26 maio 2020

MANUAL DE DESASTRES HUMANOS - VOLUME II - INCREMENTO DOS ÍNDICES DE CRIMINALIDADE GERAL E DOS ASSALTOS - CODAR – HS.CIC/CODAR – 22.211 - Caracterização - Causas - Ocorrência - Principais Efeitos Adversos - Monitorização, Alerta e Alarme - Medidas Preventivas


INCREMENTO DOS ÍNDICES DE CRIMINALIDADE GERAL E DOS ASSALTOS

CODAR – HS.CIC/CODAR – 22.211


1. Caracterização

O incremento dos índices de criminalidade e dos assaltos, além de ser um grave desastre humano relacionado com convulsões sociais, é um importante sintoma de uma enfermidade social, que contribui para intensificar o clima de insegurança e de violência urbana e rural.


Este incremento da criminalidade se traduz pela intensificação de:

-  assaltos a mão armada contra pessoas isoladas, residências, estabelecimentos comerciais, bancos, hotéis, joalherias, meios de transporte e outras instituições e estabelecimentos;

-  roubos e furtos de automóveis e de outros bens;

-  assassinatos encomendados ou por motivos fortuitos;

-  seqüestro e manutenção das pessoas em cárceres privados, para fins de cobrança de resgates;

-  outras ações criminosas e delituosas.

O incremento da criminalidade gera um sentimento de medo e de insegurança que concorre para desestabilizar a sociedade, que se sente prejudicada na garantia a seu direito à segurança pública e à incolumidade.


2. Causas

Sem nenhuma dúvida, contribuem para incrementar a criminalidade, numerosos fatores relacionados com:

-  a marginalização econômica e social de importantes contingentes da sociedade;

-  o enfraquecimento dos laços de coesão familiar e dos vínculos de vizinhança, relacionados com a coesão das comunidades;

-  a intensificação da alcoolismo, da dependência de drogas e do próprio tráfego de drogas;

-  um certo grau de impunidade dos delinqüentes, relacionado com o enfraquecimento do aparelho policial e com a demora do rito processual.

No entanto, os fatores culturais são extremamente importantes para incrementar ou reduzir a criminalidade.

O Japão e a China são exemplos típicos de países com índices de criminalidade extremamente baixos, por motivos de ordem cultural.
É possível que a filosofia de Confúcio, que o culto das virtudes e que os aspectos relacionados com a valorização do pátrio poder e do culto de respeito aos mais velhos sejam responsáveis pelo incremento dos laços de coesão familiar, que atuam como um poderoso antídoto contra a criminalidade.

A filosofia e os traços culturais destes povos orientais têm como principal objetivo assegurar a harmonização entre os indivíduos e suas famílias. As regras de moderação e de cortesia favorecem as relações interfamiliares e comunitárias e a interação entre as comunidades e o Estado.

Os mais velhos são muito respeitados pelos mais novos, e compete aos pais e aos avós educarem seus descendentes e enriquecerem suas vidas pelo exemplo e pela transmissão de ensinamentos auferidos, ao longo de toda uma vida dedicada ao culto das virtudes, da cortesia e da moderação.

Normalmente, nos países orientais, os laços de coesão familiar são extremamente sólidos e o bom relacionamento com os parentes e vizinhos é extremamente importante, juntamente com o culto aos ícones familiares, aos mais velhos e aos antepassados.

Quando as famílias e as comunidades locais são sólidas, o organismo social é sadio e não existe espaço para a criminalidade e para a delinqüência. Os países árabes, por motivos religiosos e familiares e também pela severidade das penas impostas aos delinqüentes e criminosos, também apresentam baixos índices de criminalidade. 

A severidade das penas sofre fortes influências dos antigos códigos criminais que são conservados por motivos religiosos. Em função da influência dos códigos antigos, a pena de morte é utilizada com maior freqüência, da mesma forma que as penas de mutilação.


Nos países ocidentais, a vulnerabilidade dos grupos sociais à criminalidade é intensificada, em função:

-  do incremento do individualismo e de uma maior fragilização dos laços de coesão familiar;

-  de uma cultura de violência, poderosamente influenciada pela mídia e, em especial, pela televisão que popularizou a violência individual e coletiva;

-  de uma falsa interpretação do liberalismo, onde o culto da liberdade incentiva o individualismo e exacerba a competitividade;

-  de uma estrutura socioeconômica, que facilitou o processo de concentração de rendas e contribuiu para a marginalização econômica, social e cultural de um grande contingente de seres humanos que se sentem fracassados e frustrados em suas expectativas vitais;

-  da ideologia permissivista, que tem por palavras de ordem a frase: “ é proibido proibir” e que prega que todas as pessoas têm direito de satisfazer a todas as curiosidades e não reconhece a importância dos chamados “freios sociais”;

-  de um nível indesejado de impunidade, que aparentemente favorece os infratores e que acaba incentivando a criminalidade.

Recorde-se que, nos países árabes, a severidade das penas e a ética religiosa que influi nos comportamentos sociais contribuem para reduzir os índices de criminalidade.

O incremento do alcoolismo e da dependência de drogas, ao alterar a emotividade das pessoas, induzir comportamentos violentos e reduzir os mecanismos de autocensura, contribuem para aumentar os índices criminalidade.

As lutas entre as quadrilhas pelo domínio do mercado de drogas incrementa a violência e a criminalidade.

É possível que o desenraizamento cultural e a perda da identidade social, provocados pelas migrações intensificadas e pelo êxodo rural, contribuam para incrementar a marginalização socioeconômica e para intensificar a desesperança, a revolta, a violência domiciliar e os índices de criminalidade geral.

Todos estes problemas se intensificam, quando a eficiência do aparelho policial e a agilidade da justiça são reduzidas. É absolutamente indispensável que se eleve a qualidade dos recursos humanos do aparelho policial e se acelere o rito processual.


3. Ocorrência

Com o decorrer do tempo, está se caracterizando uma tendência mundial para que a vida e a segurança dos seres humanos sejam cada vez menos valorizadas e para que a criminalidade seja incentivada.

Certamente, o aperfeiçoamento do aparelho policial e a agilização da justiça são de extrema importância para reduzir a impunidade e para coagir as pessoas, com tendências criminosas a não se delinqüir.

No entanto, é muito importante que se investiguem os motivos que estão incrementando a ocorrência de compartimentos criminosos e anti-sociais.

É absolutamente indispensável que se desperte, em todas as pessoas, a preocupação com os projetos de valorização da vida humana e com a redução das causas do incremento da delinqüência e da criminalidade.

A segurança pública deve ser encarada como um importante dever do Estado e também como um direto e uma responsabilidade inalienável de todos os cidadãos.

Em conseqüência, o Estado e a Cidadania devem se unir, para diminuir os índices de criminalidade e de delinqüência e para valorizar a vida humana e a incolumidade pessoal e patrimonial de todos. Também compete aos cidadãos exigir que o Estado se aparelhe para cumprir este importantíssimo dever.

Este clima de cooperação entre a cidadania e o Estado, para promover a segurança pública e para reduzir a delinqüência, depende da difusão do conceito de polícia comunitária. A “polícia comunitária” depende de uma maior valorização de seus recursos humanos que devem ser educados para atuarem junto com os Núcleos Comunitários de Defesa Civil – NUDEC em atividades preventivas, educativas e de promoção e valorização da vida humana.

A criminalidade e a delinqüência tendem a crescer nas sociedades caóticas. Por este motivo, é de absoluta importância a ação dos NUDEC, com o objetivo de estruturar e fortalecer as comunidades e com o desenvolvimento de lideranças comunitárias altamente positivas.

Sem nenhuma dúvida, a saúde do organismo sociocomunitário depende fundamentalmente da saúde dos núcleos familiares e de vizinhança que os constituem. Por este motivo, é absolutamente indispensável que se incrementem sadias e salutares interações no âmbito dos núcleos familiares e nas relações de vizinhança que congregam os núcleos familiares no tecido social.

Certamente, o incremento da ocorrência da criminalidade, em todo o mundo, relaciona-se com a redução dos laços de coesão familiar. É absolutamente indispensável que os jovens sejam educados e preparados para assumirem corretamente seus papéis de cônjuges e de pais e para priorizarem as relações harmoniosas no núcleo familiar e amistosas com a vizinhança.


4. Principais Efeitos Adversos

A elevação dos níveis de criminalidade e a redução dos padrões de segurança pública são altamente prejudiciais à humanidade e à sociedade.

O mundo moderno convive com uma hiperendemia de traumatismos provocados pela violência e pelos acidentes que se constitui na primeira causa de morbimortalidade geral.

No entanto, se for considerada a primeira metade da vida, ou seja, a faixa etária que se estende dos 5 aos 35 anos, verifica-se que os traumatismos produzem muito mais mortes e internações do que as doenças circulatórias e o câncer, contribuindo para reduzir a expectativa de vida média da população.

Em função da intencionalidade, as lesões provocadas pelos criminosos e delinqüentes costumam ser mais graves, mortais e multilantes do que as lesões acidentais.

Como a criminalidade produz a maioria de suas vítimas, nas camadas mais jovens da sociedade, os danos humanos e os prejuízos econômicos e sociais crescem de importância, em função da redução da expectativa de vida útil dos estratos sociais mais atingidos.


Os estratos sociais mais atingidos pela criminalidade e pela violência são:

-  os homens;

-  os mais jovens;

-  os menos favorecidos.

Nos países do primeiro mundo e nas grandes cidades brasileiras, já se observa uma tendência para que os mais favorecidos abandonem as áreas centrais das cidades, dominadas pelos delinqüentes, e se instalem em condomínios fechados e seguros localizados nas áreas suburbanas.

Em conseqüência, as pessoas pobres passam a ser as vítimas preferenciais do aumento da criminalidade e dos índices de violência urbana.

Os mais atingidos pela violência e pelo incremento da criminalidade são os próprios delinqüentes, cuja grande maioria começa a delinqüir antes mesmo da puberdade e costuma morrer, de morte violenta, antes de completar 30 (trinta) anos de idade.


O incremento da criminalidade, além de agredir preferencialmente a juventude emergente, prejudica o desenvolvimento econômico:

-  os empresários procuram instalar suas empresas nas áreas mais seguras;

-  as atividades turísticas são drasticamente reduzidas, quando se caracteriza um clima de insegurança.


5. Monitorização, Alerta e Alarme

A monitorização da criminalidade deve ter por objetivo detectar as variáveis biopsicológicas, econômicas, sociais e culturais que podem influenciar o seu incremento.

É absolutamente importante que todos os delinqüentes sejam cuidadosamente estudados e submetidos a baterias de testes psicológicos e entrevistas, com o objetivo de se detectar os motivos que os levaram a delinqüir.

A validade científica deste trabalho de coleta de dados facilita a organização de bancos de dados e a análise epidemiológica, com o objetivo de permitir uma melhor compreensão desta grave enfermidade social.

A vigilância social da criminalidade e os estudos epidemiológicos decorrentes facilitam o planejamento estratégico das medidas preventivas que concorrerão para minimizar a importância da criminalidade, como força caótica de desestruturação social.


6. Medidas Preventivas

Sem nenhuma dúvida, a redução da criminalidade e da violência depende do fortalecimento da ordem pública e da redução das expectativas de impunidade. O aparelho policial deve ser fortalecido e otimizado e o Poder Judiciário deve ser incrementado e agilizado.

A garantia dos direitos humanos dos suspeitos de terem delinqüido é extremamente importante, mas não deve ser utilizada como desculpa, para retardar o rito processual e a punição dos culpados. É muito importante que o rito processual seja agilizado e que a severidade das penas seja compatibilizada com a gravidade dos delitos.

Os aparelhos policiais devem valorizar ao máximo seus recursos humanos. Os testes psicológicos e de aptidão profissional devem ser obrigatórios na admissão e a intervalos regulares.

O perfil biopsicológico do policial deve ser cuidadosamente estabelecido para permitir uma correta seleção dos efetivos policiais. Os testes para constatar possíveis dependências de drogas devem ser realizados, pelo menos a cada semestre, envolvendo os efetivos policiais. Não se pode admitir policiais dependentes de drogas como responsáveis pela segurança pública.

A formação dos policiais deve ser motivo de cuidados especiais. É extremamente importante que os mesmos tenham condições de impor sua autoridade e liderança, sem desrespeitar os direitos humanos.

Nenhum policial pode ter dúvidas sobre a importância da conquista das lideranças comunitárias, para a causa da segurança pública.

A opinião pública deve ser absolutamente favorável à segurança pública e desfavorável ao crime e ao banditismo.

No que diz respeito à prevenção da criminalidade, é indispensável que o governo se preocupe em reduzir a imensa dívida social, que foi contraída ao longo da história deste País. É indispensável que os serviços essenciais sejam assegurados a todos e que uma infra-estrutura urbana e habitacional seja estabelecida. O mapeamento de riscos evidentemente contribuirá para que a cidade se desenvolva em áreas seguras.

Mas sem nenhuma dúvida, o programa de mudança cultural é o mais prioritário e importante. As atividades educativas devem ser intensificadas, principalmente no que diz respeito à valorização da vida humana, à promoção da saúde e à promoção social.

Todos os esforços deverão ser desenvolvidos para fortalecer a solidariedade humana, a coesão comunitária e para harmonizar as relações no âmbito familiar.

É absolutamente indispensável que, para a mentalidade das crianças, os pais sejam os melhores exemplos a serem seguidos e não os delinqüentes. Pais companheiros não perdem os filhos para a delinqüência.


Uma verdade deve ser debatida e ensinada: os criminosos morrem cedo. Todo delinqüente reduz pela metade sua expectativa de vida.

Ser violento é ser pouco inteligente. A vida tem que ser valorizada.

É absolutamente importante que a população seja desarmada, pois portar uma arma é exatamente a metade do caminho para usá-la.

A gangues jovens devem ser desincentivadas, os jovens devem aprender a preservar suas individualidades e a escapar do processo de massificação. Ninguém, de bom senso, abrirá mão do livre arbítrio e de sua capacidade de decidir, para se escravizar às decisões do grupo.

A masculinidade se caracteriza pelo instinto de proteção. Homem que é homem protege as pessoas mais frágeis e, em nenhuma hipótese, assume condutas prepotentes e agressoras.

No fundo, as condutas agressoras revelam debilidades psicológicas.
Os jovens devem aprender os “primeiros socorros”, desde a mais tenra idade, e se compenetrarem da imensa importância de se tornarem aptos para salvar vidas humanas.

Todos os cidadãos devem ajudar a ordem pública e denunciar os autores de atos criminosos. Denunciar atos criminosos é um dever da cidadania e, em nenhuma hipótese, uma conduta traiçoeira.

Ao contrário, quem acoberta crimes está traindo os ideais mais puros das comunidades.

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