13 novembro 2012

CAPÍTULO 19 - Ancoragens ( Materiais e Instruções Técnicas ) - Artificiais - Pitons - Emportadores (entaladores) - Mecânicos - Agarras (castanhas) - Mecanismo do efeito polia - Friend



Ancoragens artificiais

Chamamos de ancoragens artificiais todos aqueles elementos que fixamos em uma parede ou em uma rocha para assegurarmos e/ou ancorarmos uma corda, para descender. Hoje em dia, a qualidade e quantidade de instrumentos de ancoragem é muito grande, porém, de pouco vale uma ancoragem sofisticada e de grande resistência, se, em sua colocação, ela contém erros básicos que podem debilitar ou torná-la perigosa. Analisaremos esses possíveis erros para saber como otimizar a resistência dessas ancoragens.


Materiais e instruções técnicas

1) Pitons
É o sistema de ancoragem mais antigo e hoje sua utilização é bastante desprezada em virtude da existência de mecanismos mais modernos, rápidos e cômodos, que não deterioram as rochas.

Existe uma variedade de formas e modelos para utilização segundo o ângulo e a fissura, porém a diferença essencial é o material com que eles são fabricados. Os pítons flexíveis são de aço doce e os duros de aço cromo-molibdênio. Este último é o mais resistente e recomendado, já que, por sua rigidez, atua como alavanca e sua recuperação é mais fácil.

Os pítons flexíveis, por sua pouca resistência e duração, devem ser utilizados somente em rochas brandas com fissuras bem retorcidas, nas quais os duros não entrariam e destruiriam as gretas.

A resistência desses materiais é muito diversificada e depende de muitos fatores, porém só os pítons duros e bem colocados em fissuras horizontais têm grande resistência, equiparados a outras ancoragens.

A correta colocação a marteladas em um píton não representa problema algum na prática. Normalmente, um som cada vez mais agudo acompanha os sucessivos golpes, se diz que o píton “canta” um som diferente, surdo ou vibrante não é um bom sinal. (figura 441)


Precauções:

- tente colocá-los encaixados nas gretas, assim se consegue um maior rendimento. De igual modo, o píton deve ter a maior superfície possível de contato com a rocha.

- não coloque pítons para fissuras horizontais em fissuras verticais e vice-versa, já que a torção que produz na orelha poderá rompê-lo. Igualmente respeite a posição correta da orelha.

- quando não conseguir introduzir todo o píton, coloque uma fita ou cordelete com o nó pata de gato ou fiel na base do píton, o mais próximo possível da rocha para reduzir o braço da alavanca.

- desconfiar dos pítons é bastante normal. O tempo pode torná-los debilitados e oxidados e as dilatações das rochas podem afrouxá-los.  Não utilizem as ancoragens permanentes em vias de escolas devido a essas debilitações. Em montanha alta, os pitons devem ser revisados antes de sua utilização.

- atenção nos casos em que forem colocados vários pítons na mesma laje: o efeito de expansão poderá afrouxar os que foram implantados anteriormente.




2) Emportadores (entaladores):
Tão simples quanto eficaz, essas cunhas metálicas se encaixam normalmente entre as fissuras, daí serem chamadas também de fissureiros. São fabricados em diversos modelos e tamanhos e os que lhe diferenciam são os desenhos das cunhas, desde a primitiva forma de pirâmide truncada aos excelentes e modernos desenhos com frentes curvas e complexas que se adaptam e entalam com grande facilidade.

Sua facilidade de colocação e extração faz com que substituam os pítons. A resistência é diferenciada dependendo do tamanho e da colocação. Sua eficiência torna-se maior quanto maior a superfície que o entalador estiver em contato com a rocha e, quanto mais conhecida e hipotética tensão estiver ligada diretamente com a direção, mais aumenta a possibilidade de a peça se entalar mais ainda. Para aumentar sua eficiência ao colocá-los em uma fissura, exerça um suave puxão, para que se acomode melhor na fissura e impeça que saia com demasiada facilidade.

A extração poderá ser problemática, porém será conveniente trabalhar com o saca-fissureiros, que não é nada além de um utensílio metálico robusto e suficientemente grande para manipular e desentalar as peças do interior das fissuras.

Existem alguns modelos de entaladores diferentes aos das cunhas em que o seu entalamento se produz com o tri-cam ou auxiliado (excêntrico) por efeito de rotação e expansão. Esses entaladores, se bem colocados de maneira convencional, oferecem uma grande vantagem, quando em fissuras com ângulos variados e em lugares onde qualquer outro importador (entalador) seria eficaz.

Requerem mais experiência em sua colocação e, como regra geral, a fita ou cordelete que os equipam devem cair ao lado da greta (fissura) de maneira que, ao receber tração, se entale mais ainda. São os percussores de dispositivos mecânicos (figura 442).

Os emportadores com marca UIAA são gravados com um a quatro asteriscos que correspondem à resistência.

* mínimo 5 KN
** mínimo 10 KN
*** mínimo 15 KN
**** mínimo 20 KN



Precauções:

A desvantagem dos importadores (entaladores) frente aos pítons é a sua unidirecionalidade, pois a sua máxima resistência só se consegue em uma só direção e sentido.

Esse aspecto terá de ser levado em conta sempre que for entalá-los, pois um emportador muito bem entalado, a princípio, poderá não ser seguro quando se progride, pois a tensão e movimentos realizados com a corda podem sacá-lo de seu entalamento ou a direção da queda não coincidir com o seu sentido e, sobretudo, quando a corda realizar zigue-zagues em seu percurso.

Esses inconvenientes serão solucionados com o emprego de fitas maiores para amenizar os movimentos e tensões dadas na corda sobre o emportador (entalador), como também podem contribuir para o bom deslizamento da corda e direcionar melhor o seu sentido. As fitas devem ser colocadas completas, com dois mosquetões como em qualquer ancoragem (figura 443). Recordemos que não se deve empregar simplesmente um mosquetão, pois diminui a resistência de uma fita de forma perigosa. Em outros casos como em travessias, os fissureiros, como são assim chamados, quando colocados em posições pouco habituais, não são suficientes com fitas maiores: terão de recorrer, conectando ao emportador uma outra ancoragem suplementar (outro emportador entalador), “friend” etc. Os pontos mais importantes onde é necessária essa precaução são nas mudanças de direção (figura 444).



Quanto ao sistema que empregamos para esses emportadores, teremos de levar em conta que não é o mesmo quando um importador se submete a outro, servindo como polia para o outro. Que os esforços que suportarão serão muito diferentes (fenômeno chamado de efeito de polia).

Veja os desenhos (figuras 445 e 446).




3) Emportadores (entaladores) mecânicos:
As possibilidades, velocidade e segurança em escalada vão  aumentando, consideravelmente, graças a esses artifícios que são colocados e extraídos rapidamente com uma só mão, graças ao mecanismo incorporado. Podem ser colocados em fissuras completamente paralelas, inclusive mais abertas.

É verdadeiramente surpreendente a quantidade de mecanismos desse tipo que dispomos hoje em dia. Essencialmente, existem dois tipos: os de expansão por agarras serrilhadas (como o popular friend); e os de cunhas deslizantes os quais são como dois emportadores opostos.

Poucos mecanismos desse tipo têm homologação UIAA, porém, nesse caso, levam grados, tendo a mesma simbologia de asteriscos que os emportadores levam.


Mecanismos de expansão por agarras (castanhas)
Popularmente conhecidos com o nome do primeiro mecanismo já fabricado (“friend”), seu desenho permite que a tração exercida se converta em uma grande força de expansão com as agarras (castanhas). Estas foram desenhadas de tal forma que os pontos de contato com a rocha, com um perfil de curva, se alojem, cada vez mais, no seu centro de rotação. Assim se consegue que o efeito de apertura alcance cinco vezes mais o valor de força inicial, conseguindo um entalamento excepcional. (figura 447)

Sua utilização não é complicada, requer simplesmente um certo hábito. São fabricados com quatro, três e duas agarras (castanhas), com afastador rígido ou com cabo flexível, sendo este último mais aceitável, já que eliminam alguns inconvenientes como veremos a seguir.


Precauções:

- devido à poderosa força expansiva antes citada, desconfie da resistência desses mecanismos em gretas formadas por lajes débeis e blocos soltos.

- as agarras trabalham independentemente para conseguir um maior apoio e estabilidade, uma resistência boa se conseguirá quando todas as agarras (castanhas) apoiarem-se na rocha em um ponto édio de seu perfil.

- não precisa colocá-los com as agarras completamente cerradas, pois isso anulará o efeito expansivo, o que pode tornar impossível a sua retirada posteriormente.

- utilize, se necessário, uma talha menor.

- não os coloque com as agarras (castanhas) completamente abertas (utilize uma talha menor), já que não podem fazer o efeito expansivo e a peça atuaria somente como um emportador. Dessa forma, a estrutura dos mecanismos convencionais não suporta carga, com exceção do excelente modelo “camalot” que, pela disposição dos seus dois eixos na cabeça, pode atuar completamente aberto como um emportador passivo.

- o comportamento desses mecanismos é igual aos emportadores, devem ser considerados igualmente unidirecionais, pesam a sua boa tolerância em fissuras regulares. Seguem as mesmas precauções explicadas para evitar que se desbloqueiem ou soltem.

- as fitas compridas são aqui duplamente interessantes, primeiro pela sua função análoga aos emportadores em evitar que se desbloqueiem, e, segundo, para evitar que se desloquem dentro da fissura por efeito de movimento do braço, diz-se que “caminham”. Isso não só é perigoso por deslocar seu interior, como também poderão tornar difícil a sua recuperação.

- as fissuras oblíquas e horizontais são outro problema, já que o efeito de alavanca sobre o braço pode dobrá-lo e rompê-lo.

- os modelos com os braços de cabo flexível solucionam esse inconveniente, não se pode esperar o mesmo dos que têm braços rígidos. Uma solução é utilizar um cordelete de kevlar enfiado em um dos orifícios superiores do braço; esse cordelete deverá ser mais curto que o original, no qual também passaremos o mosquetão servindo de segurança, se, por acaso, esse cordelete se romper.

- na teoria, os emportadores de expansão por agarras podem trabalhar em fissuras mais abertas sentido abaixo, sempre com os pontos de contato das agarras (castanhas). Com a rocha, permaneçam por baixo da linha horizontal que passa pelo eixo do “friend”, e fazem com que exista um ângulo de incidência positivo. Ser prudente não é o bastante nessa situação, já que a sua eficácia depende muito do tipo de rocha e a fricção que ofereça.








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