Serpentes
É bom lembrar que o fato de estarmos calçados com botas de
cano longo não previne totalmente um acidente ofídico. Serpentes podem estar
sobre troncos de árvores ou sobre ramagens, a diversas alturas do chão. Os
acidentes ofídicos ocorrem em todas as regiões e estados brasileiros.
Quatro gêneros de serpentes têm importância médica:
Bothrops (jararacas), Crotalus (cascavel), Lachesis (surucucu) e Micrurus
(corais), compreendendo cerca de 60 espécies. Há uma série de características
distintivas entre as serpentes peçonhentas e as não peçonhentas, porém estas
características nem sempre serão aplicáveis no campo ou a todos os gêneros.
Portanto, diante de qualquer picada de serpente a conduta mais prudente será
matá-la e levá-la junto com o acidentado ao pronto socorro mais próximo. As
serpentes não venenosas dificilmente causam mordeduras.
Cascavel - Yuri F. Messas
Uma característica evidente de grande número de serpentes
peçonhentas é a presença de presas inoculadoras de veneno localizadas na região
anterior do maxilar superior. Entretanto nas corais estas presas são fixas e
pequenas, podendo passar despercebidas. Nunca confie, a não ser que se trate de
um especialista, se alguém disser que determinada coral não é venenosa. Considere
todas potencialmente perigosas. A presença da fosseta loreal, um orifício entre
o olho e a narina da serpente, também é uma característica própria de serpentes
peçonhentas, mas que também falta nas corais. A presença do chocalho na ponta
da cauda identifica imediatamente a cascavel, única que tem esta
característica.
Os acidentes ofídicos são de forma geral mais comuns no
período de setembro a março. No Brasil como um todo, 75% dos acidentes são
causados por jararacas, 7% pela cascavel, 1,5% pela surucucu e 0,5% por corais.
3% dos acidentes, neste caso simplesmente mordidas, são causadas por serpentes
não peçonhentas.
70% dos acidentes ofídicos atingem o pé ou perna e 13% a
mão e antebraço. Isto mostra que o uso de botas e evitar colocar a mão em local
onde pode haver serpentes, já previne um grande número de acidentes. O único
tratamento realmente efetivo nos casos de acidentes ofídicos é o uso de sôro
anti-ofídico. Quando se conhece a serpente causadora do acidente é utilizado o
sôro específico para o gênero em questão, já que o veneno das diversas espécies
de cada gênero é o mesmo. Por isto é importante levar a serpente morta ao local
de atendimento.
Diante de qualquer acidente ofídico em que a possibilidade
de ser serpente peçonhenta não possa ser afastada com certeza, o acidentado
deve ser levado o mais rápido possível a um serviço de saúde que preste o
atendimento a este tipo de agravo. Não se deve aguardar surgimento de sintomas
para fazer isto. O acidentado deve fazer o mínimo de esforço possível (a
aceleração da circulação facilita a disseminação do veneno). Com o mesmo
objetivo deve-se manter o membro afetado abaixo do nível do coração.
Procurar manter-se calmo. Retirar anéis, roupas
restritivas, calçados, etc., antes do aparecimento de edema. Beberagens
diversas e aplicação de materiais diversos sobre o local da picada, de
conhecimento popular, não têm comprovação científica de serem úteis. Cortar o
local da picada para forçar a saída do veneno pode piorar a situação. Nos
acidentes por jararacas (os mais comuns) há manifestações no local da picada e
estes cortes agravam as lesões.
Torniquetes também não são recomendados de modo geral. Nos
acidentes botrópicos, os torniquetes pode acelerar as lesões locais, exatamente
por não permitir a circulação do veneno. A retirada súbita do torniquete libera
uma quantidade grande de veneno podendo causar hipotensão. Apesar de não haver
estudos com elapídeos no Brasil, é aceitável usar uma faixa constritora nos
acidentes por coral, quando o tempo de remoção for excessivamente longo. Também
chupar o local da picada não traz benefício, podendo favorecer a absorção do
veneno.
O ideal é toda vez que for a campo, informar-se
previamente sobre o local mais próximo que presta atendimento anti-ofídico. A
Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, por meio do Centro de Vigilância
Epidemiológica, divulga periodicamente uma lista dos chamados Pontos
Estratégicos que são as instituições de saúde de todo o estado que estão aptas
a fazerem este atendimento. No Estado de São Paulo a referência técnica para o
atendimento de casos de acidentes por animais peçonhentes é o Hospital Vital
Brazil, localizado no Instituto Butantan.
Nenhum comentário:
Postar um comentário