22 maio 2020

TÍTULO VI - FEBRE TIFÓIDE CID – 002.2 - CODAR – HB. AFT/CODAR 23.206 - Caracterização - Dados Epidemiológicos - Agente Infeccioso - Reservatório - Mecanismos de Transmissão - Distribuição - Períodos de Incubação e de Transmissibilidade - Medidas Preventivas - Controle dos Pacientes, dos Contactos e do Meio Ambiente Imediato - Implicações em caso de Desastre

TÍTULO VI

FEBRE TIFÓIDE CID – 002.2

CODAR – HB. AFT/CODAR 23.206


1. Caracterização


A febre tifóide é uma doença infecciosa sistêmica (que atinge todo o organismo) e que se caracteriza por apresentar:

·  Febre contínua, com freqüência cardíaca relativamente baixa (febre com bradicardia – redução dos batimentos para 60 ou menos, por minuto).

·  Mal-estar geral, acompanhado de dor-de-cabeça (cefaléia) intensa.

·  Comprometimento dos tecidos linfóides, inclusive as placas Peyer, que são os órgãos linfáticos dos intestinos, com enfartamento (inchação) destes tecidos.

·  Crescimento do baço (esplenomegalia).

·  Surgimento de manchas rosadas na pele do tronco.

·  Sintomas intestinais, variando entre constipação intestinal e crises de diarréia.


Nas áreas endêmicas, ocorrem numerosos casos atípicos, com quadros infecciosos leves e inaparentes, que podem evoluir para portadores crônicos de bacilos tifóides.

Por outro lado, a ulceração das placas de Peyer pode provocar hemorragias intestinais e perfurações intestinais com quadros de peritonite.

Ocorrem também quadros de febre contínua e elevada, com pele seca, bradicardia, embotamento mental e queda da acuidade auditiva.

A taxa de letalidade, nos casos não tratados, pode ultrapassar 10%, enquanto que, nos casos adequadamente tratados com antibióticos, cai a níveis inferiores a 1%.

O diagnóstico é suspeitado em função do quadro clínico (febre contínua, sem sudorese e com bradicardia) e dos dados epidemiológicos confirmados laboratorialmente, pelo isolamento do bacilo tifóide no sangue, na fase inicial, e nas fezes e urinas, após a primeira semana. As reações sorológicas se positivam durante a segunda semana.


2. Dados Epidemiológicos


a) Agente Infeccioso

O agente infeccioso da febre tifóide é a Salmonella typhi, com aproximadamente 96 (noventa e seis) tipos sorológicos diferentes.


b) Reservatório

O reservatório da febre tifóide é o homem doente e portador assintomático. Numerosos casos de infecções tifosas crônicas são localizados na vesícula biliar (colecistite tifosa crônica) e, mais raramente, no sistema urinário (pielites ou pielonefrite tifosa crônica).


c) Mecanismos de Transmissão

A febre tifosa é doença de contaminação fecal e, mais raramente, de contaminação urinária. Nesta condição, é transmitida por intermédio da ingestão de água ou de alimentos contaminados, direta ou indiretamente, por bacilos tifóides existentes nas fezes ou nas urinas humanas.

Existem numerosos registros de casos relacionados com a ingestão de ostras, mariscos e outros frutos do mar cultivados em áreas contaminadas por esgotos sanitários.

O bacilo tifóide pode contaminar frutas e verduras cruas, leites não fervidos ou pasteurizados e os laticínios que são produzidos a partir dos mesmos.

Portadores de germes que manipulam alimentos podem provocar surtos epidêmicos localizados em hotéis, restaurantes, albergues, abrigos temporários e asilos.

Insetos, como moscas e baratas, podem atuar como vetores mecânicos da doença.


d) Distribuição

A febre tifóide ocorre em todo o mundo, mas tende a ser controlada em muitas localidades, em conseqüência da implementação do saneamento básico.

A distribuição de água tratada e a implementação dos esgotos sanitários e da limpeza urbana com recolhimento de lixo são as medidas mais importantes relacionadas com o controle da febre tifóide e de todas as demais doenças de contaminação fecal.



3. Períodos de Incubação e de Transmissibilidade

O período de incubação varia entre 1 e 3 meses, em função da quantidade de microorganismos infectantes absorvidos pelo organismo e do nível de resistência imunológica do mesmo.

A transmissão ocorre enquanto o doente e o portador assintomático continuarem a eliminar bacilos viáveis pelas fezes e pela urina.


4. Medidas Preventivas

a) A remoção sanitária dos dejetos humanos (fezes e urina), por intermédio de sistemas de esgotos sanitários dotados de estações de tratamento destes resíduos e de fossas sépticas residenciais, é a mais importante dentre todas as medidas preventivas relativas à febre tifóide e a todas as demais doenças de contaminação fecal. As latrinas devem ser mantidas limpas e desinfetadas e devem ser dotadas de pias, que facilitem a lavagem das mãos após a defecação.

b) A água de abastecimento público ou privado deve ser purificada (clorada e filtrada) e protegida de riscos de contaminação, durante a distribuição. Em situações de risco, recomenda-se que toda a água bebida ou utilizada na cozinha seja fervida e arejada.

c) No caso de abrigos provisórios e de acampamentos, deve ser dada uma atenção muito especial às instalações sanitárias.

d) A Vigilância Epidemiológica deve ser ativada, com o objetivo de detectar surtos epidêmicos de febre tifóide e carac terizar as fontes de infecção e os mecanismos de transmissão, que deram origem ao problema.

e) A Vigilância Sanitária deve intensificar as atividades de controle de qualidade nas indústrias de alimentos e de bebidas e nos estabelecimentos que fornecem alimentos preparados à população, como restaurantes, bares, hotéis e outros.

f) A educação sanitária dos manipuladores de alimento e da população em geral deve ser incrementada em assuntos relativos à prevenção das doenças fecais. Há que enfatizar a importância do asseio corporal, da lavagem escrupulosa das mãos, após defecar e urinar e antes de manipular alimentos, da limpeza das instalações e dos utensílios e da conservação dos alimentos em condições ideais de temperatura.

g) O leite deve ser pasteurizado ou fervido, e os laticínios devem ser protegidos contra contaminações.

h) As instalações e os utensílios utilizados no preparo de alimentos devem ser escrupulosamente limpos e desinfestados de insetos, que possam funcionar como vetores mecânicos de infecções.

i) Após preparados, os alimentos devem ser conservados em refrigeradores, em temperaturas inferiores a quatro graus centígrados, ou em estufas térmicas, em temperaturas superiores a sessenta e quatro graus centígrados.

j) A infância deve ser protegida contra infecções, estimulando a amamentação natural até os seis meses de idade e educando as mães sobre a importância da limpeza das mamadeiras e de outros utensílios utilizados na alimentação das crianças.

Uma especial atenção deve ser dada ao consumo de frutos do mar, oriundos de áreas suspeitas de contaminação por esgotos sanitários.
Em casos de surtos epidêmicos localizados, é desejável que todos os manipuladores de alimentos do estabelecimento causador do problema sejam submetidos à cultura de fezes.


5. Controle dos Pacientes, dos Contactos e do Meio Ambiente Imediato

·  A febre tifóide é uma doença de notificação obrigatória à autoridade local.

·  Durante a fase aguda, os pacientes devem ser isolados e tratados, até que se obtenham três culturas de fezes e de urina negativas para o bacilo tifóide. A desinfecção concorrente e terminal de fezes, urinas e de objetos contaminados pelas mesmas (fômites) deve ser absolutamente rigorosa.

·  O uso de vacinas durante os surtos não é recomendado.

·  A Vigilância Epidemiológica deve buscar, a cada caso, determinar a fonte de infecção e os mecanismos de contacto.

·  O tratamento específico com o antibiótico adequado, nas doses indicadas e durante o tempo indicado é indispensável. Já estão surgindo cepas resistentes ao cloranfenicol e a pesquisa de sensibilidade por intermédio de antibiogramas está se tornando rotineira.


6. Implicações em caso de Desastre

Qualquer desastre que reduza o controle sobre a água e os alimentos ou que prejudique a limpeza urbana e os esgotos sanitários pode provocar surtos epidêmicos de febre tifóide, se existirem portadores crônicos na população vulnerável. 

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