TÍTULO
VI
FEBRE
TIFÓIDE CID – 002.2
CODAR
– HB. AFT/CODAR 23.206
1.
Caracterização
A
febre tifóide é uma doença infecciosa sistêmica (que atinge todo o organismo) e
que se caracteriza por apresentar:
· Febre contínua, com freqüência cardíaca
relativamente baixa (febre com bradicardia – redução dos batimentos para 60 ou
menos, por minuto).
· Mal-estar geral, acompanhado de dor-de-cabeça
(cefaléia) intensa.
· Comprometimento dos tecidos linfóides,
inclusive as placas Peyer, que são os órgãos linfáticos dos intestinos, com
enfartamento (inchação) destes tecidos.
· Crescimento do baço (esplenomegalia).
· Surgimento de manchas rosadas na pele do
tronco.
· Sintomas intestinais, variando entre
constipação intestinal e crises de diarréia.
Nas áreas endêmicas,
ocorrem numerosos casos atípicos, com quadros infecciosos leves e inaparentes,
que podem evoluir para portadores crônicos de bacilos tifóides.
Por outro lado, a
ulceração das placas de Peyer pode provocar hemorragias intestinais e
perfurações intestinais com quadros de peritonite.
Ocorrem também quadros de
febre contínua e elevada, com pele seca, bradicardia, embotamento mental e
queda da acuidade auditiva.
A taxa de letalidade, nos
casos não tratados, pode ultrapassar 10%, enquanto que, nos casos adequadamente
tratados com antibióticos, cai a níveis inferiores a 1%.
O diagnóstico é suspeitado
em função do quadro clínico (febre contínua, sem sudorese e com bradicardia) e
dos dados epidemiológicos confirmados laboratorialmente, pelo isolamento do
bacilo tifóide no sangue, na fase inicial, e nas fezes e urinas, após a
primeira semana. As reações sorológicas se positivam durante a segunda semana.
2.
Dados Epidemiológicos
a)
Agente Infeccioso
O agente infeccioso da
febre tifóide é a Salmonella typhi, com aproximadamente 96 (noventa e seis)
tipos sorológicos diferentes.
b)
Reservatório
O reservatório da febre
tifóide é o homem doente e portador assintomático. Numerosos casos de infecções
tifosas crônicas são localizados na vesícula biliar (colecistite tifosa
crônica) e, mais raramente, no sistema urinário (pielites ou pielonefrite
tifosa crônica).
c)
Mecanismos de Transmissão
A febre tifosa é doença de
contaminação fecal e, mais raramente, de contaminação urinária. Nesta condição,
é transmitida por intermédio da ingestão de água ou de alimentos contaminados,
direta ou indiretamente, por bacilos tifóides existentes nas fezes ou nas
urinas humanas.
Existem numerosos
registros de casos relacionados com a ingestão de ostras, mariscos e outros
frutos do mar cultivados em áreas contaminadas por esgotos sanitários.
O bacilo tifóide pode
contaminar frutas e verduras cruas, leites não fervidos ou pasteurizados e os
laticínios que são produzidos a partir dos mesmos.
Portadores de germes que
manipulam alimentos podem provocar surtos epidêmicos localizados em hotéis,
restaurantes, albergues, abrigos temporários e asilos.
Insetos, como moscas e
baratas, podem atuar como vetores mecânicos da doença.
d)
Distribuição
A febre tifóide ocorre em
todo o mundo, mas tende a ser controlada em muitas localidades, em conseqüência
da implementação do saneamento básico.
A distribuição de água
tratada e a implementação dos esgotos sanitários e da limpeza urbana com
recolhimento de lixo são as medidas mais importantes relacionadas com o
controle da febre tifóide e de todas as demais doenças de contaminação fecal.
3.
Períodos de Incubação e de Transmissibilidade
O período de incubação
varia entre 1 e 3 meses, em função da quantidade de microorganismos infectantes
absorvidos pelo organismo e do nível de resistência imunológica do mesmo.
A transmissão ocorre
enquanto o doente e o portador assintomático continuarem a eliminar bacilos
viáveis pelas fezes e pela urina.
4.
Medidas Preventivas
a) A remoção sanitária dos
dejetos humanos (fezes e urina), por intermédio de sistemas de esgotos
sanitários dotados de estações de tratamento destes resíduos e de fossas
sépticas residenciais, é a mais importante dentre todas as medidas preventivas
relativas à febre tifóide e a todas as demais doenças de contaminação fecal. As
latrinas devem ser mantidas limpas e desinfetadas e devem ser dotadas de pias,
que facilitem a lavagem das mãos após a defecação.
b) A água de abastecimento
público ou privado deve ser purificada (clorada e filtrada) e protegida de
riscos de contaminação, durante a distribuição. Em situações de risco, recomenda-se
que toda a água bebida ou utilizada na cozinha seja fervida e arejada.
c) No caso de abrigos
provisórios e de acampamentos, deve ser dada uma atenção muito especial às
instalações sanitárias.
d) A Vigilância
Epidemiológica deve ser ativada, com o objetivo de detectar surtos epidêmicos
de febre tifóide e carac terizar as fontes de infecção e os mecanismos de
transmissão, que deram origem ao problema.
e) A Vigilância Sanitária
deve intensificar as atividades de controle de qualidade nas indústrias de alimentos
e de bebidas e nos estabelecimentos que fornecem alimentos preparados à
população, como restaurantes, bares, hotéis e outros.
f) A educação sanitária
dos manipuladores de alimento e da população em geral deve ser incrementada em
assuntos relativos à prevenção das doenças fecais. Há que enfatizar a
importância do asseio corporal, da lavagem escrupulosa das mãos, após defecar e
urinar e antes de manipular alimentos, da limpeza das instalações e dos
utensílios e da conservação dos alimentos em condições ideais de temperatura.
g) O leite deve ser
pasteurizado ou fervido, e os laticínios devem ser protegidos contra
contaminações.
h) As instalações e os
utensílios utilizados no preparo de alimentos devem ser escrupulosamente limpos
e desinfestados de insetos, que possam funcionar como vetores mecânicos de
infecções.
i) Após preparados, os
alimentos devem ser conservados em refrigeradores, em temperaturas inferiores a
quatro graus centígrados, ou em estufas térmicas, em temperaturas superiores a
sessenta e quatro graus centígrados.
j) A infância deve ser
protegida contra infecções, estimulando a amamentação natural até os seis meses
de idade e educando as mães sobre a importância da limpeza das mamadeiras e de
outros utensílios utilizados na alimentação das crianças.
Uma especial atenção deve
ser dada ao consumo de frutos do mar, oriundos de áreas suspeitas de
contaminação por esgotos sanitários.
Em casos de surtos
epidêmicos localizados, é desejável que todos os manipuladores de alimentos do
estabelecimento causador do problema sejam submetidos à cultura de fezes.
5.
Controle dos Pacientes, dos Contactos e do Meio Ambiente Imediato
· A febre tifóide é uma doença de notificação
obrigatória à autoridade local.
· Durante a fase aguda, os pacientes devem ser
isolados e tratados, até que se obtenham três culturas de fezes e de urina
negativas para o bacilo tifóide. A desinfecção concorrente e terminal de fezes,
urinas e de objetos contaminados pelas mesmas (fômites) deve ser absolutamente
rigorosa.
· O uso de vacinas durante os surtos não é
recomendado.
· A Vigilância Epidemiológica deve buscar, a
cada caso, determinar a fonte de infecção e os mecanismos de contacto.
· O tratamento específico com o antibiótico
adequado, nas doses indicadas e durante o tempo indicado é indispensável. Já
estão surgindo cepas resistentes ao cloranfenicol e a pesquisa de sensibilidade
por intermédio de antibiogramas está se tornando rotineira.
6.
Implicações em caso de Desastre
Qualquer desastre que
reduza o controle sobre a água e os alimentos ou que prejudique a limpeza
urbana e os esgotos sanitários pode provocar surtos epidêmicos de febre
tifóide, se existirem portadores crônicos na população vulnerável.
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