25 maio 2021

Humanos são fascinados por cobras - Guia de Cobras da Região de Manaus - Amazônia Central

 Humanos são fascinados por cobras


Desde os primórdios da história, em muitos povos ao redor do mundo, as cobras têm causado sentimentos contraditórios em humanos, como medo e repulsa, respeito e adoração.


O medo e a repulsa podem ter diversas origens.


O veneno produzido por algumas espécies possivelmente é a principal causa das cobras serem consideradas criaturas perversas. Mas, no Brasil, menos de 14% das espécies têm potencial para causar envenenamento grave em humanos.


E essa porcentagem pode ser ainda mais baixa, se considerarmos que Cobras-corais verdadeiras, embora peçonhentas, raramente mordem.


O medo do veneno possivelmente tem origem no fato de que a maioria das pessoas nunca teve contato direto com uma cobra e nunca recebeu orientação correta sobre como diferenciar espécies perigosas de inofensivas.


Muitos animais instintivamente temem cobras, mas em humanos, o medo possivelmente tem origem cultural ou religiosa.


No Brasil, atualmente a principal religião é o cristianismo, onde uma imagem negativa de uma cobra está retratada nos jardins do Éden, como responsável pela tentação que levou Eva a desobedecer a uma ordem de Deus.


A cobra é associada a ações negativas que podem levar a humanidade à sua própria ruína, como enganação, traição e a culpa pelo pecado original.


Na Amazônia brasileira, muitos caboclos ribeirinhos sustentam lendas, como a da cobra grande, com mais de 30 metros de comprimento, que engole canoas e pessoas.



Figura 27 - Para muitos povos nativos na Amazônia, as cobras não são consideradas malignas, mas símbolos de força e coragem. Índio Borari manuseando uma Periquitamboia Corallus batesii.

 

No entanto, índios amazônicos que mantêm seus costumes tradicionais, podem não ver cobras como criaturas malignas, mas sim como símbolos de força e coragem (Figura 27), reproduzidos em artesanatos e pinturas corporais.


Nas crenças de alguns grupos indígenas, uma grande cobra passeou por sobre a floresta, abrindo caminhos por onde correriam as águas, e dessa forma seriam criados os rios e igarapés.


É fácil entender a importância da cobra grande para esses índios, se considerarmos que eles dependem dos rios e igarapés para sua sobrevivência.


Uma crença muito semelhante é encontrada entre povos nativos da Austrália, como a lenda da Serpente Arco-íris.


Em algumas culturas e religiões, as cobras são admiradas e cultuadas como deusas ou criaturas místicas.


Os antigos alquimistas em sua simbologia utilizavam uma cobra mordendo a própria cauda, o Ouroboro (Figura 28), para representar a eternidade, cuja definição pode estar relacionada à criação do universo.


Figura 28 - Uma cobra mordendo a própria cauda é um símbolo alquimista, denominado Ouroboro, que representa a eternidade ou a própria criação do universo.


Segundo as lendas, o Ouroboro se enrola em torno do mundo, e assim mantém seus pedaços unidos.


Outras religiões, como Hinduísmo e Xamanismo, consideravam cobras como representantes da cura e regeneração, onde a troca de pele simbolizava renovação não apenas física, mas também espiritual.


Os gregos antigos desenvolveram as primeiras formas científicas de medicina, que ainda continham elementos religiosos.


As primeiras práticas científicas da medicina eram realizadas em santuários construídos para o culto de Esculápio, o Deus da cura. Segundo a religião grega, Esculápio, filho de Apolo e Coronis, nasceu de um ovo, na forma de uma serpente.


Esculápio é representado por um ancião com uma serpente enrolada em seu cajado, chamado Caduceu, posteriormente, consagrado como símbolo universal da medicina.


Por influência da mitologia grega, as cobras também estão presentes nos símbolos de diversas áreas da saúde, como a veterinária, odontologia, psicologia e farmácia (Figura 29).


Outra sociedade humana que teve uma relação fascinante e intrigante com cobras foram os egípcios.


Eles eram politeístas (cultuavam vários deuses) e suas entidades divinas tinham origem principalmente em fenômenos naturais e animais, como cachorros, falcões, escaravelhos e cobras.


Provavelmente um resquício comportamental dos nossos ancestrais hominídeos, que não compreendiam fenômenos naturais como raios, trovões, movimentação do sol e da lua, e por isso os cultuavam como entidades mágicas, superiores ou sobrenaturais, o que talvez tenha sido a primeira forma de religião.


Na religiosidade egípcia, Apófis (ou Apópis) era uma serpente gigante maligna.


De acordo com as lendas, o grande Deus Rá, juntamente com outros deuses, como Seth e Kepri, vagavam todas as noites pelo submundo, lutando contra Apófis.


A grande serpente Apófis era considerada uma cobra maligna, mas a luta diária a qual era submetida pelos Deuses mantinha o equilíbrio do mundo terreno.


A deusa uadite também era representada pelos egípcios com a figura de uma cobra.


Segundo as lendas, os faraós eram protegidos contra agressores por símbolos de uadite presentes em suas coroas, que emitiam fogo e expulsavam qualquer um que tentasse atacá-los.



Figura 29 - Os gregos antigos consideravam as cobras como símbolos de sabedoria, e por isso as representavam como símbolos universais para áreas da saúde, como a medicina (A), psicologia (B) e farmácia (C).

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