22 maio 2020

TÍTULO II - FEBRE AMARELA - CODAR – HB.VFA/CODAR 23.102 - Períodos de Incubação e de Transmissibilidade - Caracterização - Dados Epidemiológicos - Agente Infeccioso - Reservatórios e Agentes Transmissores - febre amarela urbana - febre amarela silvestre - Suscetibilidade e Resistência - Medidas de Controle - Medidas Preventivas - Medidas de Vigilância Sanitária - Participação da Defesa Civil


TÍTULO II

FEBRE AMARELA

CODAR – HB.VFA/CODAR 23.102

1. Caracterização

A febre amarela é uma doença infecciosa viral, de curta duração e de gravidade variável, podendo, em alguns casos, ser mortal.

Os casos mais benignos apresentam um quadro clínico indefinido que, muitas vezes, permite suspeitar de uma infecção viral inespecífica.

Os casos de mediana gravidade podem ser confundidos com os de dengue.


Nos quadros clássicos, a doença evolui em três fases:

1) Na primeira fase - o vírus da febre amarela se multiplica nos tecidos linfáticos e nos órgãos hematopoiéticos (formadores do sangue). Esta fase, chamada de fase de multiplicação, é assintomática.

2) Na segunda fase - os vírus invadem a corrente sanguínea, onde continua o processo de multiplicação. Esta fase, chamada de viremia, se caracteriza por iniciar com febre acompanhada de calafrios que, em poucas horas, atinge níveis de 39 a 40 graus centígrados. A fase de viremia dura em média 3 (três) dias. Nesta doença, a associação entre a febre elevada e o pulso lento e cheio (sinal de Piaget) é muito típica.


Caracteristicamente, a febre é acompanha de:

·  dor de cabeça intensa (cefaléia), dores musculares (mialgia), dores articulares (artralgia) e de dores localizadas ao longo da coluna dorso-lombar (raquialgia);

·  prostração intensa;

·  sinais de congestão arterial ativa, como rubor e vermelhidão das conjuntivas oculares;

·  dores abdominais, que podem ser acompanhadas por náuseas, vômitos e hemorragias precoces.


3) Na continuação - os vírus se fixam nos tecidos, especialmente, nos rins, no fígado e no baço e ocorre a fase toxêmica que, normalmente, aparece após um período enganador de remissão e se caracteriza por apresentar febre, sintomas urinários, sintomas hemorrágicos e sintomas hepáticos:

·  a temperatura volta a subir, acompanhada de congestão venosa, com o paciente apresentando as extremidades com uma coloração arroxeada (cianose);

·  os sintomas renais se exteriorizam pela eliminação urinária de grandes quantidades de soroalbumina (albuminúria com cilindrúria – presença de cilindros renais na urina), redução da quantidade de urina eliminada (oligúria) e, nos casos extremos, diminuição ou supressão da excreção urinária (anúria);

·  As lesões hepáticas são exteriorizadas pelo crescimento do fígado (hepatomegalia), pela coloração amarelada das conjuntivas e da pele (icterícia) e pelo aumento da bilirrubina no sangue e das transaminases;

·  As hemorragias acentuam-se e difundem-se, podendo ocorrer no nariz (epistaxes), nas gengivas, no útero (metrorragias), no aparelho urinário (hematúrias) no tubo digestivo (hemorragias gastrointestinais), acompanhadas de vômitos escuros (hematêmese) e de fezes líquidas e alcatroadas (melena).


Se o paciente sobreviver à fase toxêmica, começa a convalescer após 8 (oito) dias de doença e demorará algum tempo para se recuperar completamente, mantendo-se fraco e com cansaço fácil (astênico), por alguns meses.

Os exames inespecíficos de urina revelam albuminúria, cilindrúria e, algumas vezes, hematúria.

Os exames de sangue revelam hemoconcentração, leucopenia (redução do número de glóbulos brancos), redução do número das plaquetas e do aumento do tempo protrombina, elevação das transaminases e da bilirrubina.

O diagnóstico específico é caracterizado pela identificação do vírus, provas sorológicas específicas e por biópsias hepáticas e deve ser confirmado em laboratório de referência.

É importante recordar que, durante os surtos epidêmicos, além do quadro clássico acima descrito, ocorrem numerosos casos semelhantes aos de dengue e quadros febris benignos semelhantes aos das viroses inespecíficas.

Entre as populações autóctones de zonas endêmicas, a letalidade pode ser inferior a 5%, podendo atingir níveis superiores a 5% entre pessoas não autóctones (visitantes) e durante os surtos epidêmicos que extravasam a região endêmica.


2. Dados Epidemiológicos

a. Agente Infeccioso

Da mesma forma que o dengue, a febre amarela é uma arbovirose causada por um vírus do Grupo B – fagovírus – de padrão flavovírus. A febre amarela é uma zoonose (doença de animais) freqüente entre os macacos, sendo adquirida acidentalmente pelo homem, que é um hospedeiro pouco importante no ciclo da doença.


b. Reservatórios e Agentes Transmissores

Existem duas formas de febre amarela que são diferenciadas apenas pelos mecanismos de transmissão:

- febre amarela urbana;

- febre amarela silvestre


No caso da febre amarela urbana, que já não ocorre no Brasil, mas que pode voltar a ocorrer, o reservatório é o homem e o agente transmissor é o Aeges aegypti, que também atua como transmissor do dengue.

No caso da febre amarela silvestre, os reservatórios da doença são os macacos dos gêneros Alouatta (guariba), Cebus (macaco-prego), Atelos (cuatá ou macaco-aranha) e Callinpheix (mico), no caso específico do Brasil, onde não está totalmente afastada a hipótese de que marsupiais (gambá) também sejam ocasionalmente contaminados. Os mosquitos silvestres mais comumente infectados pelo vírus são dos gêneros Aedes e Haemagogus (A. leucocelaenus, A.

spegazzini e H. carricornii). Não ocorre transmissão de um homem ou de um macaco para outro, mas a transmissão transovárica, entre os mosquitos silvestres, pode contribuir para manter a infecção na área endêmica.


c. Períodos de Incubação e de Transmissibilidade

No homem, o período de incubação, que ocorre entre a picada infectante e os primeiros sinais e sintomas da doença, varia entre 3 e 6 dias. O sangue do paciente torna-se infectante para o mosquito desde o dia imediatamente anterior ao surgimento da febre e se mantêm entre 3 e 5 dias. O mosquito torna-se infectante a partir de 8 a 12 dias, após picar um animal infectado e se mantém nesta condição durante toda a sua vida.


d. Suscetibilidade e Resistência

A doença confere imunidade duradoura e não se conhece um único caso de segundo ataque. Nas zonas endêmicas, são comuns as infecções benignas e inaparentes, que conferem imunidade permanente.

Os lactantes, nascidos de mulheres imunes, possuem imunidade passiva até os 6(seis) meses de idade.

Em casos de doença ou de vacinação, os anticorpos aparecem no sangue, a partir da primeira semana.


e. Distribuição

A febre amarela é uma doença africana e americana e não ocorre na Ásia, na Oceania, nem nos países africanos banhados pelo Oceano Indico e muito menos na Europa e na América do Norte, acima do México.

Na África ainda ocorrem surtos epidêmicos de febre amarela urbana em localidades contíguas às regiões cobertas por florestas tropicais, onde a febre amarela é enzoótica, cabendo registrar a de Gâmbia, ocorrida em 1979/80. 

Neste continente, a área enzoótica desenvolve-se na região florestada ao sul do Saara, abrangendo Angola, Gana, Zâmbia, Uganda, Quênia, Etiópia, Somália, Sudão e República Democrática do Congo.

Na América do Sul, a febre amarela é enzoótica na região norte e na bacia Amazônica. Ocorrendo casos esporádicos do México até a Argentina, com exceção de El Salvador, Uruguai e Chile. 

Os surtos de febre amarela urbana transmitida por Aedes aegypti foram controlados, a partir de 1942, mas em 1954 ocorreu um pequeno surto em Trinidade.

No Brasil, são considerados dentro da área enzoótica os seguintes Estados: AC, AM, RO, RR, MT, PA, AP, TO e GO. No ano de 2000, foram registrados casos autóctones de Febre Amarela Silvestre, no Distrito Federal.


3. Medidas de Controle

a. Monitorização, Alerta e Alarme

A vigilância epidemiológica acompanha a densidade de mosquistos Aedes aegypti em cidades e localidades situadas próximas das florestas equatoriais, onde a febre amarela é enzoótica. As áreas de matas ciliares densas e povoadas por macacos explicam a propagação por áreas de cerrado e o aparecimento de casos no DF.

Qualquer caso suspeito de febre amarela, em seres humanos, deve ser obrigatoriamente comunicado à autoridade sanitária e investigado.

O encontro freqüente de macacos mortos é indício de surto enzoótico, especialmente quando se comprova a ocorrência de icterícia e de hemorragias. Nestes casos, o envio aos laboratórios de referência de cortes de fígado destes primatas, fixados em formol, permite a caracterização de lesões hepáticas típicas.


b. Medidas Preventivas

A melhor maneira de controlar a febre amarela silvestre, transmitida por mosquitos do gênero Haemagogus e por espécies silvestres do gênero Aedes, é a imunização, que se recomenda para todas as pessoas que moram ou viajam para zonas enzoóticas. A vacina produzida no Brasil, com vírus viáveis da cepa 17D, cultivados em embrião de galinha, é absolutamente eficaz.

Os anticorpos aparecem após uma semana da vacinação e persistem por até 17 anos.

Recomenda-se a vacinação e revacinação a cada 10 anos, a partir dos seis meses de vida.

Os riscos de disseminação urbana são reduzidos por intermédio da eliminação do Aedes aegypti. Infelizmente, está se observando uma falta de continuidade das campanhas de combate a este mosquito, o que está comprometendo os programas de erradicação desta espécie de mosquito doméstico.


c. Medidas de Controle dos Pacientes, dos Contatos e do Meio Ambiente

A notificação do caso à autoridade sanitária é obrigatória em todos os países do mundo.

Todos os contatos familiares e vizinhos que ainda não foram imunizados são vacinados imediatamente. 

O inquérito epidemiológico buscando investigar os mecanismos de transmissão do caso específico também é obrigatório.

Não existe tratamento específico para a febre amarela, mas o tratamento sintomático, em unidades de tratamento de pacientes de alto risco, deve ser tentado.
  
d. Medidas de Combate em Caso de Surtos Epidêmicos


1) Em caso de riscos de surtos de febre amarela urbana devem ser tomadas as seguintes medidas:

· vacinação em massa de toda a população que não tenha sido vacinada nos últimos 5(cinco) anos;

· imunização de todos os macacos, nas cidades com jardins zoológicos;

· aspersão de todas as casas da localidade com inseticidas eficientes;

· aplicação de larvicidas em todas os criadouros e incremento de campanha de combate a pequenas coleções de água que possam ser utilizadas como criadouros pelas fêmeas.


2) Em caso de riscos de surtos de febre amarela silvestre:

· a vacinação contra febre amarela deve ser rotineira e obrigatória, em áreas enzoóticas;

· os viajantes só poderão penetrar nas áreas enzoóticas 10 dias após a vacinação;

· é importante que a vigilância sanitária mantenha uma constante observação sobre os macacos encontrados mortos e que amostras de tecidos hepáticos destes animais sejam levadas para exame em laboratórios de referência.


3) Medidas de Vigilância Sanitária:

As atividades de vigilância sanitária nos aeroportos e nas faixas de fronteira de países onde a febre amarela é enzoótica devem ser estendidas aos viajantes, aos mosquitos e a primatas importados.


e) Participação da Defesa Civil

A Defesa Civil desempenha importante papel na:

· promoção de campanhas educativas, a partir do envolvimento das COMDEC e NUDEC;

· mobilização de órgãos setoriais e de voluntários para apoiar a ação dos agentes de saúde no combate aos transmissores e nas atividades de vacinação em massa.

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