História do
Afogamento
Dentre as causas externas, o afogamento foi sem
dúvida um dos primeiros a causar preocupações e chamar a atenção da humanidade,
tendo várias passagens bíblicas onde se descrevem as primeiras tentativas de
ressuscitação em afogados.
A ciência ortodoxa da época considerava que ao
morrer o espírito tinha de ser julgado, e esta “vontade de deus” não podia ser
contrariada. A possibilidade de tentar uma ressuscitação era considerada uma
blasfêmia. Passamos ao século 18, onde a aceitação do conhecimento do corpo
humano tornou-se mais aceita, e com ela a necessidade de desenvolvimento de
métodos científicos que levassem ao conhecimento, em um período chamado
“Iluminismo”.
Os quatro principais componentes da ressuscitação
(respiração, compressão-circulação, fenômeno elétrico e serviços de emergência)
começaram a ser conhecidos e desenvolvidos.
O homem tentava restaurar o calor e a vida ao
corpo frio e inerte, aplicando objetos quentes sobre o abdome ou chicoteando-o
com urtiga ou outros instrumentos. Nos períodos compreendidos entre, o século
18 e o século 20, diversos métodos manuais de reanimação foram utilizados,
alguns até como rituais. O índio norte-americano enchia a bexiga de um animal
com fumaça e depois passava a espremê-la no reto da vítima afogada.
Os métodos de ressuscitação na sua maioria
visavam inflar ou desinflar os pulmões, manipulando o tórax e/ou o abdome da
vítima. A maioria, porém, sem conhecimento fisiológico adequado, raramente
resultava em sucesso.
Uma das primeiras citações científicas sobre a
utilização da respiração boca-a-boca na ressuscitação apareceu no ano de 1744.
Um cirurgião Escocês, William Tossach, utilizou a manobra para reanimar com
sucesso uma vítima asfixiada por inalação por fumo.
O primeiro esforço organizado na luta contra a
morte súbita foi realizado em Agosto de 1767, na cidade de Amsterdã, com a
criação da primeira sociedade de ressuscitação “Maatschappij tot Redding van
Drenkelingen” (Sociedade para Recuperar vítimas de afogamento - existente até
os dias de hoje).
Quatro anos depois de iniciado o trabalho da
Sociedade em Amsterdã, 150 vítimas de afogamento haviam sido salvas seguindo às
recomendações (“guidelines”) da época:
● Aquecer a vítima (recomendado até hoje);
● Remover roupas molhadas (recomendado até hoje);
● Drenar água dos pulmões posicionando-se a vítima com a cabeça mais baixa
que os pés (parou-se de recomendar em 1993);
● Estimular a vítima com técnicas tais como instilação de fumaça de
tabaco via retal ou oral (parou-se de recomendar em 1890);
● Utilizar o método de respiração boca-a-boca (recomendado até hoje);
● Sangrias (parou-se de recomendar há mais de 60 anos).
Em 1817, um médico Inglês, professor de medicina,
Marshall Hall (1790 a
1857) publica seu livro, intitulado “Handbook of National Science of Medicine
for Theologist”, no qual a compressão cardíaca e a respiração boca-a-boca eram
preconizadas como métodos de reanimação.
Pouco tempo depois, Henry Silvester sugeriu
elevar os braços da vítima sobre sua cabeça, de forma a expandir desta maneira
a caixa torácica facilitando a entrada de ar aos pulmões, e em seguida o
socorrista colocava as mãos da vítima e as suas por sobre o peito do afogado de
forma a comprimir o tórax e exalar o ar.
Benjamin Howard, um médico de Nova York, criticou
as manobras de Hall e Silvéster e descreveu seu próprio método, conhecido como
método direto. Colocava-se a vítima sobre uma elevação e enquanto um ajudante
segurava a língua, o ressuscitador realizava pressão, iniciando no abdome
superior até o tórax em uma freqüência de 15 vezes por minuto.
Em 1884, Braatz sustenta a recomendação da
compressão cardíaca e respiração artificial como método de tratamento da parada
cardíaca.
Em 1890, a “Royal Lifesaving United Kingdom”
(Sociedade de Salvamento aquático do Reino Unido – existente até hoje e
responsável pelo salvamento aquático na Inglaterra) formou um comitê para
avaliar as técnicas existentes. O presidente do comitê, Edward Schafer,
considerou todas as manobras ineficientes e criou uma nova manobra técnica chamada
de “Prono-pressão”.
Apesar de toda oposição que teve, a Cruz Vermelha
Americana começou a ensiná-la em 1910 (20 anos após). O método de Schafer
tornou-se muito popular devido a sua simplicidade de aplicação, requerendo
apenas uma pessoa. Consistia em realizar a expiração ativa e a inspiração
passiva e ficou conhecido como método indireto de ventilação artificial.
No Brasil, com seu grande litoral em praias e com
o turismo desenvolvido na Cidade do Rio de Janeiro, o processo de desenvolvimento
da ressuscitação acompanhou de forma semelhante o que ocorreu em todo mundo.
Todos os métodos de ventilação indireta (Schafer,
Holger-Nielsen, Marshall Hall, Howard, Silvester, e outros) foram idealizados
com dois propósitos principais: a ventilação artificial e a retirada de água do
pulmão nos casos de afogamento.
Estes métodos são extremamente cansativos para o
socorrista e difíceis de serem mantidos além de 5 minutos. Foram baseados na
idéia de retirar água do pulmão do afogado, o que hoje em dia se mostra
desnecessário e até prejudicial. Foram idealizados antes da noção da compressão
cardíaca, sendo possível ainda sim sua realização conjugada, porém com grandes
dificuldades em casos de PCR.
A partir da metade do século 20, com a melhor compreensão
da fisiologia aliada a pesquisa, os métodos de ressuscitação foram
aperfeiçoados. Diversas conferências sobre reanimação foram realizadas, entre
elas a pioneira de 1948, realizada pela “National Academy of Science - National
Research Council” (NAS-NRC), promoveram a divulgação e o debate amplo entre
sociedades e autoridades médicas, na tentativa da padronização de condutas.
James Elam foi o primeiro investigador
contemporâneo que demonstrou que o ar expirado através do boca-a-boca era
suficiente para manter uma adequada oxigenação.
O médico Dr Peter Safar dedicou sua vida a
investigação da ressuscitação, realizou experiências em voluntários
anestesiados que lhe permitiram chegar em 1957 a três conclusões
principais sobre a respiração boca-a-boca:
● Simplesmente inclinando a cabeça da vítima para trás se pode abrir as
vias aéreas.
● A respiração boca-a-boca fornece uma excelente respiração artificial.
● Qualquer pessoa pode aplicá-la facilmente e de forma efetiva.
A história do afogamento no Brasil se iniciou na
Cidade do Rio de Janeiro, na época capital do País, privilegiada por belezas
naturais incomparáveis, com grande destaque as suas praias e favorecidas por
clima de natureza tropical funcionaram como a principal fonte de lazer e
atração turística, determinando um fluxo permanente e intenso de banhistas de
todo o mundo durante o ano inteiro. Entretanto, as belezas de seu litoral na
maioria das vezes escondem que suas praias, com ondas e correntezas fortes,
podem tornar-se potencialmente perigosas com risco de afogamentos. Estas
características tornaram a cidade do Rio de Janeiro uma das regiões com o maior
índice desta forma de acidente no país. Sensível a esta realidade, em 1914, o
Comodoro Wilbert E. Longfellow fundou na cidade do Rio de Janeiro, então
capital da República, o Serviço de Salvamento da Cruz Vermelha Americana.
Nesta época, o objetivo era o de organizar e
treinar Guarda-Vidas voluntários, que atuariam em postos de salvamento, não
apenas no Rio de Janeiro, mas por todo país, supervisionando praias
desguarnecidas. Sentindo a ineficiência de tal estratégia, adotou uma campanha
a nível nacional, cujo slogan foi: “Toda Pessoa deve saber nadar e todo nadador
deve saber salvar vidas”, na tentativa de despertar a população para o problema
da segurança nas praias de todo o Brasil.
O crescimento demográfico explosivo, a intensa
emigração para a cidade do Rio de Janeiro e a melhoria das condições de vida da
população a partir dos anos cinqüenta, provocaram um aumento do contato do
homem com o mar, alertando as autoridades da época para a necessidade da
criação de um serviço de salvamento e resgate especializado em acidentes
aquáticos. Criou-se, então, em 1963, o Corpo Marítimo de Salvamento – Salvamar,
subordinado à Secretaria de Segurança Pública, que iniciou suas atividades com
um grupo pequeno de amadores recrutado entre pessoas com afinidade e
experiência para este tipo de socorro na praia.
muito obrigado por publicar esse texto, pois estou estudando a historia do afogamento e foi muito bem explicativo.
ResponderExcluirBoa noite...
ExcluirFico feliz por estar ajudando.
Obrigado pela visita e abração à você e aos seus Familiares...