.

 

Alguns órgãos, que geralmente ocorrem em pares em outros animais, foram perdidos ou consideravelmente reduzidos nas cobras.

 

Os pulmões, por exemplo, são órgãos que necessitam de espaço para expandirem durante a respiração.

 

Possuir dois pulmões expandindo a cada ciclo respiratório poderia ser um problema para as cobras, em função do espaço interno reduzido do seu corpo.

 

Esse problema foi resolvido, com a redução de tamanho ou a perda completa do pulmão esquerdo.

 

Para compensar essa perda e garantir que as trocas gasosas sejam realizadas com eficiência, o pulmão direito de todas as cobras é grande e bem desenvolvido.

 

As gônadas (testículos e ovários) geralmente ocorrem em pares, localizados nas laterais da porção posterior do corpo, mas em algumas espécies fossoriais de corpo muito delgado, uma das gônadas foi perdida, como em Tantilla melanocephala, espécie que pode ser encontrada na região de Manaus.

 

Também adaptado ao formato cilíndrico e alongado do corpo das cobras, o estômago é uma continuação do esôfago, e é difícil distingui-los.

 

O fígado é alongado e bilobado. Assim como outros lagartos e aves, as cobras não possuem bexiga urinária, elas excretam ácido úrico, uma substância mais sólida que a urina. Essa é uma adaptação contra a perda excessiva de água.

 

A temperatura do ambiente é um fator importante para a vida das cobras, porque elas são ectotérmicas.

 

Isso significa que não podem manter altas temperaturas corporais por meio de processos químicos internos, iniciados com a energia obtida dos alimentos, como fazem os mamíferos e as aves. 


Algumas espécies de Pítons podem aumentar a temperatura corpórea por contrações musculares, mas geralmente elas fazem isso apenas para incubar os ovos. Assim como outros lagartos, as cobras são excelentes termorreguladoras.

 

Graças ao seu corpo alongado, a área de superfície é bastante grande em relação à massa corporal, por isso elas podem rapidamente tirar vantagem de fontes externas de calor.

 

Pelo mesmo motivo, as cobras podem ganhar ou perder calor muito rapidamente em condições extremas, e portanto, geralmente não ocorrem em regiões com temperaturas muito elevadas ou muito baixas, mas existem exceções. Muitas cobras, como a víbora Bitis peringueyi, vivem em desertos escaldantes, e outras vivem em ambientes muito frios, como a víbora européia Vipera berus.

 

Em temperaturas muito baixas para a termorregulação, as cobras procuram abrigos e se mantêm em baixas temperaturas corporais até que as condições climáticas melhorem.

 

Pouquíssimos mamíferos ou aves são capazes de fazer isso, e a maioria das espécies morreria se a temperatura corporal caísse tanto quanto as temperaturas experimentadas por cobras, inclusive nas regiões tropicais.

 

Algumas estratégias para manter a temperatura do corpo foram desenvolvidas pelas cobras, como enrodilhar o corpo para reduzir a perda de calor (Figura 7) ou usar a circulação sanguínea para concentrar a energia disponível para aquecer órgãos vitais específicos, o que permite com que elas mantenham o calor que obtêm de fontes externas.

 

Figura 7 - Jararaca-pintada Bothriopsis taeniata com o corpo enrodilhado. Essa postura torna a cobra confundível com uma folha caída, mas possivelmente também ajuda a manter a temperatura do corpo. Esta espécie possivelmente não ocorre na região de Manaus.

  

As cobras usam eficientemente as fontes de calor disponíveis no ambiente, e isso provavelmente explica os números maiores de espécies e indivíduos em comparação aos mamíferos, em diversas partes do mundo.

 

A coluna vertebral das cobras é consideravelmente maior do que a de outros vertebrados, e tem a função de suportar as costelas e os músculos, que juntamente com a pele e a disposição das escamas, formam um complexo mecânico responsável pela locomoção.

 

Apesar de não possuírem patas, as cobras se movimentam rapidamente, e possuem adaptações para escalar, cavar e nadar (Figura 8).

 

A maioria das cobras se desloca por ondulações laterais do corpo, a partir de contrações de músculos dispostos em lados opostos da coluna vertebral.



Figura 8 - Apesar de não possuírem patas, as cobras se deslocam com muita habilidade, mesmo por lugares pouco prováveis, como um galho mais fino que o seu próprio corpo.

 

As contrações ocorrem em ciclos que seguem a direção da porção anterior (cabeça) para a porção posterior do corpo (cauda).

 

Por apresentarem o corpo relativamente mais robusto, algumas cobras como Jiboias (Boa constrictor) e Surucucus-pico-de-jaca (Lachesis muta) não conseguem realizar essas ondulações laterais. 

Elas utilizam um movimento semelhante ao de lagartas, com contrações na superfície ventral do corpo, formando ondas regulares na pele. Essas ondas percorrem todo o corpo na direção cabeça-cauda, impulsionando o animal para frente ou para cima.

 

A locomoção também sofreu adaptações interessantes em ambientes extremos.

 

Por exemplo, para se locomoverem por sobre a areia escaldante de desertos, algumas cobras conseguem manter apenas dois pontos de apoio entre o corpo e o substrato.

 

Alternando pontos diferentes do corpo, elas conseguem evitar contato prolongado com a areia, quente suficiente para lhes causar ferimentos.

 

O solo arenoso do deserto não permite a manutenção de túneis subterrâneos, mas algumas cobras conseguem realizar movimentos semelhantes à natação por baixo da areia, para evitar exposição excessiva ao calor extremo.

 

Cobras marinhas geralmente possuem a cauda achatada (comprimida lateralmente) e a utilizam como um leme de barco, para direcionar a natação.

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