g) Estudo das Formações Litorâneas
As formações florísticas litorâneas
são extremamente importantes e ocorrem ao longo de todo o litoral brasileiro,
onde se pode distinguir três padrões de vegetação:
- praiana
- tabuleiros litorâneos
- manguezais
1) Vegetação dos Manguezais
A
vegetação dos manguezais ocorre nas reentrâncias da costa brasileira,
constituídas por baías, estuários de rios e costas de rios e costas de
dálmatas.
As
costas de rios ocorrem tipicamente em todo o litoral norte do estado do
Maranhão, no litoral da Região Bragantina do Estado do Pará e no litoral do
Estado do Amapá.
Este
litoral resulta da imersão de numerosos vales fluviais que foram modelados
pelos processos de erosão e de sedimentação fluvial e que foram ocupados pela
elevação do nível do mar, como conseqüência do degelo que vem ocorrendo nos
últimos 18.000 anos, como resultado da regressão do último período de
glaciação.
As
costas de dálmatas, ocorrem muito tipicamente no litoral sul do estado de São
Paulo,onde são identificadas numerosas ilhas, penínsulas e restingas alongadas,
que se desenvolvem em sentido paralelo ao do litoral e que são separadas do
continente por golfos estreitados e canais naturais. As costas dálmatas
resultaram do afogamento de um relevo de dobras, como conseqüência da elevação
do nível do mar, causada pelo degelo.
Na
grande maioria das vezes, as baías e os golfões foram causadas por movimentos
tectônicos que abriram chanfraduras ao longo do litoral brasileiro. Normalmente
numerosos rios confluem para estas baías e alteraram a configuração primitiva
das mesmas, em função do processo de sedimentação.
Áreas
de mangue são encontradas no litoral brasileiro do Amapá até Santa Catarina.
A
vegetação que se desenvolve no mangue é halófila (adaptada a solos
salinizados), intertropical e latifoliada perene. As árvores de mangue, apesar
de crescerem em ambiente úmido, apresentam xeromorfismo acentuado, porque no
caso das águas salinizadas, a pressão osmótica funciona em sentido inverso ao
do organismo, dificultando a absorção de água pelas raízes destas plantas. Em
conseqüência, a elevada concentração do sal no meio líquido externo, a
deficiência de oxigênio e a presença de sais do ácido húmico existente nas
vazas dificultam a absorção da água.
O
manguezal é constituído de árvores e arbustos de tronco fino, folhas grossas e
coreáceas, constituíndo um único estrato arbóreo.
Dentre as espécies vegetais que se
desenvolvem neste meio ambiente, há que destacar o:
- mangue-vermelho (Rhizophora mangle), cujo
tronco é sustentado por grossas raízes-escoras basais, que o fixam no lodo
movediço. Normalmente as raízesescoras são dotadas com organelas respiratórias
(pneumatóforos) que são capazes de absorver o oxigênio diretamente do ar
atmosférico. A casca do caule é rica em tanino e as folhas são espessas e
coreáceas.
- mangue-branco (Laguncularia racemosa) possue
caule fino e reto que é sustentado por raízes pivotantes e não dispõem de
raízes-escoras. Suas flores são pequenas e em cachos e seus frutos pequenos e
drupáceos flutuam na água. Normalmente esta arvoreta se desenvolve em áreas
mais consolidadas.
- mangue-amarelo (Avicenia nítida) e o
mangue-siriuba (Avicena tormentosa) chamadas sereíba ou siriuba, que em
tupi-guarani significa árvore do siri é parecida com o mangue-branco e seu
tronco fino, de madeira duríssima era utilizado pelos índios na produção de
bordunas.
Os
manguezais funcionam como criadouros de peixes, moluscos e crustáceos e, por
atuarem como grandes “creches” desempenham um papel extremamente importante,
tanto no desenvolvimento da fauna marinha, como no da fauna fluvial.
A
crescente destruição dos manguezais, provocada pela corrida imobiliária, está
contribuindo para aumentar o despovoamento dos estuários dos rios, das lagoas e
lagunas e dos mares que banham as costas dos estados brasileiros.
2) Vegetação Praiana
No
litoral arenoso do Brasil, compreendendo as praias e as restingas, ocorre uma
vegetação acentuadamente xeromórfica.
O xeromorfismo surgiu como uma
adaptação deste complexo florístico aos seguintes fatores adversos:
- Solo arenoso, pouco fértil e seco em suas
camadas mais superficiais.
- Ventos fortes e constantes que exercem uma
função ressecadora muito intensa, além de transportarem partículas de areia que
podem danificar folhas muito delicadas.
- Ação das marés excepcionalmente altas, que
pode submergir parte das plantas.
Na área praiana o estrato mais baixo é
constituído de bionuliáceas, epífitas, convalvoláceas e leguminosas. Dentre as
espécies praianas há que destacar as seguintes:
- O picão-da-praia ou carrapicho (Malampodium
divaricatum), conhecidíssima vegetação rasteira que se desenvolve na orla da
praia e cujos espinhos incomodam as pessoas desavisadas, que não têm prática de
se locomover na praia.
- A salsa-da-praia (lpomoea pés-caprae), que é
uma planta herbácea rasteira, da família das convalvoláceas, dotadas de raízes
profundas, folhas grossas, verdes, brilhantes e arredondadas. Esta vegetação,
quando bem desenvolvida, contribui para fixar as areias das dunas.
- O feijão-da-praia (Canavalia obtusifohia),
planta herbácea e rasteira da família das leguminosas, também dotadas de raízes
profundas, folhas largas e espessas, flores róseo-púrpuras e, como todas as
leguminosas, produzem vagens contendo sementes pardacentas.
Num
segundo plano, nas áreas de restingas, surge uma vegetação arbustiva
constituída por arvoretas das seguintes famílias: leguminosas, mirtáceas,
solanáceas, sapotáceas, cactáceas e rubiáceas.
3) Vegetação dos Tabuleiros Litorâneos
No
Nordeste do Brasil, normalmente, a chamada vegetação dos tabuleiros litorâneos
cresce sobre terrenos sedimentares do Grupo Barreiras, que se desenvolveram ao
término do terciário. Os terrenos dos tabuleiros são constituídos por depósitos
síltico-argilosos, arenosiltosos e nitidamente arenosos, em conseqüência,
apresentam solos pouco férteis e inconsistentes e sujeitos a riscos de
escorregamento de solo, quando muito escarpados.
A
vegetação dos tabuleiros guarda semelhanças com a vegetação das restingas e com
a dos cerrados, que há 12 mil anos atrás se estendia até o litoral do Nordeste
Oriental.
Da vegetação comum ao cerrado e aos
tabuleiros, há que destacar:
- Cajueiro
O
cajueiro (Anacardium Occidentalis) é uma das árvores frutíferas brasileiras
mais importantes do Nordeste e, em especial, do Ceará que é o Estado brasileiro
que mais produz cajus.
O pedúnculo do caju é riquíssimo em
vitamina “C” e vitamina “A” e possui apreciáveis concentrações de sais de
cálcio, ferro, magnésio, potássio e iodo. Apenas duas frutas são mais ricas em
vitamina “C” que o caju:
- O camu-camu, das matas de várzea da Amazônia,
que é, dentre todas as frutas conhecidas, a mais rica em vitamina “C”.
- A acerola, de origem caribenha e muito bem
adaptada no Brasil.
O
caju é largamente consumido “in natura” e sob a forma de refresco, também
chamado cajuada. Em alguns locais do Nordeste chama-se de cajuada à mistura do
suco do caju, com leite e com a farofa da amêndoa da castanha assada. A
cajuada, preparada desta forma, é altamente nutritiva.
O
suco de caju filtrado, engarrafado e cozido em banho-maria é denominado de
cajuína, tem uma belíssima cor âmbar e é delicioso.
O
mocororó é preparado com o suco fermentado, podendo ser cru ou fervido.
A
geropiga é preparada com a cajuína, que é cozida até perder metade de seu
volume, depois misturada com álcool, sendo usada como vinho licoroso.
O
suco fermentado e envelhecido em tonel de madeira transforma-se em vinho de
caju.
A
amêndoa da castanha de caju, que se consome torrada, é uma guloseima deliciosa,
rica em proteínas, gorduras vegetais e em calorias, e possui apreciáveis
quantidades de sais de fósforo, cálcio, magnésio, ferro e iodo. Barras de
chocolate com castanha de caju torrada são itens freqüentes nas rações de
emergência, por apresentarem um elevado valor calórico.
Por
ser item importante na alimentação do homem nordestino, antes da descoberta do
Brasil, esta fruta, por ocasião de sua safra, era motivo das chamadas “guerras
de caju” que ocorriam todos os anos, envolvendo índios do interior e do
litoral.
- Araçazeiro
O
araçazeiro (Psidium littorale) e a goiabeira (Psidium guayava) são fruteiras da
família das mirtáceas, cujos frutos deliciosos são muito ricos em vitaminas ‘A”
e “C”, além de apresentarem apreciáveis quantidades de sais minerais, de
fósforo, cálcio e ferro.
As
goiabas e os araçás são consumidos “in natura” e sob a forma de doces,
compotas, geléias e sorvetes. A sobremesa de goiabada com queijo é muito típica
e, no Nordeste, costuma ser servida aos hóspedes que são bem vindos.
- Mangabeira
A
mangabeira (Hancornia speciosa), da família das Apocináceas é uma arvoreta
espontânea nos tabuleiros arenosos e nos cerrados do Brasil.
O
fruto, chamado mangaba, na língua tupi-guarani significa “coisa boa de comer” e
faz jus ao nome.
A
mangaba catada no chão, após ser amadurecida, pode ser consumida “in natura” ou
sob a forma de refrescos, doces ou licores, e se caracteriza pelo aroma suave e
pelo sabor delicado. O sorvete de mangaba é um dos mais apreciados em todo o
Nordeste.
- Coqueiro da praia
O
coqueiro-da-praia ou coqueiro-da-baía (Coccus nucífera) é uma palmácea
naturalizada no Brasil que, nos dias atuais, está totalmente incorporada à
paisagem das praias e dos tabuleiros litorâneos do Nordeste.
O
estado brasileiro que mais produz cocos é a Bahia, seguido pelos estados do
Ceará, Sergipe e Rio Grande do Norte.
O
albúmem do coco pode ser consumido ”in natura” ou sob a forma de cocada e de
outros doces deliciosos. O leite-de-coco, que é preparado a partir do albúmem é
um ingrediente muito utilizado na culinária brasileira. A água-de-coco é
riquíssima em sais de sódio, potássio, cálcio, iodo e magnésio e se constitui
no melhor reidratante natural que se conhece, podendo ser favoravelmente
comparada com o soro hidratante chamado Ringuer Lactato.
Infelizmente,
a vegetação natural dos tabuleiros litorâneos do Nordeste vem sendo duramente
atingida pela “corrida imobiliária”. De todas as fruteiras citadas, as que
correm maiores riscos de erradicação são o araçazeiro e a mangabeira.
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