RESGATE EM AMBIENTE CONFINADO
Procedimentos Básicos
Medidas preliminares são adotadas antes do início da operação para dar
maior segurança ao bombeiro, facilitando o serviço e, ao mesmo tempo,
proporcionando maior rapidez durante a sua execução.
Mapas ou projetos das galerias
O ideal seria que tivéssemos os projetos das galerias a mão para o
uso, principalmente em ocorrências de emergência, mas essa não é a nossa
realidade. O projeto da galeria permite conhecer as diversas ramificações
encontradas no seu interior, bem como onde se localiza o seu ponto inicial e se
há desembocadura em uma galeria principal ou mesmo num rio, além de demarcar os
pontos de fuga.
Condições meteorológicas
Antes de iniciar uma operação em uma galeria é imprescindível que se
saiba as condições meteorológicas, para que a guarnição não seja surpreendida
no seu interior pelas águas provenientes das chuvas. Para que uma galeria de
determinado local se inunde, não será preciso que chova somente ali. Se chover
em um local distante e a galeria desse bairro desembocar na galeria que se está
operando, esta ficará inundada. Por esse motivo, é necessário que as condições
meteorológicas sejam analisadas em toda a região, porque durante a operação o
tempo poderá mudar e, somente em situações emergenciais, e mesmo assim,
adotando-se uma série de medidas de segurança, é que se pode entrar numa
galeria quando há chuvas a menos de 10 km de distância. Poderá ocorrer também
que numa determinada cidade sem galerias chova, havendo desnível, a água
correrá pelas ruas até encontrar uma boca-de-lobo e pode inundar a galeria da
cidade onde não esteja chovendo.
Além dos sinais normais de chuvas como as nuvens cinzentas e baixas,
outras observações podem ser feitas como a velocidade do vento medida pelo
deslocamento das nuvens no céu; a coloração das águas dos rios próximos (quando
estiverem avermelhadas, indicam chuvas ocorrendo no leito do rio).
Seqüência das operações e procedimentos
Estacione a viatura segundo a técnica ou doutrina específica, na zona
restrita e de forma a oferecer proteção à equipe que trabalhará no PV da
galeria, isso significa estacionar a viatura antes da tampa, a fim de
proporcionar proteção física à guarnição. A maioria dos PVs de galeria fica
justamente nas vias de trânsito, bem no meio da pista, sendo as de maior vazão sob avenidas e vias de trânsito rápido, o que
faz do estacionamento um procedimento importantíssimo. Determine qual tampa a
ser aberta poderá evitar acidentes e proporcionar maior segurança às equipes.
As tampas mais próximas da calçada e em ruas tranqüilas têm preferência sobre
as demais, principalmente em casos não emergenciais.
No momento da chegada no local da ocorrência, o comandante do socorro
ou chefe de guarnição deverá verificar se realmente há fortes indícios de que a
vítima tenha entrado na galeria ou tenha sido arrastada pela correnteza. Essas
informações determinarão o caráter emergencial ou não da exploração.
Informações obtidas com familiares são mais confiáveis e podem indicar que a
pessoa já tenha sido encontrada.
De posse de informações concretas da ocorrência, o comandante de
guarnição deverá informar ao centro de operações, confirmando a natureza da
ocorrência e solicitando apoio se necessário. Nesse ato, o comandante deverá
solicitar também informações meteorológicas na região e se está chovendo a
menos de 10 km do local. Havendo chuva a menos de 10 km é proibido percorrer a
galeria. Somente é permitido descer pela escada, até a altura da água e fazer
uma exploração visual, sempre preso ao cabo guia. Mesmo que a galeria esteja
seca não é permitido se distanciar a mais de 20 metros da tampa, sempre
ancorado com cabo guia.
A galeria, normalmente, possui uma lâmina de água, a qual pode
aumentar, repentinamente. Nesse nível saia imediatamente. A ocorrência de som
característico e de vento no interior da galeria também determina a saída
imediata.
Havendo chuva na região, o comandante do socorro ou chefe de guarnição
deverá verificar se os rios próximos estão cheios, pois a água do rio pode
encher as galerias. Solicite ao centro de operações informações periódicas do
tempo.
O primeiro procedimento é o de verificar externamente por onde corre a
galeria e abrir duas tampas no sentido que se deseja percorrer, sendo um caso
de procura de cadáver o sentido a ser seguido é o de declive. O objetivo desse
procedimento é ventilar o local antes da entrada da guarnição e permitir a
referência da iluminação da tampa aberta para a guarnição de exploração.
Uma vez identificada a direção e o sentido a ser percorrido, pode-se
então reavaliar o primeiro estacionamento feito e corrigi-lo, se necessário.
É importante abrir sempre duas tampas, uma por onde a guarnição deverá
entrar e outra à frente servindo como referência para o sentido a ser seguido,
ponto de fuga e ventilação. Sempre existirão duas tampas abertas. Uma por onde
a guarnição acabou de passar e outra por onde a guarnição, obrigatoriamente,
passará. Antes de se fechar uma tampa, uma outra deve ser aberta antes, ou
seja, abre-se a terceira tampa e só depois se fecha a primeira.
Para abrir a tampa é necessário, muitas vezes, retirar algumas placas
de asfalto que ficam aderidas. Muitas até chegam a estar parcialmente
concretadas ou recobertas de asfalto. Após utilizar duas picaretas colocadas
nos orifícios da tampa, com duas pessoas, faça uma alavanca com essas
ferramentas para girar a tampa no sentido indicado pela seta, destravando-a.
Uma vez destravada, utiliza-se também as picaretas, a tampa poderá ser
levantada.
Esse processo pode ser demorado e a guarnição de exploração não pode
seguir em frente sem que as tampas estejam abertas. É imprescindível que a
guarnição de exploração aguarde a abertura das tampas para a sua própria
segurança.
É importante também que as tampas sejam novamente colocadas no lugar e
devidamente travadas, pois, se não forem, em dias de chuva a força das águas
pode levantar as tampas e, com isso, ocorrerão novos acidentes, tanto de
pessoas que podem ser arrastadas para o interior da galeria, quanto acidentes
de trânsito.
Antes da entrada, deverá ser monitorado o ambiente interno da galeria
com os equipamentos disponíveis (explosímetro, oxímetro ou detector de gases),
não havendo esses equipamentos, pode-se presumir algo por meio de odores
característicos. Havendo indícios de gases tóxicos, irritantes ou inflamáveis,
não corra riscos desnecessários, solicite a viatura que contenha tais
medidores. Não podendo ser medida a porcentagem de oxigênio, considera-se
inferior a necessária para a respiração, então o uso de EPR será obrigatório. É
importante lembrar que alguns gases são inodoros, mas tóxicos; que o efeito de
muitos deles pode ser sonolência ou sensação de cansaço, portanto, não se
arrisque, qualquer sintoma adverso saia da galeria.
Lembre-se, antes de entrar, faça ventilação.
Havendo indícios de contaminação da atmosfera por gases ou mesmo por
falta de oxigênio, uma boa opção é a de fazer uma ventilação forçada valendo-se
de um exaustor, com o qual se fará, inicialmente, a ventilação do local por
onde a guarnição entrará e, em seguida, essa ventilação será feita a duas
tampas à frente no sentido de deslocamento da guarnição de exploração. Se a
guarnição localizar alguma pessoa com vida no interior da galeria, esse tipo de
ventilação será importante.
A ventilação utilizada será sempre a de pressão positiva, a qual
deverá ser colocada a extremidade da manga junto à entrada.
A regra será de manter duas tampas abertas quando for usada somente a
ventilação natural e de manter sempre três tampas abertas quando for usada a
ventilação forçada. Nesse caso, a primeira tampa será por onde a guarnição
deverá entrar, sendo feita uma ventilação primária enquanto a guarnição se
prepara; a segunda, como ponto de fuga e referência pela luz que vem da
superfície e que não pode ser coberta pela manga do exaustor impedindo a
referência da equipe de exploração, devendo então ser aberta uma tampa à frente;
a terceira, para se fazer a ventilação forçada renovando-se o ar por onde a
equipe irá passar.
Equipe-se com EPI necessário (bota cano longo, capa de bombeiro,
capacete adequado). Para a entrada deve ser colocada somente a máscara facial
do EPR pedindo a ajuda de outro bombeiro para descer o cilindro de ar, pois com
o equipamento colocado nas costas se torna muito difícil a passagem pela tampa.
Nas galerias onde não será necessário um grande deslocamento,
recomenda-se o uso de linha de ar que facilite a entrada e a saída através dos
PVs. Em espaços confinados de diâmetros reduzidos onde somente uma pessoa
consegue passar, é recomendado o uso de linha de ar.
Existe o risco de eletrocussão nas estações elétricas subterrâneas que
pode ser agravado pelo uso de equipamento autônomo de proteção respiratória.
Nesse caso, o cilindro de ar que fica nas costas do usuário além de dificultar
o seu equilíbrio, também aumenta o seu diâmetro, o que prejudica a sua noção de
espaço podendo encostar-se em algum ponto energizado. Em razão disso, se torna
muito perigoso entrar numa galeria com o cilindro nas costas. O ideal é usar
linha de ar.
A equipe de exploração deve levar consigo lanternas, HT, bengala de
cego, cabo da vida e luvas de PVC resistentes à abrasão.
Podem ocorrer acidentes com a equipe no interior da galeria, portanto,
equipamentos como máscaras autônomas, EPI, bengala de cego, cabo guia e
lanternas devem estar à mão também para a equipe externa, prontos para uso caso
ocorra um imprevisto, para o qual o próprio comandante de guarnição deve estar
atento.
Para explorar uma galeria é obrigatório que a entrada seja realizada
com, no mínimo, dois bombeiros, os quais deverão estar ancorados com cabo da
vida a uma distância de 5 passos. Essa distância é necessária porque um
bombeiro pode se acidentar em alguma armadilha de superfície, daí o seu
companheiro deve ter uma distância razoável para não sofrer o mesmo infortúnio,
podendo firmar-se e resgatar o acidentado.
Durante o trajeto, a equipe de exploração manterá contato verbal, de
preferência, passando, constantemente, informações à equipe externa (a cada 50
m ou a cada tampa). Quando se depararem com alguma bifurcação ou obstáculo
difícil devem avisar, imediatamente, a equipe externa, se for necessário,
retornando a tampa anterior. O contato por rádio, muitas vezes, é ineficiente, podendo ser
substituído por sinais sonoros desde que sejam conhecidos por todos os
elementos da guarnição.
A forma de se retirar vítimas ou cadáveres será objeto de estudo de
outros procedimentos operacionais, porém é imprescindível colocar o colar
cervical na vítima. Quando o ambiente for considerado impróprio para a
respiração, fazer a ventilação forçada pelo PV mais próximo e colocar o capuz
de fluxo constante de ar. O mais recomendado quando a vítima está com risco
iminente de vida é, depois de colocar o colar cervical, fazer a retirada por
intermédio de cadeira (nó de balso) com arremate no peito.
Identificando-se qualquer ferimento ocorrido dentro da galeria,
deve-se tratá-lo de forma especial, pois o ambiente é muito contaminado, como
já citado anteriormente, uma vez que existem grandes chances de infecção;
portanto, o bombeiro deve ser encaminhado a um pronto socorro a fim de receber
o tratamento adequado.
O material estará também contaminado, necessitando ser descontaminado e limpo corretamente.
A guarnição deverá também, o quanto antes, se lavar e colocar uma
roupa limpa para evitar a contaminação de outras pessoas e de outros locais,
estando sempre apta a atender uma nova ocorrência.
Instalações subterrâneas
Sabe-se que uma instalação subterrânea não possui ventilação natural e
contém ou produz agentes contaminantes. Para reconhecermos tal espaço, é
preciso conhecer o potencial de riscos desses ambientes, produtos, e atmosfera.
Os riscos atmosféricos: uma ventilação
deficiente propicia, além da deficiência de oxigênio, o acúmulo de gases
nocivos, principalmente, o H2S (gás sulfídrico) e o CO (monóxido de carbono),
que são responsáveis por 60% das vítimas dos acidentes em ambientes confinados.
Os principais contaminantes que se encontram presentes no local
simultaneamente são:
Oxigênio (O2): a ausência de
oxigênio é a maior incidência de acidentes fatais, provoca a asfixia,
caracterizada pela presença de gases e/ou vapores que deslocam o oxigênio/ar
transformando a atmosfera de seres vivos. Além disso, as operações de fusão de
materiais, além de contaminarem (fumos metálicos de chumbo, estanho e outras
ligas), consomem oxigênio do ar, propiciando também, dessa forma, condições
insalubres de risco grave e iminente na forma das prescrições legais
brasileiras e internacionais.
Monóxido de carbono (CO): é um gás que,
por não possuir odor e cor, pode permanecer muito tempo em ambientes
confinados, sem que o ser humano tome as providências adequadas em termos de
exaustão e ventilação se expondo aos seus riscos. O seu limite de tolerância é
de 39 ppm e o trabalhador poderá sentir dor de cabeça a 200 ppm; palpitação a
1000-2000 ppm; inconsciência a 2000-2500 ppm; e a morte a 4000 ppm.
Os EPIs a serem adotados são: roupa/luva de PVC, máscara autônoma ou
com filtro para CO.
Os agentes extintores são: PQS ou CO2. A água pode reagir, provocando
fervura.
Gás sulfídrico (H2S): é um dos
piores agentes ambientais, justamente pelo fato de que, em concentrações médias
e superiores, o nosso sistema olfativo consegue detectar a sua presença (cheiro
de ovo podre).
Concentrações deste gás não são muito difíceis de se encontrar em
galerias, túneis, valas, pântanos e similares, podendo levar à morte. Esse gás
pode causar irritações a 50-100 ppm; problemas respiratórios a 100-200 ppm;
inconsciência a 500-700 ppm; e a morte acima de 700 ppm. É um gás mais pesado
que o ar e tende, normalmente, a se depositar nas galerias, valas, subsolos e
demais locais, onde a circulação de ar é deficiente ou inexistente.
Os EPIS a serem adotados são: roupa/luva de PVC, máscara autônoma ou
com filtro para H2S.
Os agentes extintores são: PQS, CO2 ou água.
Atualmente, uma das maiores preocupações das agências ambientais e da
Defesa Civil são as infiltrações advindas de vazamentos dos reservatórios enterrados de gasolina, óleo diesel e
outros derivados de petróleo, que, nessas circunstâncias, fluem para o lençol
freático contaminando galerias, sistemas de esgoto, valas, poços e demais
braços d’água e transformando esses locais em ambientes propícios às explosões
seguidas de incêndios, com grande probabilidade de extensão/propagação dos danos.
Acidentes fatais ocorridos no exterior e no Brasil revelam o total
despreparo das pessoas e entidades para trabalhos no interior de instalações
subterrâneas. Mostram-nos também que a negligência é um fator freqüente para
contribuir para as causas básicas dos acidentes, agravada pela não preparação
do ambiente para a entrada e permanência e pelo não uso de equipamentos de
proteção individual apropriado. A falta de um sistema escrito de permissão para
entrada em ambientes confinados é o grande responsável pela maioria dos
acidentes ocorridos nesses locais com socorristas.
Deve ser lembrado que, em acidentes desse tipo, para cada vítima fatal, há sempre, no mínimo, mais uma ou duas com lesões
menores, que, graças a diversos fatores como socorro imediato, maior
resistência orgânica, menor carga tóxica absorvida, conseguem se restabelecer
após algum tempo em recuperação hospitalar.
Assim, podemos facilmente concluir que um espaço confinado pode
ceifar, de uma só vez, várias vidas, dependendo do grau de imprudência e
imperícia dos envolvidos.
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