AtendimentoPré-Hospitalar
História e contexto
História
Antes
de entrarmos no projeto de fato, é necessário compreender o que é o Atendimento
Pré-Hospitalar ou APH. Este capítulo trará os conceitos e definições que englobam
o universo dos serviços de emergência, desde seu surgimento na antiguidade, até
atingir os padrões atuais.
O
APH nasceu da necessidade de prestar um atendimento imediato, provendo uma
resposta adequada às situações que ocorrem fora do ambiente hospitalar. O APH
se origina ao mesmo tempo que a medicina surge na história: seus conceitos já
faziam parte cotidiano da prática exercida há séculos.
Entrando
um pouco na história do Atendimento Pré-Hospitalar, percebe-se que as guerras,
exerceram um papel fundamental no desenvolvimento de técnicas e conceitos do
que é hoje conhecido como APH. Na Roma antiga foram introduzidos os primeiros
projetos de hospitais de campanha e, séculos depois, as pragas que assolaram a
Europa e devastaram econômica e socialmente o continente, resultaram em
melhorias sanitárias e no cuidado médico, já que se criou uma estrutura de
transporte dos pacientes até o hospital.
Esses
feitos são importantes, mas foi somente durante o reinado de Napoleão que a
medicina de emergência passou por grandes transformações. A maior causa de
óbitos em combate eram de soldados que morriam sem receber qualquer tipo de
tratamento médico. Além disso, as ambulâncias demoravam muito para socorrer e
transportar os feridos. Para resolver esse problema, a Ambulância Voadora foi
criada. Elas eram carroças leves puxadas por cavalos, o que permitia um
atendimento e deslocamento muito mais rápido e eficiente do que era feito até
então, além de levar colchões e medicamentos para o atendimento. Com estas
ambulâncias era possível realizar o atendimento médico no local, com rápida
estabilização e transporte.
Como
foi escrito anteriormente, as guerras foram responsáveis por grandes avanços no
campo do atendimento médico. Na primeira e na segunda guerra mundial, mais
especificamente, houveram avanços expressivos nas técnicas de atendimento,
estabilização e suporte ao trauma, o que reduziu drasticamente a mortalidade no
campo de batalha. Mesmo assim, foi só a partir dos anos de 1950 que as técnicas
de atendimento pré-hospitalar passaram a ser utilizadas em âmbito civil. Os
avanços tecnológicos e a industrialização trouxeram consigo um movimento
migratório para áreas urbanas. Com esse aumento da população nas grandes
cidades, o número de acidentes cresceu proporcionalmente.
Isso
fez com que vários países como Irlanda, Estados Unidos e França começassem a
adotar sistemas de atendimento de urgência.
Na
cidade de Paris, também em 1950, foram introduzidas equipes de reanimação
provendo socorro médico em acidentes, realizando transferência hospitalar e
transporte de pacientes graves. Este sistema obteve grande êxito e foi
expandido para várias cidades francesas. Dez anos depois foi oficializado e
recebeu o nome de SMUR (Service Mobile d’Urgenceet de Réanimation). Em 1968 foi
criado o SAMU (Service d’AideMédicale Urgente) para coordenar as atividades do
SMUR, embora com o mesmo nome do serviço existente no Brasil, não existem
vínculos quaisquer entre ambos. Em 1986 o SAMU foi regulamentado como um
sistema responsável pela atividade de atendimento às urgências e pelo
transporte inter-hospitalar.
No
mesmo período, nos Estados Unidos, surgia o PHTLS ou Prehospital Trauma Life
Support, o primeiro curso de atendimento pré-hospitalar. Criado pelo Comitê de
Trauma do Colégio Americano de Cirurgiões (ACS/COT). Desde seu surgimento o
programa se expandiu para mais de trinta e sete países, incluindo o Brasil.
Este programa representa o mais alto padrão de atendimento ao trauma em todo o
mundo.
Fig. 1 -
Ambulância Voadora
APH no Brasil
Agora
será feita uma pequena contextualização do atendimento médico no brasil e do
serviço de urgência. No início da República no Brasil, as ambulâncias foram
importadas da Europa para dar início ao sistema de atendimento de emergência,
Rio de Janeiro, a capital do país então. O Brasil também sofreu com os mesmos
problemas trazidos pela industrialização em outros países.
Com
aumento populacional em centros urbanos, houve um agravo no número de
acidentes, tanto em fábricas quanto nas ruas, porém os recursos para o
atendimento encontravam-se prejudicados e defasados.
Não
havia organização no transporte de pacientes e os hospitais, em sua maioria, não
dispunham de equipamentos e materiais especializados para o atendimento. Além
disso,a ambulâncias demoravam muito a chegar nos hospitais e os tripulantes
eram totalmente despreparados para atender as vítimas. Os veículos utilizados,
da Prefeitura, Polícia ou Bombeiro não tinham estrutura para transportar
pacientes adequadamente e com segurança. O que em muitos casos resultava em
sequelas provocadas pelo deslocamento.
A
primeira tentativa para criar um sistema de APH foi implementado em 1979 pelo
Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo. Foram implantados as UTE Unidade de
Transporte de Emergência, veículo do tipo ambulância que acompanhava a viatura
de comando de área. O serviço não obteve sucesso, pois contava com um número
reduzido de viaturas, que eram insuficientes para atender a demanda de
ocorrências, além de serem datadas e deterioradas.
Dois
anos após a tentativa de implementação das UTE´s, 1981 foi organizado a CRAPS
Comissão de Coordenação de Recursos Assistenciais de Pronto-Socorro. Esta
comissão era originalmente composta por médicos do pronto-socorro do Hospital
das Clínicas e bombeiros que buscavam estudar e reduzir os problemas comuns nos
serviços de emergência.
O
CRAPS foi de fato o primeiro passo na instauração de um sistema de atendimento
pré-hospitalar funcional e estruturado. trouxeram dos Estados Unidos o que
existia de mais recente em metodologias, técnicas e estratégias em atendimento
de emergência, além de receberem um curso de ATLS (Advanced Trauma Life
Support) curso criado pelo Comitê de Trauma do Colégio Americano de Cirurgiões
(ACS/COT), que posteriormente deu origem ao curso de PHTLS Prehospital Trauma
Life Support.
Uma
segunda comissão foi montada pelo Secretário de Estado da Saúde em 1987, sob a
designação de CAMEESP (Comissão de Atendimento Médico às Emergências do Estado
de São Paulo), tinha como proposta apresentar um programa de enfrentamento às
emergências, que compreendiam a implantação de ações de prevenção, de ações no
APH e reorganização do sistema hospitalar. Este programa recebeu o nome de
GEPRO/Emergência (Grupo de Especial de Programas de Emergências), que tinha
como objetivos: desenvolver, implementar e fiscalizar o programa de
emergências, regionalizar o atendimento de pacientes politraumatizados na
Grande São Paulo. Elaborar princípios fundamentais para um plano de atenção
médica de urgência na área da região metropolitana de São Paulo, estudar e
propor um padrão mínimo de pronto-socorros e de ambulâncias e um padrão mínimo
de pronto-socorros e de ambulâncias.
Sistema Resgate
Em
1989, o GEPRO/Emergência elaborou o Projeto Resgate, uma parceria entre Secretaria
de Estado da Saúde e Secretaria de Segurança Pública. Neste projeto, as
viaturas iriam operar a partir de quartéis do Corpo de Bombeiros e, a
princípio, as viaturas foram projetadas para atender à grandes eventos e
situações com múltiplas vítimas. Eram basicamente um hospital de campanha. Com
o tempo as viaturas foram se adaptando, se tornando menores e mais ágeis.
Entraremos nesse assunto no capítulo dedicado à Unidade de Suporte Avançado.
O
sistema Resgate foi concluído no final de 1989, mas foi somente quando um grave
acidente ocorreu no aeroporto de Cumbica com o vôo Transbrasil 801, que o poder
público se sensibilizou e agilizou o início do
serviço.
A aeronave colidiu com o solo três minutos antes do fechamento da pista,
batendo nas casas e explodindo nas imediações da Avenida Otávio Braga de
Mesquita, arrastando-se na área de um terreno ocupado por favelas do Jardim
Ipanema, Vila Barros, em Guarulhos. Antes que uma segunda explosão, cinco
minutos depois, consumisse o 707, uma equipe de voluntários da Brigada de
Incêndio ainda teve tempo de se aproximar do Boeing caído. A tripulação e
outras dezenove pessoas morreram. Mais de cem ficaram feridas.
No
Começo de 1990, o Projeto Resgate foi oficialmente inaugurado, com a primeira
implantação na zona oeste de São Paulo como projeto piloto. Foi composto por
dezoito Unidades de Resgate, duas Unidades de Suporte Avançado e um
helicóptero. Em seu primeiro ano de implementação, poucas ocorrências foram
atendidas, pois não havia divulgação do número 193. Após uma campanha de
conscientização os números de chamadas foram elevados.
Em
menos de cinco anos, provou-se a extrema importância do Sistema Resgate para a
cidade de São Paulo, de 1.896 ocorrências atendidas em 1990 para mais de 24.000
em 1993 (fonte: Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo).
Evolução
das Ocorrênciasdo Sistema Resgate de 1990 a 2004(fonte: Corpo de Bombeiros do
Estado de São Paulo)
Fig. 3 - Gráfico
da evolução das ocorrências do Sistema Resgate
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