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05 novembro 2012

CAPÍTULO 11 - RESGATE EM AMBIENTE CONFINADO - Procedimentos básicos - Mapas ou projetos das galerias - Condições meteorológicas - Sequência das operações e procedimentos - Instalações subterrâneas - Riscos atmosféricos - Oxigênio - Monóxido de carbono (limite de tolerância de 39 ppm à 4000 ppp = MORTE) - Gás sulfídrico


RESGATE EM AMBIENTE CONFINADO


Procedimentos Básicos
Medidas preliminares são adotadas antes do início da operação para dar maior segurança ao bombeiro, facilitando o serviço e, ao mesmo tempo, proporcionando maior rapidez durante a sua execução.

Mapas ou projetos das galerias
O ideal seria que tivéssemos os projetos das galerias a mão para o uso, principalmente em ocorrências de emergência, mas essa não é a nossa realidade. O projeto da galeria permite conhecer as diversas ramificações encontradas no seu interior, bem como onde se localiza o seu ponto inicial e se há desembocadura em uma galeria principal ou mesmo num rio, além de demarcar os pontos de fuga.

Condições meteorológicas
Antes de iniciar uma operação em uma galeria é imprescindível que se saiba as condições meteorológicas, para que a guarnição não seja surpreendida no seu interior pelas águas provenientes das chuvas. Para que uma galeria de determinado local se inunde, não será preciso que chova somente ali. Se chover em um local distante e a galeria desse bairro desembocar na galeria que se está operando, esta ficará inundada. Por esse motivo, é necessário que as condições meteorológicas sejam analisadas em toda a região, porque durante a operação o tempo poderá mudar e, somente em situações emergenciais, e mesmo assim, adotando-se uma série de medidas de segurança, é que se pode entrar numa galeria quando há chuvas a menos de 10 km de distância. Poderá ocorrer também que numa determinada cidade sem galerias chova, havendo desnível, a água correrá pelas ruas até encontrar uma boca-de-lobo e pode inundar a galeria da cidade onde não esteja chovendo.

Além dos sinais normais de chuvas como as nuvens cinzentas e baixas, outras observações podem ser feitas como a velocidade do vento medida pelo deslocamento das nuvens no céu; a coloração das águas dos rios próximos (quando estiverem avermelhadas, indicam chuvas ocorrendo no leito do rio).


Seqüência das operações e procedimentos
Estacione a viatura segundo a técnica ou doutrina específica, na zona restrita e de forma a oferecer proteção à equipe que trabalhará no PV da galeria, isso significa estacionar a viatura antes da tampa, a fim de proporcionar proteção física à guarnição. A maioria dos PVs de galeria fica justamente nas vias de trânsito, bem no meio da pista, sendo as de maior vazão sob avenidas e vias de trânsito rápido, o que faz do estacionamento um procedimento importantíssimo. Determine qual tampa a ser aberta poderá evitar acidentes e proporcionar maior segurança às equipes. As tampas mais próximas da calçada e em ruas tranqüilas têm preferência sobre as demais, principalmente em casos não emergenciais.

No momento da chegada no local da ocorrência, o comandante do socorro ou chefe de guarnição deverá verificar se realmente há fortes indícios de que a vítima tenha entrado na galeria ou tenha sido arrastada pela correnteza. Essas informações determinarão o caráter emergencial ou não da exploração. Informações obtidas com familiares são mais confiáveis e podem indicar que a pessoa já tenha sido encontrada.

De posse de informações concretas da ocorrência, o comandante de guarnição deverá informar ao centro de operações, confirmando a natureza da ocorrência e solicitando apoio se necessário. Nesse ato, o comandante deverá solicitar também informações meteorológicas na região e se está chovendo a menos de 10 km do local. Havendo chuva a menos de 10 km é proibido percorrer a galeria. Somente é permitido descer pela escada, até a altura da água e fazer uma exploração visual, sempre preso ao cabo guia. Mesmo que a galeria esteja seca não é permitido se distanciar a mais de 20 metros da tampa, sempre ancorado com cabo guia.

A galeria, normalmente, possui uma lâmina de água, a qual pode aumentar, repentinamente. Nesse nível saia imediatamente. A ocorrência de som característico e de vento no interior da galeria também determina a saída imediata.

Havendo chuva na região, o comandante do socorro ou chefe de guarnição deverá verificar se os rios próximos estão cheios, pois a água do rio pode encher as galerias. Solicite ao centro de operações informações periódicas do tempo.

O primeiro procedimento é o de verificar externamente por onde corre a galeria e abrir duas tampas no sentido que se deseja percorrer, sendo um caso de procura de cadáver o sentido a ser seguido é o de declive. O objetivo desse procedimento é ventilar o local antes da entrada da guarnição e permitir a referência da iluminação da tampa aberta para a guarnição de exploração.

Uma vez identificada a direção e o sentido a ser percorrido, pode-se então reavaliar o primeiro estacionamento feito e corrigi-lo, se necessário.

É importante abrir sempre duas tampas, uma por onde a guarnição deverá entrar e outra à frente servindo como referência para o sentido a ser seguido, ponto de fuga e ventilação. Sempre existirão duas tampas abertas. Uma por onde a guarnição acabou de passar e outra por onde a guarnição, obrigatoriamente, passará. Antes de se fechar uma tampa, uma outra deve ser aberta antes, ou seja, abre-se a terceira tampa e só depois se fecha a primeira.

Para abrir a tampa é necessário, muitas vezes, retirar algumas placas de asfalto que ficam aderidas. Muitas até chegam a estar parcialmente concretadas ou recobertas de asfalto. Após utilizar duas picaretas colocadas nos orifícios da tampa, com duas pessoas, faça uma alavanca com essas ferramentas para girar a tampa no sentido indicado pela seta, destravando-a. Uma vez destravada, utiliza-se também as picaretas, a tampa poderá ser levantada.

Esse processo pode ser demorado e a guarnição de exploração não pode seguir em frente sem que as tampas estejam abertas. É imprescindível que a guarnição de exploração aguarde a abertura das tampas para a sua própria segurança.

É importante também que as tampas sejam novamente colocadas no lugar e devidamente travadas, pois, se não forem, em dias de chuva a força das águas pode levantar as tampas e, com isso, ocorrerão novos acidentes, tanto de pessoas que podem ser arrastadas para o interior da galeria, quanto acidentes de trânsito.

Antes da entrada, deverá ser monitorado o ambiente interno da galeria com os equipamentos disponíveis (explosímetro, oxímetro ou detector de gases), não havendo esses equipamentos, pode-se presumir algo por meio de odores característicos. Havendo indícios de gases tóxicos, irritantes ou inflamáveis, não corra riscos desnecessários, solicite a viatura que contenha tais medidores. Não podendo ser medida a porcentagem de oxigênio, considera-se inferior a necessária para a respiração, então o uso de EPR será obrigatório. É importante lembrar que alguns gases são inodoros, mas tóxicos; que o efeito de muitos deles pode ser sonolência ou sensação de cansaço, portanto, não se arrisque, qualquer sintoma adverso saia da galeria.

Lembre-se, antes de entrar, faça ventilação.

Havendo indícios de contaminação da atmosfera por gases ou mesmo por falta de oxigênio, uma boa opção é a de fazer uma ventilação forçada valendo-se de um exaustor, com o qual se fará, inicialmente, a ventilação do local por onde a guarnição entrará e, em seguida, essa ventilação será feita a duas tampas à frente no sentido de deslocamento da guarnição de exploração. Se a guarnição localizar alguma pessoa com vida no interior da galeria, esse tipo de ventilação será importante.

A ventilação utilizada será sempre a de pressão positiva, a qual deverá ser colocada a extremidade da manga junto à entrada.

A regra será de manter duas tampas abertas quando for usada somente a ventilação natural e de manter sempre três tampas abertas quando for usada a ventilação forçada. Nesse caso, a primeira tampa será por onde a guarnição deverá entrar, sendo feita uma ventilação primária enquanto a guarnição se prepara; a segunda, como ponto de fuga e referência pela luz que vem da superfície e que não pode ser coberta pela manga do exaustor impedindo a referência da equipe de exploração, devendo então ser aberta uma tampa à frente; a terceira, para se fazer a ventilação forçada renovando-se o ar por onde a equipe irá passar.

Equipe-se com EPI necessário (bota cano longo, capa de bombeiro, capacete adequado). Para a entrada deve ser colocada somente a máscara facial do EPR pedindo a ajuda de outro bombeiro para descer o cilindro de ar, pois com o equipamento colocado nas costas se torna muito difícil a passagem pela tampa.

Nas galerias onde não será necessário um grande deslocamento, recomenda-se o uso de linha de ar que facilite a entrada e a saída através dos PVs. Em espaços confinados de diâmetros reduzidos onde somente uma pessoa consegue passar, é recomendado o uso de linha de ar.

Existe o risco de eletrocussão nas estações elétricas subterrâneas que pode ser agravado pelo uso de equipamento autônomo de proteção respiratória. Nesse caso, o cilindro de ar que fica nas costas do usuário além de dificultar o seu equilíbrio, também aumenta o seu diâmetro, o que prejudica a sua noção de espaço podendo encostar-se em algum ponto energizado. Em razão disso, se torna muito perigoso entrar numa galeria com o cilindro nas costas. O ideal é usar linha de ar.

A equipe de exploração deve levar consigo lanternas, HT, bengala de cego, cabo da vida e luvas de PVC resistentes à abrasão.

Podem ocorrer acidentes com a equipe no interior da galeria, portanto, equipamentos como máscaras autônomas, EPI, bengala de cego, cabo guia e lanternas devem estar à mão também para a equipe externa, prontos para uso caso ocorra um imprevisto, para o qual o próprio comandante de guarnição deve estar atento.

Para explorar uma galeria é obrigatório que a entrada seja realizada com, no mínimo, dois bombeiros, os quais deverão estar ancorados com cabo da vida a uma distância de 5 passos. Essa distância é necessária porque um bombeiro pode se acidentar em alguma armadilha de superfície, daí o seu companheiro deve ter uma distância razoável para não sofrer o mesmo infortúnio, podendo firmar-se e resgatar o acidentado.

Durante o trajeto, a equipe de exploração manterá contato verbal, de preferência, passando, constantemente, informações à equipe externa (a cada 50 m ou a cada tampa). Quando se depararem com alguma bifurcação ou obstáculo difícil devem avisar, imediatamente, a equipe externa, se for necessário, retornando a tampa anterior. O contato por rádio, muitas vezes, é ineficiente, podendo ser substituído por sinais sonoros desde que sejam conhecidos por todos os elementos da guarnição.

A forma de se retirar vítimas ou cadáveres será objeto de estudo de outros procedimentos operacionais, porém é imprescindível colocar o colar cervical na vítima. Quando o ambiente for considerado impróprio para a respiração, fazer a ventilação forçada pelo PV mais próximo e colocar o capuz de fluxo constante de ar. O mais recomendado quando a vítima está com risco iminente de vida é, depois de colocar o colar cervical, fazer a retirada por intermédio de cadeira (nó de balso) com arremate no peito.

Identificando-se qualquer ferimento ocorrido dentro da galeria, deve-se tratá-lo de forma especial, pois o ambiente é muito contaminado, como já citado anteriormente, uma vez que existem grandes chances de infecção; portanto, o bombeiro deve ser encaminhado a um pronto socorro a fim de receber o tratamento adequado.

O material estará também contaminado, necessitando ser descontaminado e limpo corretamente.

A guarnição deverá também, o quanto antes, se lavar e colocar uma roupa limpa para evitar a contaminação de outras pessoas e de outros locais, estando sempre apta a atender uma nova ocorrência.


Instalações subterrâneas
Sabe-se que uma instalação subterrânea não possui ventilação natural e contém ou produz agentes contaminantes. Para reconhecermos tal espaço, é preciso conhecer o potencial de riscos desses ambientes, produtos, e atmosfera.

Os riscos atmosféricos: uma ventilação deficiente propicia, além da deficiência de oxigênio, o acúmulo de gases nocivos, principalmente, o H2S (gás sulfídrico) e o CO (monóxido de carbono), que são responsáveis por 60% das vítimas dos acidentes em ambientes confinados.


Os principais contaminantes que se encontram presentes no local simultaneamente são:

Oxigênio (O2): a ausência de oxigênio é a maior incidência de acidentes fatais, provoca a asfixia, caracterizada pela presença de gases e/ou vapores que deslocam o oxigênio/ar transformando a atmosfera de seres vivos. Além disso, as operações de fusão de materiais, além de contaminarem (fumos metálicos de chumbo, estanho e outras ligas), consomem oxigênio do ar, propiciando também, dessa forma, condições insalubres de risco grave e iminente na forma das prescrições legais brasileiras e internacionais.

Monóxido de carbono (CO): é um gás que, por não possuir odor e cor, pode permanecer muito tempo em ambientes confinados, sem que o ser humano tome as providências adequadas em termos de exaustão e ventilação se expondo aos seus riscos. O seu limite de tolerância é de 39 ppm e o trabalhador poderá sentir dor de cabeça a 200 ppm; palpitação a 1000-2000 ppm; inconsciência a 2000-2500 ppm; e a morte a 4000 ppm.

Os EPIs a serem adotados são: roupa/luva de PVC, máscara autônoma ou com filtro para CO.

Os agentes extintores são: PQS ou CO2. A água pode reagir, provocando fervura.


Gás sulfídrico (H2S): é um dos piores agentes ambientais, justamente pelo fato de que, em concentrações médias e superiores, o nosso sistema olfativo consegue detectar a sua presença (cheiro de ovo podre).

Concentrações deste gás não são muito difíceis de se encontrar em galerias, túneis, valas, pântanos e similares, podendo levar à morte. Esse gás pode causar irritações a 50-100 ppm; problemas respiratórios a 100-200 ppm; inconsciência a 500-700 ppm; e a morte acima de 700 ppm. É um gás mais pesado que o ar e tende, normalmente, a se depositar nas galerias, valas, subsolos e demais locais, onde a circulação de ar é deficiente ou inexistente.

Os EPIS a serem adotados são: roupa/luva de PVC, máscara autônoma ou com filtro para H2S.

Os agentes extintores são: PQS, CO2 ou água.

Atualmente, uma das maiores preocupações das agências ambientais e da Defesa Civil são as infiltrações advindas de vazamentos dos reservatórios enterrados de gasolina, óleo diesel e outros derivados de petróleo, que, nessas circunstâncias, fluem para o lençol freático contaminando galerias, sistemas de esgoto, valas, poços e demais braços d’água e transformando esses locais em ambientes propícios às explosões seguidas de incêndios, com grande probabilidade de extensão/propagação dos danos.

Acidentes fatais ocorridos no exterior e no Brasil revelam o total despreparo das pessoas e entidades para trabalhos no interior de instalações subterrâneas. Mostram-nos também que a negligência é um fator freqüente para contribuir para as causas básicas dos acidentes, agravada pela não preparação do ambiente para a entrada e permanência e pelo não uso de equipamentos de proteção individual apropriado. A falta de um sistema escrito de permissão para entrada em ambientes confinados é o grande responsável pela maioria dos acidentes ocorridos nesses locais com socorristas.

Deve ser lembrado que, em acidentes desse tipo, para cada vítima fatal, há sempre, no mínimo, mais uma ou duas com lesões menores, que, graças a diversos fatores como socorro imediato, maior resistência orgânica, menor carga tóxica absorvida, conseguem se restabelecer após algum tempo em recuperação hospitalar.

Assim, podemos facilmente concluir que um espaço confinado pode ceifar, de uma só vez, várias vidas, dependendo do grau de imprudência e imperícia dos envolvidos.




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