05 agosto 2022

6- À ILHA DE MARÉ TERMO DESTA CIDADE DA BAHIA SILVA

 

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Os carás, que de roxo estão vestidos,

São lóios dos legumes parecidos,

Dentro são alvos, cuja cor honesta

Se quis cobrir de roxo por modesta.

A mandioca, que Tomé sagrado

Deu ao gentio amado,

Tem nas raízes a farinha oculta:

Que sempre o que é feliz, se dificulta.

E parece que a terra de amorosa

Se abraça com seu fruto deleitosa;

Dela se faz com tanta atividade

A farinha, que em fácil brevidade

No mesmo dia sem trabalho muito

Se arranca, se desfaz, se coze o fruito;

Dela se faz também com mais cuidado

O beiju regalado,

Que feito tenro por curioso amigo

Grande vantagem leva ao pão de trigo.

Os aipins se aparentam

Coa mandioca, e tal favor alentam,

Que tem qualquer, cozido, ou seja assado,

Das castanhas da Europa o mesmo agrado.

O milho, que se planta sem fadigas,

Todo o ano nos dá fáceis espigas,

E é tão fecundo em um, e em outro filho,

Que são mãos liberais as mãos de milho.

O arroz semeado

Fertilmente se vê multiplicado;

Cale-se de Valença por estranha

O que tributa a Espanha,

Cale-se do Oriente

O que come o gentio, e a lísia gente;

Que o do Brasil quando se vê cozido

Como tem mais substância, é mais crescido.

Tenho explicado as fruitas, e legumes,

Que dão a Portugal muitos ciúmes;

Tenho recopilado

O que o Brasil contém para invejado,

E para preferir a toda a terra,

Em si perfeitos quatro AA encerra.

Tem o primeiro A, nos arvoredos

Sempre verdes aos olhos, sempre ledos;

Tem o segundo A, nos ares puros,

Na tempérie agradáveis, e seguros;

Tem o terceiro A nas águas frias,

Que refrescam o peito, e são sadias,

O quatro A, no açúcar deleitoso,

Que é do Mundo o regalo mais mimoso.

São pois os quatro AA por singulares

Arvoredos, Açúcar, Águas, Ares.

Nesta ilha está mui ledo, e mui vistoso

 

Manuel Botelho

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