Lepidópteros
O lepidopterismo é o acidente causado pelo contato com
larvas (erucismo), casulos ou adultos (mariposa) de lepidópteros. Em nosso meio
ocorrem três forma de lepidopterismo: a) dermatite vésico-urticante por contato
com larvas urticantes (taturana) ou certas tóxicas da mariposa Hylesia sp; b)
periartrite falangeana por pararama e c) síndrome hemorrágica por Lonomia. As
taturanas (termo indígena que significa "semelhante ao fogo") ou
lagartas-de-fogo, são larvas de lepidópteros, que dispõem em suas cerdas de
peçonha que ao contato com a pele causam dor intensa, com prurido e eritema
locais e "íngua".
A lesão evolui com vesículas, edema e eventualmente
bolhas, quadro que pode persistir por até 10 dias. Necrose local é rara. O
tratamento consiste apenas em tratamento local com anestésico, corticóides
tópicos, analgésicos. Uma compressa de água fria pode aliviar os sintomas.
As fêmeas adultas do gênero Hylesia têm na porção distal
do abdomen cerdas microscópicas que se desprendem e, atingindo a pele, causam
um eritema pruriginoso que evolui para reação micropapular que pode chegar à
formação de vesículas e exulcerações. Obviamente as lesões só ocorrem nas áreas
descobertas do corpo e duram de uma a duas semanas. O tratamento pode ser feito
com anti-histamínicos via oral ou parenteral (para o prurido), compressa fria
local, e pomadas de corticosteróides. Atraídas pela luz e em revoadas, invadem
os domicílios facilitando o contato.
Nos seringais cultivados no Pará, a larva da mariposa
pararama, Premolis semirufa, dotadas de cerdas injuriantes, atinge os
trabalhadores destes seringais, causando lesões crônicas que comprometem as
articulações falangeanas, agravo conhecido como doença dos seringais ou
reumatismo dos seringueiros ou ainda pararamose. O contato causa queimação,
como nas demais espécies de lagarta. Exposições mais prolongadas podem levar à
artrite crônica deformante.
A Lonomia é uma mariposa da família Saturniidae cuja
lagarta é venenosa. Habita principalmente as matas, gostando de lugares úmidos
e sombrios. Alojam-se nas árvores. A fêmea da mariposa é de cor cinza escuro e
o macho amarelo alaranjado, ambas com uma lista transversal sobre as asas.
Casal de Lonomia copulando. Roberto Moraes - Instituto
Butantan
Lagartas
Lonomia obliqua - Yuri F. Messas
As lagartas atingem até 7 cm , são gregárias, ficando
agrupadas durante o dia nos troncos de árvores. Têm cor marrom esverdeada e
espinhos ramificados em forma de árvore de natal, de cor verde. Um carater
distintivo é uma mancha branca em forma de "U" no dorso. Gostam de
sombra e umidade, sendo por isto seu hábitat natural a mata. Podem invadir
quintais de casas.
O envenenamento se dá pelo contato com a lagarta. O veneno
age destruindo o fibrinogênio, tendo assim grande poder hemorrágico. O quadro
clínico varia de acordo com a quantidade de veneno inoculada. Vai desde quadros
leves com ardor intenso e edema locais, passando por hemorragias pequenas nas
mucosas ou em cicatrizes, sem alterações hemodinâmicas até os casos graves, com
hemorragias digestivas, renais, pulmonares e do sistema nervoso central. Pode
haver acometimento dos rins levando a insuficiência renal. Os sintomas se
manifestam de 1 a
12 horas após o contato.
Este agravo começou a ser melhor conhecido no Brasil
apenas em 1983, quando ocorreram casos no Amapá e no Pará. Mais recentemente
ganhou notoriedade com o registro de casos nos estados do RS, SC, PR e SP, com
maior concentração nos dois primeiros. Nesta região a espécie implicada é a
Lonomia obliqua, que parasita árvores silvestres como o araticum, cedro,
figueira-do-mato, ipê, aroeira, tapiá (Alchornea) e também espécies exóticas
como o pessegueiro, abacateiro, ameixeira, nespeira, pereira e outras
frutíferas de pomar.
O Instituto Butantan produz o soro antilonômico, específico
para estes acidentes. Os acidentados devem fazer repouso absoluto para evitar
traumas que possam levar a sangramentos e serem levados com urgência para
receberem atenção médica especializada.
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