05 agosto 2022

3 - À ILHA DE MARÉ TERMO DESTA CIDADE DA BAHIA SILVA

 

3

 

Mais que as da Europa doces, e melhores,

E têm sempre a vantagem de maiores,

E nesta maioria,

Como maiores são, têm mais valia.

Os limões não se prezam,

Antes por serem muitos se desprezam.

Ah se Holanda os gozara!

Por nenhuma província se trocara.

As cidras amarelas

Caindo estão de belas,

E como são inchadas, presumidas,

É bem que estejam pelo chão caídas:

As uvas moscatéis são tão gostosas,

Tão raras, tão mimosas;

Que se Lisboa as vira, imaginara

Que alguém dos seus pomares as furtara;

Delas a produção por copiosa

Parece milagrosa,

Porque dando em um ano duas vezes,

Geram dois partos, sempre, em doze meses.

Os melões celebrados

Aqui tão docemente são gerados,

Que cada qual tanto sabor alenta,

Que são feitos de açúcar, e pimenta,

E como sabem bem com mil agrados,

Bem se pode dizer que são letrados;

Não falo em Valariça, nem Chamusca:

Porque todos ofusca

O gosto destes, que esta terra abona

Como próprias delícias de Pomona.

As melancias com igual bondade

São de tal qualidade,

Que quando docemente nos recreia,

É cada melancia uma colmeia,

E às que tem Portugal lhe dão de rosto

Por insulsas abóboras no gosto.

Aqui não faltam figos,

E os solicitam pássaros amigos,

Apetitosos de sua doce usura,

Porque cria apetites a doçura;

E quando acaso os matam

Porque os figos maltratam,

Parecem mariposas, que embebidas

Na chama alegre, vão perdendo as vidas.

As romãs rubicundas quando abertas

À vista agrados são à língua ofertas,

São tesouro das fruitas entre afagos,

Pois são rubis suaves os seus bagos.

As fruitas quase todas nomeadas

São ao Brasil de Europa trasladadas,

Porque tenha o Brasil por mais façanhas

 

Manuel Botelho

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