4.3 A INVESTIGAÇÃO DE
INCÊNDIOS
A
investigação de incêndios é a atividade que encerra o ciclo do sistema de
gestão em segurança contra incêndio, sendo vital para garantia do processo
evolutivo contínuo. Devemos constantemente esclarecer que o termo investigação
neste caso distingue-se pelas ações de cunho técnico-científico para inovação e
aprimoramento de uma área específica através da produção de conhecimento advindo
da aplicação de um método teórico ou experimental. Não está inserida neste
contexto a apuração criminal ou indicação de autoria, o que gera por vezesa
percepção de que há conflito de competências com a polícia científica.
Afirma
Braga e Landim (2008) que "a principal razão da investigação é descobrir a
razão de sua causa" para promover ações preventivas e até mudanças na
legislação de SCIE, e assim evitar que situações similares aconteçam.
A
investigação de incêndios no âmbito do sistema de gestão em segurança contra
incêndios pode ser realizada basicamente das seguintes formas: pesquisa por
análise dos cenários de incêndio reais, por ensaios laboratoriais ou por
modelação numérica (computacional); e inferência estatística através do
levantamento descritivo de dados.
Realmente,
o incêndio é um laboratório e uma excelente fonte didática, pois as conclusões
de sua análise produzem vantajosos conhecimentos para a revisão e atualização de
normas por meio da identificação de falhas no dimensionamento das instalações
preventivas, na manutenção e na operação dos sistemas existentes. Ainda que
em piricamente, Fão et al.(1998) distinguiram oportunamente que a investigação
dos incêndios através de análises comparativas e estudos entre casos similares
contribuem para o desenvolvimento de novos equipamentos, métodos preventivos e
técnicas operacionais de combate ao incêndio.
Embora
pareçam inadequados os termos "laboratório" e "fonte
didática" devido a todos os valores em causa, os incêndios ocorrem com
frequência, e as lições devem ser aprendidas para que eles não repitam, sendo
importantes para verificação dos fenômenos de ignição, de propagação e de
comportamento dos materiais, equipamentos e dos sistemas construtivos.
Estudos
laboratoriais em grande escala ainda são um desafio dispendioso para países
como o Brasil, e analisar cenários reais sempre apresentará fatores não
reproduzíveis e inusitados que colaborarão com o melhoramento das medidas e
sistemas a serem implantados futuramente, assim como com o aperfeiçoamento das
técnicas de combate aos incêndios e salvamento depessoas.
Também,
para a validação de modelos numéricos e experimentais, a complementação com
dados provenientes de eventos reais é relevante e necessária, ou seja, todos os
métodos em verdade são complementares para elucidarem os fatos com a
maior cientificidade e verossimilhança possíveis.
Contudo,
quando falamos em cientificidade é inexorável referenciar que uma grande parte
do conhecimento produzido em segurança contra incêndio advém de universidades e
deinstitutos tecnológicos de pesquisa, nacionais e internacionais, os quais produzem
conhecimento fundamentado em métodos científicos, e da mesma forma subsidiam a
gestão da SCIE. Ecomo esta área está afeta diretamente ao desenvolvimento das
engenharias e da arquitetura e urbanismo, carece de laboratórios especializados
e acreditados.
Não
podemos cogitar eficiência dos materiais, equipamentos e sistemas construtivos
sem o apoio primordial de uma rede de laboratórios especializados e com
acreditação padronizada nacionalmente.
Atualmente,
nos casos de inovação tecnológica no Brasil ou de classificação dos
materiais para fins de comercialização no mercado europeu, para serem aceitos os
ensaios perante as autoridades que farão a análise destes projetos e fornecerão
a autorização para sua utilização, o laboratório deve ter a garantia de que seus
ensaios e a consequente classificação seguem padrões mundiais estabelecidos de
repetitibilidade e reprodutibilidade, alcançado pela acreditação destes pelo
Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO), dentro do
Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (SINMETRO)
no caso do Brasil e pelo Instituto Português de Acreditação (IPAC) dentro do
Sistema Português de Qualidade.
Os
procedimentos padronizados e requisitos para acreditação de laboratórios devem
seguir o constante na norma ISO/IEC 17.025. Devemos lembrar que os laboratórios
não reprovam produtos, mas os certificados ou os resultados dos laudos e
relatórios podem ser utilizados pelas autoridades para avaliação técnica dentro
dos requisitos constantes nos regulamentos (SEITO, 2008).
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